CAPÍTULO CINCO: AMELIA AINKHEART

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Eram cinco horas e cinco da manhã quando Luke levantou da cama e começou a juntar suas coisas pelo meu quarto, tentando não fazer barulho, mas batendo em cada canto que fosse possível. Observei-o colocando suas roupas, sem ser notada. Suas costas nuas e vermelhas se contraindo a cada movimento que ele fazia para tentar calçar seu tênis em pé me deixavam com ainda mais vontade de levantar apenas para trazê-lo de volta para mim. Se eu morresse amanhã, meu último desejo seria estar nos braços de Luke por uma última vez, para ter certeza que minhas últimas horas nesse mundo seriam passadas com quem eu gostaria de passar o resto da vida. Caso eu não morresse amanhã.

- Não vai – sussurrei e Luke olhou para mim.

Vai.

Seus olhos sonolentos fizeram o mais leve dos sorrisos aparecer em meu rosto. Seus cabelos pretos bagunçados apenas serviam como um acessório para ressaltar o quão belo ele poderia ser. Luke continuou me encarando e eu só conseguia desviar minha atenção para os seus detalhes mais sórdidos, detalhes que faziam com que eu me apaixonasse ainda mais por ele. A dor quase se extinguia quando eu fixava meus olhos nele.

Vai. Disseram novamente as vozes.

- Você quer que eu fique? – Luke perguntou, puxando sua calça jeans que insistia em deslizar da sua cintura. Cambaleando, ele veio até a cama e sentou-se perto de onde eu ainda estava deitada. Senti suas mãos geladas tocando meu rosto e fechei os olhos com o toque, deixando com que a corrente elétrica, que passava por mim cada vez que ele me tocava, esquentasse o meu corpo.

Abri meus olhos rapidamente, assim que sua mão se afastou bruscamente. Sentei-me, puxando o cobertor comigo. Luke tinha sua cabeça em suas mãos. Hesitei antes de passar meus dedos pela sua espinha, temendo uma reação pior. Talvez o peso das suas ações estivesse mostrando as consequências que causariam apenas agora.

- Não seria muito legal da sua parte pedir pra eu ficar quando eu sei que vai ser pros braços de Brad que você voltará. É egoísmo, Amelia, e dói – seu tom de tormenta infestou o silêncio que havia se instalado no quarto. Uma brisa parecia ter começado, mas era apenas seu corpo gelado perto do meu... O seu frio emanando para mim. Tão quente, tão reconfortante, porém tão gélido. Luke conseguia ser tantas coisas: poderia ser bom e ruim para mim ao mesmo tempo e eu era a única que não percebia tal efeito dele sobre mim.

A instabilidade de seu amor já havia me consumido por completo. Eu havia me transformado nessa incerteza.

- Não é egoísmo, Luke. Mas fique se quiser... Quem sou eu para dizer o que você deve fazer?

- Você age como se não soubesse de nada. Amelia, você sabe que eu quero ficar – Luke disse baixinho e eu sorri, mesmo ele não podendo ver. Levantei sem cerimônia, ficando de pé em sua frente, sem me preocupar em ter deixado o cobertor na cama.

Luke olhou para mim. Senti como se aquela fosse a primeira vez que ele me olhava de verdade. Seu olhar poderia significar um encontro de nossas almas; um abraço entre ambas ou até mesmo a descoberta do que era aquele sentimento que nutríamos um pelo outro. O frio voltou a percorrer meu corpo quando ele pousou sua mão gelada em minha perna, parecendo estar criando forças para se estender e ficar diante de mim. E foi exatamente o que ele fez, usando como uma iniciativa para poder me beijar.

- Por favor – pedi, segurando sua mão em meu rosto, entrelaçando nossos dedos, ignorando o choque entre ambos.

- Eu não posso – Luke beijou-me de novo – Eu te amo – e assim pegou sua camiseta e abriu a porta do meu quarto depressa, fechando-a logo depois.

Suspirei com todo o pesar que eu tinha no momento. Atirei-me na cama, desejando nunca esquecer de tudo que Luke fez: coisas boas e coisas ruins.

***

InstávelWhere stories live. Discover now