Capítulo Bônus - Faísca (+18)

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A caminhada já durava dois dias. Eu seguia na frente, o arco em prontidão, e Peeta me seguia de perto, com uma lança nas mãos e um facão preso a cintura caso precisássemos abrir caminho em mata mais densa. Já estive antes com Peeta no meio da floresta, mas nenhuma das vezes foi tão agradável quanto essa.

A primeira grande diferença é que nas primeiras vezes em que nós nos embrenhamos na mata, estavamos ambos nos Jogos Vorazes, local de onde apenas um de nós deveria sair vivo. Desde que a revolução acabou e a Capital foi deposta, nós fizemos algumas caminhadas pela floresta, a maioria indo até o lago onde meu pai me levava quando era criança. Mas eram sempre caminhadas tensas, eu percebia que Peeta não estava totalmente a vontade e ele era ainda muito barulhento, o que arruinava metade da experiência para mim.

Mas agora, depois de dois anos morando na floresta, Peeta está muito mais a vontade. Ele ainda faz bastante barulho enquanto caminha, mas a sua evolução nesse quesito é impressionante. Eu consigo até mesmo caçar se pedir para ele ficar apenas um pouco mais para trás e se mover bem lentamente. Mas talvez a maior evolução seja realmente a opinião dele sobre o ambiente. Antes a floresta era vista como uma ameaça, agora se tornou sua casa. Nossa casa.

Eu faço uma breve pausa para observar ao meu redor. O sol já está praticamente a pino, o que significa que é aproximadamente meio-dia e meu estômago grunhe em concordância. Nós andamos apenas mais alguns metros até encontrarmos um bom ponto para descansarmos. Sentamos à sombra de um grande pinheiro e nos aliviamos do peso das mochilas.

Eu preparo o coelho que consegui pegar mais cedo enquanto Peeta acende uma pequena fogueira. Quando o fogo está aceso, Peeta pega um de seus pães sovados que ele preparou de antemão e nós nos servimos. Quando o coelho fica pronto nós dividimos a carne e eu removo os ossos do meu pedaço para rechear o pão.

- Como será que ela está? - Peeta pergunta, quebrando o harmonioso silêncio que estabelecemos durante a manhã. Apesar de ele não falar, eu sei exatamente de quem ele está falando, pois estou pensando na mesma pessoa.

- Eu tenho certeza que Jennifer está perfeitamente bem. - Eu falo com um sorriso tranquilizador, se para mim ou para ele eu não tenho certeza.

- Eu sei... - Ele responde, também não sei se tentava me convencer ou convencer a si próprio. - Aposto que sua mãe está cuidando perfeitamente bem da netinha e que nós não temos o menor motivo para ficarmos preocupados...

- E ela já está acostumada a passar boa parte do dia com a avó... - Eu completo. - Não é como se tivéssemos deixado nossa filha com uma estranha.

Ele balança a cabeça em concordância e fica em silêncio por um tempo, pensativo, enquanto mastiga seu pedaço de pão com carne de coelho.

- É mais díficil do que eu achei que fosse. - Ele admite. - Em um ano e meio de vida, nós nunca deixámos ela fora da nossa vista por mais de algumas horas. E agora já fazem dois dias que estamos sem vê-la.

- Concordo plenamente... - Eu admito também. - O máximo que fizemos foi passar uma noite longe dela e eu estava desesperada para encontrá-la de novo pela manhã.

- Eu me lembro disso. - Peeta fala gargalhando. - Nós praticamente nos estapeamos para ver quem iria pegá-la no colo primeiro aquele dia.

Eu acompanho sua risada enquanto me lembro do acontecido. Peeta e eu tiramos a noite para jantar no Distrito 12 e deixamos Jennifer para dormir com a minha mãe na nossa antiga casa na Vila dos Vitoriosos. Minha mãe insistiu que nós deveríamos ter um tempo para nós dois, então acabamos dormindo num hotel aquela noite, mas assim que o sol clareou corremos para a Vila dos Vitoriosos. Jennifer estava acordada quando chegamos, tentando se equilibrar dentro do berço, agarrando as barras laterais como suporte para ficar em pé. Ela sorriu quando nos viu e eu senti uma alegria sobre-humana com aquele pedacinho de gente.

Jogos Vorazes - CicatrizesOnde histórias criam vida. Descubra agora