Capítulo 20

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Lana

Eu estava desesperada. Não enxergava absolutamente nada naquele mínimo espaço. Estava no porta malas do carro apenas com uma mordaça na boca, porém, mesmo que minhas mãos estivessem livres, todo o meu esforço para abrir aquela porta era em vão.

Percebi que o carro parou e ouvi o barulho da porta se abrindo, mas para meu alívio provisório, seja lá o que ele fora fazer, não veio em minha direção. Logo após ele sair, passei um longo tempo, — do qual não tinha noção de quanto foi —, procurando alguma maneira de escapar, mas mesmo que me esforçasse, todas as minhas ideias eram frustradas. Estava com a testa encharcada de suor, o desespero começou a aflorar os meus sentidos e não demorou muito para que começasse a chorar, desesperada. Depois de algum tempo, acabei cansando e dormindo ali mesmo, sem lembrar de mais nada.

***


Abri os olhos lentamente, demorou um pouco para que despertasse os meus sentidos e lembrasse onde estava. Não tinha ideia de quanto tempo havia dormido, mas percebi que o carro já estava em movimento. Uma onda de medo percorreu meu corpo, no fundo, eu tinha a esperança de que tudo aquilo fosse um pesadelo, mas não era. Passei um longo tempo tentando encontrar alguma forma de sair dali, mas novamente não consegui pensar em nada. Em um gesto espontâneo, coloquei a mão na cintura e notei que meu celular ainda estava ali, em um bolso escondido no chorte cor da pele que usava por baixo do vestido —, onde costumava  guardar documentos e coisas pessoais, afim de evitar roubos.

Como não pensei nisso antes? Senti uma leve onda de esperança, torcendo para que ainda estivesse com bateria. Tive que me conter para não gritar de emoção quando o celular ligou, então mandei uma mensagem rápida para o Ricardo, torcendo para que ele a visse e achasse a localização antes que fosse tarde. O celular descarregou em seguida, o que me deixou novamente nervosa.

Segui aquele caminho desconhecido pedindo a Deus para que esse homem não me fizesse mal. Sentia muito medo, e junto a esse sentimento, fiquei angustiada ao pensar no que podia ter acontecido a Alice, em como estava o Ricardo e em todos que estavam ali e não mereciam passar por tudo aquilo. Eu me sentia culpada por tudo.

Sempre quis ser uma mulher forte, daquelas que não dá o braço a torcer para ninguém, mas a verdade é que deixei que um homem manipulador controlasse toda a minha vida. E agora que estou aqui nesta situação, vejo que acordei tarde demais.

Quando conheci Richard, vi nele uma esperança de ser feliz novamente e foi assim durante alguns anos. Cursava jornalismo quando o conheci, e ele, era estudante de direito: Um homem bonito, simpático, atraente, sério… via nele o homem perfeito para mim, com a ilusão de que me faria feliz, de que sua experiência de vida faria com que eu, — que era quase uma adolescente —, crescesse e conseguíssemos construir uma vida juntos. Com o passar dos anos, apesar de todos os meus esforços, percebi que ele nunca me amaria como amou Raquel. Ele mostrou-se como realmente é: Um homem extremamente frio, distante, inseguro... e isso só piorou quando o Ricardo saiu de casa. No fundo, Ricardo era uma lembrança de Raquel, e mesmo que ele fosse distante do filho, ter ele por perto era como ter a lembrança dela.

Apesar de tudo, sempre lutei pelo meu casamento. Eles eram a minha família, as únicas pessoas que eu tinha além da minha tia Layla. Além disso, eu me apeguei a Ricardo. Sempre quis ter um filho e ele era como um filho para mim. Sabia o quanto aquele garotinho precisava de mim, o quanto ele se sentia só e de alguma forma, ele me fez permanecer naquela casa. Era muito importante para mim e prometi que nunca o deixaria, promessa que jamais quebraria.

Entretanto, estando aqui nesta situação e depois de tudo que me aconteceu, lembro-me de como poderia ter sido diferente se eu tivesse acordado à tempo. Se realmente percebesse que Richard nunca foi e nem nunca será o homem da minha vida. Se eu tivesse agido diferente e não tivesse envolvido minha tia e pessoas que não mereciam nessa história. Tudo isso era doloroso demais para mim. Perder as pessoas que eu mais amo de formas tão diferentes, era realmente doloroso.

ARCANO    (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora