Capítulo VII

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Trotando devagar, Lady Afrodite já estava acostumando-se com Anabete e ela quase não sentiu-se desconfortável ao lado do homem que tanto temia. De vez em quando ela o flagrava a olhando de soslaio, mas Robert voltava a se concentrar na paisagem e continuava com a cavalgada. Diana e Rodolfo, que estavam alguns quilômetros a frente, sumiram de vista e quando Anabete deu por falta da amiga, disse:

- Para onde foram a Srta. Montez e o Sr. Borges? - ela ergueu o pescoço, tentando enxergar além das árvores.

- Não se preocupe. Rodolfo conhece bem a propriedade. Não é a primeira vez que a visita. - Robert a acalmou e ela tentou não pensar no que Diana poderia acabar se metendo. Aquela moça tinha um imã para atrair confusão. - Então... domina bem o francês?

- Sim, foi algo necessário. Ou eu aprendia a falar ou morria de fome.

O Sr. Hamilton riu, a surpreendendo, e comentou:

- Estive uma vez em Paris, quando ainda morava em Londres. Não gostei do lugar.

- Os franceses têm certos costumes que são difíceis de apreciar. - Anabete argumentou.

- Ainda tem vontade de ser freira e servir a Deus eternamente? - ele perguntou, a fazendo encará-lo.

- Nunca quis ser freira. Fui para Paris para ter um vida melhor. Depois da morte de minha mãe, meu pai se viu com dificuldades para criar uma filha e me mandou para ficar com seus parentes. No começo foi tolerável, mas depois me colocaram em um convento.

- Foi forçada a isso? - Robert puxou as rédeas de Duque, o fazendo parar, e Anabete fez o mesmo com Lady Afrodite.

- Eu não usaria a palavra forçada. Digamos que precisei aceitar. Sabe, não é tão ruim quanto parece.

Ambos retomaram a cavalgada.

- Realmente me acostumei com a ideia de viver para Deus, nunca casar ou ter filhos, porém meu pai me enviou uma carta, explicou que o senhor precisava de mais criados e pensou que essa seria a oportunidade perfeita para que eu voltasse.

- Seu pai fez bem em chamá-la. - disparou ele olhando para frente. - Gosta de ser dama de companhia?

- Adoro! A Srta. Montez e eu fizemos uma grande amizade. - sorriu. - No convento eu tinha algumas amigas, mas nem se comparam a Srta. Montez. Ela é tão cheia de vida e fala até cansar.

- E por acaso ela cansa de falar? - Robert fez uma piada e ela riu.

- Não, acho que não. - o olhou por um instante e lembrou das cartas. - Ah, Sr. Hamilton, há algo que gostaria de lhe pedir.

- Peça. Se eu puder atendê-la...

- O lugar que mais gosto da sua casa é a biblioteca. - revelou. - E quando quero um pouco de tranquilidade, é para lá que vou. Sem sua permissão pego os livros e os leio durante as horas vagas. Desculpe-me, sei que fiz mal em...

- Há muito que ninguém visita aquele lugar. Os livros estão empoeirados e estragando-se... a senhorita está me fazendo um favor indo até lá. - disse ele. - E eu já sabia que a senhorita estava pegando os livros. Sempre a vejo com um romance nas mãos, logo juntei as peças.

Anabete sentiu o rubor subir por seu pescoço até as bochechas. Estava vermelha e baixou a cabeça para que Robert não notasse. Foi em vão.

- Perdoe-me por isso. - sua voz era quase um sussurro.

- Srta. Moreira, pode usar a biblioteca sempre que quiser e não precisa de permissão para pegar os livros.

- Obrigada, Sr. Hamilton. - ela sentiu como se um peso estivesse saindo de suas costas. - Obrigada.

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