CAPITULO VIII - Tentativa e Erro

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O

lhos brancos leitosos me cercaram por todas as direções. Em contrapartida, os amarelos apavorantes agora caminhavam para mais longe, deixando que um círculo assustador se fechasse à minha volta.

— Eu sempre disse aos grandes sacerdotes. Profecias podem ser quebradas e maldições podem pesar mais do que grandes bênçãos.

O tom sibilante era ameaçador.

— A teia de mentiras em que você foi mantida não te deixaria segura por muito tempo. Se você tivesse sido treinada, quem sabe...

Eu tremia da cabeça aos pés. Mantinha o cajado bem firme nas mãos e o apontava em todas as direções tentando afastar os seres. Os livros também continuavam seguros na bolsa presa ao meu corpo. Em toda minha vida nunca tinha enfrentado uma situação como essa, nunca havia sido assaltada ou ameaçada por algum grupo de valentões na escola. Em geral se mantinham longe por me achar uma aberração.

Também nunca pratiquei qualquer tipo de luta que pudesse me dar vantagem. O máximo que via era o pouco que a luz do cajado iluminava e as dezenas de olhos à minha volta.

Eles se mantinham à distância. Estrategicamente longe da luz e aguardando alguma ordem do mestre. Enquanto o ser dos olhos amarelados falava, eu prestava só meia atenção, tentando contar quantos eram meus possíveis agressores.

Ao lado de onde deveria estar o vitral, eu podia ver olhos maiores do que os que estavam à minha volta. Havia também alguns pares no teto, voando em círculos em cima de nós. Isso diminuía em muito minhas opções de fuga. Me surpreendi com a rapidez que constatei tudo isso. Eu até era inteligente, mas minhas estratégias costumavam se conter aos jogos eletrônicos. Bons tempos.

— Vai ser bem interessante quando eles perceberem que um pouco da verdade teria impedido a sua morte hoje.

Ele estreitou os olhos apavorantes.

— Agora chega desse meu monólogo. Bakhtaks, matem-na agora mesmo! Podem se alimentar da carcaça, só tirem os metais, e me tragam o cajado e os livros.

As dezenas de olhos começaram a se aproximar de mim. Naquela escuridão era impossível procurar um espaço entre eles. Não podia me arriscar correr, e se eles estivessem armados? Quando os olhos estavam a apenas três ou quatro passos, a luz do cajado iluminou meus atacantes mais próximos.

Eu preferia que ele não tivesse feito isso. Era melhor não saber. Quem sabe com a ignorância eu me defenderia com um pouco menos de medo. Eles eram cobertos por uma pele velha, escamosa e esverdeada grudada ao corpo que era feito de ossos. No lugar dos olhos havia esferas brancas leitosas. Eu achei que eles poderiam ser cadáveres humanos, mas não, era algo bem pior de ver.

As asas perceberam que minha vontade vacilou diante daquela visão e se fecharam à minha volta. O que veio depois poderia ser até meio cômico, se a morte não estivesse querendo me levar com ela. Eu tentava afastar meus atacantes dos lados, usando minhas asas, enquanto batia nos capangas da frente, com o cajado.

Não consegui pensar em mais nada para fazer, eles eram muitos e eu não sabia lutar. Quis aproveitar o peso do metal na esperança de que aqueles ossos se desfizessem com algumas pancadas.

É lógico que o máximo que aconteceu foi alguns deles ficarem atordoados. Com pouquíssimo tempo, eu já estava com os braços doendo e os seres continuavam avançando. As minhas asas também estavam doloridas de tanto sofrer ataques e tinham pedaços chamuscados.

Alys - Elemento Alpha [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora