Capítulo 22 - Vida

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Eu escuto ansiosa enquanto o som da chamada sendo completada zumbe em meus ouvidos. Estou segurando o telefone com tanta força que os nós dos meus dedos estão brancos e estou tão nervosa que, entre o tempo em que disquei e o tempo que a ligação demora para ser atendida, eu já roí metade das minhas unhas até o sabugo. Finalmente ouço alguém pegar o telefone.

- Alô? - Eu ouço a voz do outro lado da linha dizendo.

- Mãe. - Eu disparo imediatamente. - Preciso que você venha ao Distrito 12.

Uma semana mais tarde ela desembarca na estação de trem e Peeta e eu estamos lá esperando para acompanhá-la. Felizmente nós não precisamos mais carregar as bagagens, pois o mais novo projeto de Thom disponibiliza veículos para transporte das malas até os nossos destinos por uma pequena taxa extra.

Eu não vejo minha mãe há quase seis meses. Mal consigo acreditar que já estou casada há todo esse tempo. Quando Peeta e eu partimos para nossa lua de mel, minha mãe retornou com os outros convidados para a Capital, onde participou de um dos primeiros cursos gratuitos de Medicina, realizados pelo governo. Retornou para o Distrito 4 três meses depois, onde continuou trabalhando no hospital. Eu conto a ela sobre a cabana que Haymitch nos deu de presente e sobre os três meses maravilhosos que passamos por lá, até que finalmente sentimos falta do movimento e das atividades do Distrito.

Peeta se despede de nós no nosso costumeiro ponto de encontro, na esquina da rua da padaria. Eu e minha mãe continuamos em direção a Vila dos Vitoriosos. Finalmente a porta se fecha as nossas costas e nós estamos sozinhas.

- Agora nós podemos falar do que realmente importa. - Minha mãe anuncia. - Filha, você estava falando sério ao telefone?

- Sim mãe. - Eu respondo. - Eu acho que nunca falei tão sério na vida. Eu não sei nem como me sentir nesse momento.

- Então é verdade? É mesmo tudo verdade? - Ela pergunta, ainda meio incrédula.

- Sim. - Eu respiro fundo e tento inutilmente controlar o coração que bate enlouquecido no peito, as borboletas que enfesteiam o meu estômago nesse momento e a emoção que se espalha pelas minhas veias. Felicidade ou medo? Pânico ou êxtase? Uma mistura de tudo, quem sabe... - Eu acho que estou grávida.

As palavras saem de forma estranha. A emoção permeia cada sílaba. O medo faz a voz tremer, mas a felicidade a faz mais estridente. Eu não sei como me sentir, mas acho que minha mãe e eu compartilhamos a incredulidade. Ela me olha por um segundo de boca aberta, sem reação, e então a ficha cai e seus olhos se enchem de lágrimas.

- Oh filha!! - Ela exclama e me puxa para um abraço. Eu não consigo me lembrar da última vez que ela me abraçou apertado assim. A sensação é tão inexplicavelmente boa que as lágrimas enchem os meus olhos e transbordam pelo meu rosto. - Que notícia maravilhosa!

- Eu ainda não tenho certeza de nada mãe. - Eu falo. - É como eu disse no telefone. Eu já estou atrasada quase dois meses do meu ciclo e já tem algum tempo que estou sentindo um enjôo quase que constante...

- Eu sei, eu sei... - Minha mãe me corta. - Eu trouxe o teste de gravidez da Capital para termos certeza. Mesmo assim Katniss... Só de imaginar algo assim... 

- Eu sei! - Eu exclamo animada. - Eu nem sei como me sentir agora. Eu não sei se fico feliz com tudo isso ou se me contenho e espero pela confirmação. E se eu estiver realmente grávida mãe? Eu não sei se estou pronta para ser mãe. O casamento ainda é tão recente... Eu não sei se fizemos o certo ao parar de nos protegermos... E se eu não conseguir... Se eu perder...

- Katniss. - Minha mãe me corta no meio da frase. Ela pega minhas mãos e me força a olhar em seus olhos. - Ninguém nunca está totalmente preparada para ser mãe. Ainda mais sendo o primeiro filho... É tudo uma novidade, é tudo difícil, assustador e cansativo. Mas eu também posso te garantir que tudo isso vai te trazer uma felicidade que você nunca sequer imaginou existir... Uma prazer tão intenso, um amor tão grande e uma felicidade tão absoluta e arrasadora que toda a sua definição de mundo vai virar de cabeça pra baixo. O Peeta é o amor da sua vida. Vocês dois sempre estiveram destinados a ficar juntos. E essa possível criança é o maior presente que ambos podem ganhar. É a recompensa de vocês, o "muito obrigado" que o universo conspirou para oferecer a vocês. Vocês merecem isso filha.

Jogos Vorazes - CicatrizesWhere stories live. Discover now