"...seja real..."

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Twitter: ISBB5H


Narração: Camila

Hospital de Miami – 05:20

– A recuperação prossegue dentro do esperado e já não há nenhum sinal de inchaço em seu cérebro. Ela acordou ontem à noite, mas ainda não falou uma só palavra desde então. Os médicos logo se preocuparam com a possibilidade de ser alguma sequela do edema e passaram toda a madrugada fazendo exames dos mais diversos tipos, e nem assim souberam determinar a causa do silêncio, e por fim, confiam na probabilidade de ser puramente psicossomático.

– Você acha que ela consegue nos ouvir, Lauren?

– Acredito que sim... – Um suspiro cansado deixou os lábios da bela morena de olhos verdes. – Ela só... Não fala nada. – E então um soluço. Mais um. Lauren tem chorado muito desde que acordei. – Drog-ga, desculpe.

Lauren e as amigas conversavam do lado de fora do quarto, mas em um volume relativamente alto e que bastava para que eu pudesse ouvi-las, mas passados alguns segundos as quatro figuras cabisbaixas adentraram o quarto.

Meus olhos estavam vidrados na janela à direita da cama, porém pela superfície reflexiva eu conseguia enxergar a movimentação à minha esquerda. Lauren, Dinah e Ally se recostaram na parede próxima à porta mantendo olhares felinos sobre mim, muito como se eu fosse uma espécie qualquer de animal a procura de uma rota de fuga. Notei também um leve balançar na extremidade inferior do colchão e tão logo o aroma de um perfume já bastante conhecido preencheu o espaço que me circundava. – Oi. – Não me dispus a dispersar minha concentração para a mulher que me falava e permaneci firme na tarefa única de mirar o vidro da janela e nada mais. – Deus, como é bom vê-la acordada agora. Você não tem ideia de como eu passei os últimos dias a espera de algum sinal seu, gata. – Normani usava uma voz doce. Tão suave e diferente da rotineira, que denunciava seu estado de fragilidade. – Sua namorada ali disse que você, bom... Que vocês ainda não conversaram. Que você não conversou com ninguém, na verdade. – Normani pousou uma das mãos sobre a minha perna e usou os dedos para circular minha canela exposta pela vestimenta hospitalar pressionando-a com delicadeza. – Mas tudo bem. Isso não é um problema. Você pode falar conosco quando estiver pronta. Cada coisa em seu devido tempo, não é mesmo?

– Oi Mila. – Dinah falou de onde estava. Pelo reflexo eu podia ver como a mais alta segurava Lauren com firmeza entre os braços compridos.

– Ei, Mila. – Ally, ao lado das duas, também se pronunciou. As quatro completamente concentradas em mim, embora minha atenção não fosse de nenhuma delas. Fechei meus olhos por alguns segundos e respirei com dificuldade, cortesia da retirada dos tubos e é claro que do trauma. Aparentemente eu havia fraturado uma costela e isso dificultaria meu processo respiratório por algum tempo. Não posso dizer que morria de dor naquele instante, grato efeito provocado pela enxurrada de remédios empurrados para dentro do meu organismo à cada nova entrada de uma enfermeira no quarto, mas conforto era algo que estava distante da minha atual realidade. Alguns pontos do meu rosto e corpo pareciam dormentes. Minha garganta estava seca e arranhada... Violentada, eu até diria. Meus olhos ardiam, meu tórax reclamava e meus braços e pernas estavam cansados, bem como ficavam após longas horas de exercício físico. Não, eu não me sentia bem e ser vigiada por todas aquelas mulheres não me ajudava nem um pouco.

– Talvez você queira... Ser atualizada de algumas coisas? – Mani propôs e imediatamente me interessei. Forcei meus olhos a rolarem em uma nova direção, caindo na morena de cachos perfeitos pela primeira vez desde sua entrada, e gesto este que também despertou o interesse de Lauren. A dona dos verdes marejados não demorou mais que três segundos para se colocar ao lado de Normani na clara intenção de que em algum momento eu pudesse dividir aquela repentina atenção também com ela. – Você sofreu um acidente, um atropelamento e deu entrada neste hospital três dias atrás, quase quatro. Sofreu algumas fraturas pelo corpo, cortes mais leves e um traumatismo que acabou, bem eu não sei explicar essas porcarias direito, mas criou um inchaço nessa sua cabecinha de vento e então os médicos acharam melhor te colocar para descansar por algum tempo. Pelo menos até que o inchaço diminuísse e felizmente isso aconteceu, o que explica a razão de você estar aqui conosco agora. Bem. Forte e se recuperando sem precisar da ajuda daqueles malditos aparelhos e tubos enormes e assustadores. – As outras garotas se atreveram a rir com o comentário. – Gata, você estava uma bagunça! Ossos fora do lugar, sangue transitando pelas vias erradas e coisas do tipo, mas Lauren pagou aos médicos para que dessem um jeito em você e eles deram!

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