─Sim. Você explicou muito bem. Obrigada Tyler.

─Nunca vai ser capaz de construir um avião se não entender isso. – Ela me sorri. Acho que construir um avião não está nos seus planos.

─Você é bom nisso. – July me diz com cara de espanto.

─Acha que o cara pobre de uma gangue não pode saber resolver um simples exercício de matemática pura?

─Eu não disse isso. – Ela fica com um ar triste. Me sinto meio culpado. – É que acho tudo isso difícil. Não tem nada de simples.

─É tarde. Está escurecendo. – Ela fica de pé. Dulce começa a fechar os livros.

─Vou me despedir delas. – July diz caminhando para o quarto sem esperar autorização. Eu a sigo. Fico olhando da porta enquanto ela beija minha avó e Bárbara. Depois segue com sua mochila nas costas em direção a porta. Dulce a segue assim como eu. – Boa noite Tyler.

─Vou levar você. – Aviso. July não parece nem um pouco disposta a recusar a oferta e deixamos a casa. Tranco a porta e acompanho as duas até a casa de Dulce. Elas se despedem com um abraço e depois seguimos os dois em silencio.

─Eu vou para casa a pé. Então não precisa caminhar tudo isso. Pego a quinta avenida que é bem movimentada e atravesso o Central Park.

─Sozinha no parque? Isso é bem estúpido. Está escurecendo. Vamos pela avenida até seu prédio.

Ela não retruca. Continuamos a caminhar. Acho que quer ir a pé só para me obrigar a caminhar com ela. Um taxi não deve ser nada para todo seu dinheiro.

─Desculpe te fazer andar assim. Eu estou sem dinheiro.

─Não estou reclamando. Isso é pela Dulce. Ela cuida da minha irmã todos os dias, não sei como seria sem... – Me calo, não quero conversar com ela sobre as minhas dificuldades.

─A associação aceita idosos e crianças. Pelo menos podiam passar o dia lá e sobraria mais tempo para você procurar emprego. Elas teriam médico, alimentação e atividades...

─Não preciso disso. – Nem posso aceitar. Não com essa droga de marca no braço que deixa claro quem eu sou. Está calor, mas uso mangas longas. Não quero mais que me vejam como um maldito membro de gangue.

─Quer um emprego? Acho que o meu pai...

─Ouvir conversa alheia é mesmo muito errado. Seu grande pai devia ter ensinado isso.

─Foi sem querer. Estava indo colocar a Bárbara na cama. – Ela se defende. Ajeita a mochila nas costas. Parece pesada. Não me ofereço para carregar. Não tenho porcaria de nada com isso.

Duas quadras depois ela volta a falar.

─Meu pai te ajudaria.

─Vou dar um jeito na minha vida sem ajuda. Que merda você tem com isso?

─Penso na sua irmã.

A respiração dela começa a ficar difícil e me lembro dos motivos por que ela passa o dia em casa. Essa doença que tem deve estar ficando forte.

─Se vai me acompanhar pode diminuir o passo? Estou cansada.

Faço o que me pede e começo a caminhar mais lentamente. Isso é torturante. Ter essa garota bonita e cheirosa ao meu lado, ver seu rosto suave todos os dias e pensar como nunca vou chegar aos pés de um Stefanos.

A irritação me dá vontade de sumir. Acendo um cigarro, assim que sopro a fumaça July tosse e toma distância de mim. Trago mais uma vez encarando as pessoas a minha volta. Todos apressados indo para suas casas depois de um longo dia de trabalho. Era tudo que eu queria.

Paixões Gregas - Opostos (Degustação)Where stories live. Discover now