A Catedral de Saint Vincent

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Dei de ombros, embora ainda não conseguisse olhar diretamente para o homem à minha frente sem tremer. O jeito era continuar negando e torcer para que ele acreditasse em mim.

─ N-não sei do que o senhor está falando.

─ Sabe, sabe sim. ─ afirmou com o dedo em riste. ─ Tommy me contou que os encontrou no West Park, assistindo juntos à queima de fogos. Não sei o que é mais deplorável... ─ Ele deu uma risada ­─, o fato de ter me desobedecido ou o seu mau gosto. Já olhou bem para aquela garota? Seu fraco pela ralé é enervante.

Meus punhos se cerraram, os braços retesados ao longo do corpo ficando pesados e a respiração ofegante. Por um momento quis esquecer que ele era meu pai e  revidar, bater de frente ao menos uma vez.

─ Eu não fiz nada demais. Estava vendo os fogos, depois que o senhor me mandou sumir da sua frente, e ela apareceu. O que esperava que eu fizesse? Desse-lhe um pontapé no traseiro? Fugisse com o rabo entre as pernas como um cão covarde?

─ Não brinque comigo, Rigel. Pouco me importam os meios utilizados, contanto que o fim alcançado seja o que eu determinei. Não o quero perto daquela garota. Mantenha distância, eu já disse, aquela gente não vale o chão sujo de esterco que pisa. Você é um Stantford, aja como um.

Ele havia abaixado a voz e sua mão descansava em meu ombro. Parecia não mais bravo, mas pensativo. Meu pai quase nunca sorri, eu estou habituado a isso, embora sinta falta de um pouco de bom humor entre estas paredes. Mas no momento, algo como uma nuvem negra pairava sobre a sua cabeça, endurecendo suas feições de forma desconcertante.

─ Eu não quero o seu mal, Rigel, estou apenas tentando evitar um desconforto maior no futuro. Nunca subestime a capacidade do ser humano de mentir e enganar, as pessoas nem sempre são o que aparentam ou dizem ser. Acredite em mim, a hipocrisia e maldade humana são capazes de provocar espanto até no mais terrível dos demônios.

Eu não fazia ideia de onde exatamente ele pretendia chegar com aquele discurso. Mas balancei a cabeça concordando com suas palavras. Refutar seria perda de tempo, e eu sei que tempo é uma coisa da qual meu pai quase nunca dispõe.

─ Fique longe daquela garota. ─ Ele apertou meu ombro, e um sorriso indecifrável perpassou seu rosto. ─ É o melhor que pode fazer por si mesmo e, não obstante, por ela.

Meus olhos se estreitaram, a respiração se tornou mais urgente. Não dava para acreditar naquilo. Era tão absurdo.

─ Isso é uma ameaça? ─ Minha voz saiu trêmula.

─ Digamos que é um aviso que, para o bem de todos, você não vai querer ignorar. ─ Forcei uma risada vazia de humor, ignorando seu olhar mordaz sobre mim. Ele sentou numa poltrona e cruzou as mãos sob o queixo. ─ Ela é bolsista, não é? ─ Engoli em seco. O fato de Viola Beene ser bolsista só facilitaria as coisas para ele caso decidisse chutá-la do Madison. Assim como no resto do Planeta, em Madison Place dinheiro e nome ditavam as regras. Meu pai não hesitaria em subornar quem quer que fosse para alcançar seu objetivo, e o sr. Prescott, como bom pseudo-moralista e hipócrita que é, não pensaria duas vezes antes de aceitar. ─ Não vai me responder?

─ Eu não faço ideia. ─ disse num sussurro. Não ia participar daquilo.

─ Tudo bem, foi uma pergunta tola de qualquer forma, é  evidente que a garota é bolsista, aquele morto de fome jamais conseguiria pagar um colégio como o Madison. ─ completou com uma risada ardilosa. ─ Bosta de cabrito não é tão rentável. Então, a menos que tenha a intenção de prejudicar aquela coisinha, me obedeça e se afaste dela. ─ Ele ficou de pé, arrumando a gravata, sem desviar o olhar do meu. ─ Eu não estou brincando, Rigel. Não o quero perto daquela garota, ela não é diferente do restante de sua família... Por enquanto, Tommy ficará de olho em você e me manterá informado sobre qualquer...

Viola e Rigel - Opostos 1Where stories live. Discover now