Apenas uma mente

Álcool

- Bom dia Renato vejo que já melhorou um pouco, esse hospital é realmente ótimo.

- É mesmo delegado.

- Você já sabe por que eu estou aqui não é mesmo?

- O acidente...

- Isto mesmo o acidente, eu quero saber como tudo aconteceu.

- Queira me desculpar mas eu não lembro de muita coisa.

- Alguma coisa já deve ser o suficiente. Pode começar me dizendo como a noite começou?

- Nós fomos para uma balada por volta das onze da noite. Alice dançava conforme as batidas fortes da música eletrônica, sem preocupações, jovem. Ela tinha acabado de completar dezoito anos e nós tínhamos combinado de sair e curtir um pouco. Eu tinha acabado de pegar minha carteira de motorista de novo, estava andando na linha. Ela disse que naquela noite não teria problema, que eu já tinha vinte anos e que iria ficar velho e me arrependeria se não vivesse a vida.

- E você fez o que?

- E eu aceitei, segui ela. Não era pra nada disso acontecer, eu não queria que nada disso tivesse acontecido essa noite. Nós dançamos muito e como era de se esperar ela começou a beber, bebia muito. E eu fui junto, era o aniversário dela eu não podia negar a um pedido daqueles olhos, nos divertimos muito. Foi quando ela procurou um amigo dela, ele pareceu chapado e deu duas balas pra ela. Eu não gostei da ideia, saí de perto dela e fui pro bar, quando eu olhei pra trás vi ela beijando um cara que nunca tinha visto. Eu fiquei com muita raiva e fui atrás dela.

- Você brigou com ela então?

- Ela já estava fora de controle, tinha bebido tanto que eu fiquei com medo que fizesse alguma besteira. Aí eu colei nela, das outras vezes que ela me ofereceu bebida eu não recusei. Ela estava brilhando, o jeito que ela dançava, aquelas luzes, as músicas. Tudo se encaixava, eu estava em ecstasy. De repente tudo começou a girar, ela caiu no meu ombro, eu ainda consegui pensar em cuidar dela mesmo no estado em que estava. Levei ela pro banheiro, e entrei em um dos boxes.

- Ela não estava bem então, depois disso o que você fez?

- Ela vomitou muito e eu decidi que aquela noite tinha acabado pra nós. Ainda cambaleando eu consegui levar ela até o carro, era hora de levar ela pra casa. Eu pensava na maneira como os pais dela iriam reagir como vissem a filha daquele jeito, mas desde que ela chegasse bem em casa não teríamos problemas maiores. Ela morava em uma pequena cidade ao lado e eu teria que dormir no carro depois que deixasse ela em casa, até ter como voltar pra casa. No caminho começou a chover, a estrada estava muito escura eu mau consegui ver cinco palmos na minha frente. Minha vista estava borrada eu estava andando devagar, vários carros me ultrapassaram pelo caminho, poucos faróis vinham na minha direção.

- A chuva realmente castigou o caminho  da zona rural, poucos carros vinham até a cidade.

- Ela estava no banco do carona do meu lado direito, falava coisas sem sentido, estava me desconcentrando as vezes então liguei o som do carro. O pen drive estava tocando as músicas favoritas dela, lembro das músicas do Coldplay passando, aquilo deveria ser por volta das três da manhã.

- Então, qual foi a sua ultima lembrança daquela noite?

- Em um momento minha visão ficou manchada, um buraco na estrada molhada me fez derrapar pro lado esquerdo da pista, na contramão. Na mesma hora eu pude ver uma caminhonete ou carro com os faróis bem altos vindo na minha direção enquanto o meu carro girava. O lado direito do meu carro estava de frente pra dianteira do outro carro. Lembro dela levantando e falando meu nome, me lembrei que eu estava sem cinto. Lembro que ela estava, depois disso apaguei... É disso que eu me lembro daquela noite delegado.

- Meu jovem, você ficou por três meses em coma.

- MEU DEUS! AONDE ELA ESTÁ!?

- Renato ela não resistiu, morreu uma semana depois do acidente. Ela perdeu quase todo o lado direito do corpo e vivia com aparelhos, alguns dias depois ela faleceu. Os pais dela se mudaram e pediram que você ficasse afastado deles, você terá que responder criminalmente pela morte da sua namorada e por dirigir embriagado. Seu julgamento será daqui a duas semanas, eu não consegui entrar em contato com nenhum parente seu mas a justiça lhe concederá um advogado. Se não se importa meu trabalho aqui já terminou, espero que se recupere logo.