CAPÍTULO TRÊS: AMELIA AINKHEART

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Eu nunca presto a mínima atenção nas aulas de geografia.

Gosto de falar, falar e pensar; pensar em tudo e falar, principalmente sozinha. Às vezes, a impressão que eu tenho é que meus pensamentos são meus melhores amigos. Minha única companhia.

Hoje fazia um mês desde o que eu posso classificar como o pior dia da minha vida. Até hoje. Eu não havia dito para ninguém, mas todos pareciam saber. Não, todos sabiam. Luke e Amelia. Era tudo que preenchia minha cabeça. O jeito que Luke me olhou quando cheguei, o jeito que seus ombros se mexiam quando ele ria ou o jeito engraçado que seu nariz se mexia quando ele o coçava. A falta que eu sentia dele não cabia em mim. Por mais que eu tivesse Bradley, não era o suficiente. Eu sabia que, no fundo, eu só amava Luke. Eu gostava muito de ser sincera comigo mesma.

Revirei os olhos ao lembrar de Joanne e Joanna jogando sermão em cima de mim toda vez que eu tocava no assunto Luke perto delas. Joanne era dona de dizer que Bradley me fazia muito melhor que Luke e Joanna adorava reforçar a ideia de que eu merecia alguém muito melhor do que Luke. Sim, depois dos meus pensamentos, Joanne e Joanna são minhas melhores amigas. É claro que elas estavam certas em querer me fazer parar de pensar na razão de todas as minhas dores no coração, mas eu não merecia alguém melhor do que Luke. Eu aceito o amor que eu acho que eu mereço, e Luke é esse amor. Era esse amor.

Bradley. BRADLEY. Gritaram sutilmente meus melhores amigos. Meu namorado, Bradley. Claro. Por onde começar? Brad já tinha feito tanto para e por mim e quem não merecia alguém como eu em sua vida era ele. De todas as coisas do mundo que eu pudesse ter ou um único desejo que eu pudesse fazer, eu escolheria poder desaparecer da vida de Bradley, escolheria nunca ter existido ou nunca ter entrado em sua vida. No final, era mais que claro que quem sairia machucado seria ele e era a última coisa que eu gostaria que acontecesse.

Luke... Não voltaria para ele, ou voltaria? Será que eu poderia retomar um relacionamento onde existia 99% de chance de sair machucada e com um grande sinal escrito "IDIOTA" na minha testa? Mesmo eu sendo quem eu sou, poderia eu me segurar naquele pequeno 1% que faria toda diferença?

Minha cabeça estava me matando.

Uma mão se intrometeu na minha confusão. Olhei para o lado e Joanne sorria para mim, indicando o bilhete que havia deixado em cima da minha mesa. "Querida, Amelia: pare de travar uma guerra com seu inconsciente e foque-se na aula. E no seu namorado!!". Fitei o papel por um momento antes de amassá-lo e ignorar minha amiga por completo, retornando a guerra com meu inconsciente.

Há exatos trinta dias Luke passou a agir de um jeito estranho comigo. Nossa costumeira caminhada de mãos dadas enquanto ele me levava para casa depois de mais um dia normal, não aconteceu com a parte em que ele entrelaçava seus dedos nos meus. E não foi esse o começo: Luke me ignorou o tempo inteiro. Nem ao menos sorriu com alguma piada sem graça que eu contava que sempre lhe arrancava uma risada gostosa. Uma risada que dava gosto de contar piadas ruins apenas para ouvi-la. Naquele dia, seus olhos negros nem se deram ao trabalho de se perder nos meus.

- Amelia – sua voz suave ecoou no silêncio da minha rua e meu coração apertava ao lembrar das suas seguintes palavras. Sorri, fingindo que tudo estava perfeitamente normal: - Eu não quero mais.

Segurei o peso que caiu em minhas costas com destreza. Não oscilei por um segundo sequer.

Eu odeio você. Eu amo você. Eu odeio você. Não. Sim, é real. Foram as coisas que circulavam na minha cabeça depois do peso que ele jogou em mim.

Luke não hesitou, não mostrou tipo algum de incerteza. As palavras realmente saíram com significado. E elas machucaram... Machucaram mais do que qualquer coisa que já experimentei na minha vida. Não imaginei que pudesse ser atingida com tanta força por tão poucas palavras, porém tão pesadas... Eu podia jurar que Luke ouvira os pedaços do meu coração quebrarem.

Fitei seus olhos, firmes e certos. Fitei sem medo e percebi o pavor que estava se instalando em mim enquanto Luke permanecia apenas ali, sem dizer nada, sem fazer nada, sem expressar nada. Nada. Vazio. Ele era um buraco negro ali na minha frente e se eu continuasse em sua presença por mais um pouco, eu seria sugada para a escuridão.

- Amelia – ele exclamou quando dei as costas – Você vai ficar bem?

Inspirei o máximo de oxigênio possível. Senti minhas bochechas tremerem, o indício das lágrimas que já ameaçavam cair.

- Eu estou bem, mas eu tenho que seguir em frente, certo? – sorri e até hoje não sei de onde diabos consegui realizar tal ação. Ele sorriu como resposta. ELE SORRIU.

Sorrir: rir sem ruído, apenas com um ligeiro movimento dos lábios e da face. Os cantos de sua boca carnuda foram se levantando aos poucos e seus lábios rosados abriram-se com um pouco de medo. Medo que ele não demonstrava nunca. Medo, o mais leve sentimento que obtive dele nesse dia. Medo. Medo estampado em um sorriso. Para ser específica, no sorriso dele. O sorriso que eu jamais poderia prever que me destruiria tanto quanto me destruiu.

Minha cara se fechou diante dos seus dentes, que pareciam querer se mostrar. Quem ele achava que era para colocar o peso em mim e simplesmente sorrir? Como se tudo não passasse de algo normal... Como se eu fosse tão insignificante? Como era ao menos possível a pessoa que um dia me mostrou que eu significava mais do que desconfiava, me fazer sentir como se a minha existência não passasse de um grande nada? Como?

- Como ele pôde fazer isso?

- Amelia? – levantei meu olhar para o professor de geografia e percebi que a maioria dos olhares estavam plantados em mim. Pisquei – Falando sozinha de novo? – assenti.

Houve algum burburinho e Joanne me lançou um olhar. Ignorei ambos. Voltei a pensar em Luke e nas horas que passei chorando ao lado do meu celular esperando algum tipo de desculpa ou esperando apenas pelo final do pesadelo, esperando para acordar.

Voltei à minha confusão.

Ninguém sabe, mas eu estou morrendo. Estou morrendo aos poucos e a morte chegou ainda mais perto de mim quando meu coração foi partido. Todos estamos morrendo e o que poderia ser melhor do que morrer sem que ninguém nunca quebrasse o coração de ninguém? Talvez morrer fosse tão mais fácil do que ter que acordar todos os dias sabendo que seu coração estava quebrado e que era impossível juntar os restos... Amar é a morte. Ter o coração quebrado é a morte. Portanto, me considero morta.

Você está mórbida. É simples: se um mês depois eu não consigo parar de pensar no quanto eu amo o causador da minha dor, eu também estou morrendo. Estou me matando. No final, tudo se resume à morte. A certeza que eu tenho é essa. Pelo menos, está entre as poucas certezas que tenho.

Suspirei pesadamente, meus pensamentos eram capazes de peripécias como essa. Posso estar exagerando, mas a dramatização em minha cabeça foi o meio que encontrei de poder expressar o que sinto sem ser julgada por mim mesma. Meus pensamentos faziam eu me sentir capaz, até mesmo quando eu sabia que eu não era capaz de seguir em frente, não importasse o quanto eu tentasse. Eu só conseguia pensar em uma solução para todo o drama e a morbidez. E essa solução envolvia mais dor do que felicidade. Envolvia o amor que eu achava que merecia. Envolvia Luke.

Mas, e Bradley? De novo isso?

O sinal tocou e suspirei fundo. Não esperei por Joanne e segui minha direção até o banheiro mais próximo. Tranquei-me no último reservado e sentei, pegando meu caderno preto da mochila e a caneta que prendia meu cabelo. As lágrimas que eu derrubava frequentemente borraram todo o papel enquanto eu escrevia minhas dores, enquanto despejava o sofrimento bobo de uma garota com o coração quebrado em palavras. Uma garota que acreditava que ter o coração quebrado era pior que morrer.

Céus, como eu odiava toda essa instabilidade.

***

Oi para quem está lendo!

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xx Amanda A.

@mandimusic


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