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O mar tem mistérios que nem mesmo as ondas podem nos contar; suas crenças podem desabar com um bater de cauda. Nossa magia de sereia faz ressurgir tudo o que há de mais profundo e pérfido - se assim desejarmos - e nossa sociedade tão complexa, tem raízes que só o deuses podem admitir. Nosso tempo é o do eterno, mas vivemos a intensidade da vida de uma pequena bolha perdida no oceano. 

Como todos os outros dias o mar estava calmo, dentro e nos arredores do Reino de Alethea. Eu podia avistar da janela da minha torre, o Castelo e, vez ou outra, pensava ver uma sereia da Casta 1 passar. Eu as conhecia com pouca particularidade; só interagíamos quando ficávamos doentes ou quando uma 1 ia nos ajudar com algo, como é o caso das aulas da minha Casta, a 2. Sereias da Casta 1 são descendentes diretas da Rainha Alethea, e por isso, são consideradas especiais de alguma forma que eu não compreendo. Elas são responsáveis pela maioria das tarefas do Reino; cuidar da saúde das sereias, da educação de cada Casta, da alimentação e das sereias mais novas. Sempre as achei estranhas, não sei se é pelo modo altivo com que se locomovem ou a sempre pose de superior que tomam para si, o fato em si, é imutável: elas são as únicas que podem escolher o próprio destino.

Logo que nascem da magia da Rainha Alethea, elas ganham de presente, em seus primeiros segundos de vida, uma coroa e um pente. Esse pente se transformará aos poucos no símbolo do que a sereia mais tem aptidão para ser; ou seja, dentre tantas funções no Reino, a maior gama é dedicada a elas. Segundo as aulas sobre a sociedade; a Casta 1 é a mais importante por aprender sobre política, comunicação, arte, saúde, enfim, todo e qualquer assunto erudito. 

Já a minha Casta, a 2, é responsável pela segurança, luta e bem estar de todas. Somos a força que assegura que toda a sociedade esteja bem - por mim, acredito que somos a Casta mais importante por salvaguardarmos o Reino dos perigos de Mar Livre. É por essa função intrínseca a mim que estou em mais uma aula massante sobre  Transfiguração.

Tenho quase certeza de que essa é a aula mais longa de toda a minha vida! A professora Miriah continua a fala sem nem mesmo respirar; a jogar seu cabelo lilás de um lado para o  outro, quase fazendo cair sua coroa de conchas douradas depositada no topo de sua cabeça. Confesso que intimamente, eu estava torcendo para que aquela coroa mágica caísse e ela parasse de repetir todas as lições chatíssimas que eu e minhas irmãs vínhamos aprendendo desde que nos lembramos - blá blá não esqueça seu tridente, blá blá blá tem coisas perigosas no mar, blá blá cuidado com os reinos dos arredores, blá blá blá lembrem-se de escolher um animal coerente com o habit...

"Savannah?", Nikaia interrompeu o monólogo entediante da professora para cutucar minha cauda com seu tridente.

"O que é?", respondi aos sussurros, Miriah odiava que conversássemos em suas aulas. Ela julgava que tudo o que ela nos ensinava era importante. Mesmo que fosse praticamente sempre a repetição da mesma coisa. Mesmo que fossem apenas regras - que ela aprendeu depois de observar a tarefa da Guarda, mesmo que ela mesma nunca tivesse trabalhado com a Casta 2

"Vamos pular essa parte e ir direto para a expedição?"

"Ficou louca?", respondi entre os dentes - se Miriah souber disso vai nos arrastar pela cauda até Petrus"

"Que nada! Logo logo já estarão todas em Mar Livre mesmo! Além do mais, ninguém vai nem notar que saímos."

Fiquei em dúvida, nossa professora deu ordens expressas de que ficássemos juntas na expedição. Seria a primeira em que poderíamos finalmente nos transformar, e eu estava aguardando ansiosamente esse dia. Se bem que na verdade, eu estava um pouco temerosa em relação a isso - há muitos boatos de sereias que se transfiguraram errado ficando metade sereia metade polvo - e é claro que eu não quero virar uma colcha de retalhos marinhos e muito menos acordar com 6 braços no hospital da Casta 1

Sociedade das Sereias - Reino de AletheiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora