3 - 20 de março de 2016 - parte II

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Liam me estende a mão para me ajudar a subir uma espécie de degrau de pedra particularmente alto. Nós estamos um pouco para trás, mas ainda conseguimos ver Seth e Tricia não muito longe.

Liam os instruiu a não nos perder de vista e ia sempre gritando o sentido que eles deveriam seguir.

Tricia é uma atleta. Ela não faz faculdade e nenhum outro curso, então passa boa parte do tempo na academia, esculpindo o corpo para fazer bonito nas fotos do Instagram. Ela até que faz bastante sucesso por lá com todas as suas poses e looks bonitos.

Mas a verdade é que ela é muito mais do que isso e eu gostaria que ela enxergasse o quanto é especial, sem ter que se preocupar com aparência e toda essa baboseira fútil de ser uma influência digital.

Em nenhum momento eles me apressam. E devo confessar que deveria ter aceitado pelo menos metade das vezes em que Bob me chamou para correr. Mas a verdade é que sou o cúmulo do sedentarismo e minha caminhada mais longa é entre minha casa e a loja de conveniências da esquina.

Então, quando vejo mais alguns degraus dessa mesma dificuldade mais afrente, tenho vontade de chorar. Na verdade, deveria era sentir vergonha pelo meu preparo físico estar tão deplorável assim.

- Vamos, Tina, você consegue. – Liam tenta me encorajar.

Eu sinto músculos que só sabia que existiam por causa das inúmeras noites passadas em claro estudando para as aulas de anatomia.

- Eu prometo que daqui a pouco vai aliviar.

Mas não é como se ele pudesse prometer coisa alguma porque ele mesmo não conhecia o caminho pessoalmente. Diz ele que leu alguns relatos na internet, mas era só isso que ele sabia.

- Não podemos simplesmente voltar?

A pergunta era pra ter sido feita só pra mim, mas alguma coisa em meu cérebro, talvez uma sinapse errada, faz com que eu fale em voz alta.

- Quer parar um pouco e descansar? – Liam pergunta.

Mas ele já assoviou para que Seth e Tricia parassem. Eles não voltam para nos encontrar, mas sentam numa das pedras para se hidratarem e engatam em uma realidade que é só deles, como se não houvesse mais ninguém à volta.

Está bem quente. Talvez esse seja a maior prova de que nada é ruim o suficiente que não possa piorar. E sei que estou sendo muito melodramática, mas estou completamente fora da minha zona de conforto. Eu não acharia ruim se alguém aparecesse gritando "ei crianças, aonde pensam que vão, aqui é proibido acampar".

Mas, a verdade é que nós parecemos ser os únicos seres vivos nessa trilha. Nós e nosso amigo urso que deve estar seguindo todos os nossos passos para ver onde vamos montar a barraca para roubar toda a nossa comida e nos comer depois.

Liam me estende a mão para me ajudar a subir para o patamar que ele está, mas eu escorrego. Tentando não cair de cabeça, ter um traumatismo craniano e sangrar até a morte, eu me agarro nas raízes das árvores. É claro que o peso da mochila é o suficiente para me puxar para trás e, se não fosse a mão de Liam que me segura, eu teria realmente caído.

No processo, uma das raízes corta minha mão e eu tenho vontade de rir quando percebo o olhar nervoso de Liam quando vê o sangue escorrer.

- Tina! – Ele grita e praticamente me ergue até onde está.

- Está tudo bem. – Sorrio. – Foi só um corte superficial. Um band-aid resolve rapidinho.

Com o grito, Seth corre até nós com Tricia em seu encalço.

A Lenda de Noah [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora