Capítulo 4

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Eu e V estávamos conectados por conta da energia que passei pra ele. No momento em que ele me beijou, ele tomou sua consciência de volta, como se fosse uma chave destrancando um cadeado, e por absorver toda a minha energia, seu eu se aprofundou demais de mim. Nós dois éramos praticamente um.

A adaptação de V na terra não foi difícil. Ele era híbrido: meio humano e meio alien. Sua mãe se chamava Zuma, e era uma das princesas de Kwojhpsarosc -seu planeta natal, a qual tem o nome foda de se pronunciar- e seu pai era humano. Como os dois se conheceram eu não sei, tentei ler a mente dele mas ele conseguia controlar bem seus pensamentos. Ele sabia se trancar, eu não.
Seu planeta estava em guerra -sim, o planeta todo- por conta da invasão de um planeta intruso, que por pouco não se chocou com Sarosc -vou chamar assim agora, um apelido- e no meio de toda a confusão, por ser meio humano, alguma força o teletransportou para esse mundo. Depois fui entender que sua vinda era o motivo daquela tempestade horrenda.
Ele chegou inconsciente pois ainda não estava ligado aos aspectos humanos e precisava de uma energia humana viva para ativar esse seu lado. Agora que ele tomou consciência, nem dá pra perceber muito que ele não é daqui. Só os primeiros dias que foram difíceis, como quando o peguei comendo sabonete e quando ele tentou conversar com o microondas de casa. Mas agora ele está melhor adaptado.

Depois da nossa conexão, V não havia tido mais nenhum ataque. Foi então que cinco dias depois, enquanto assistíamos TV, ele começou a pirar. Seus olhos ficaram completamente pretos e raios de luz brilhavam dentro deles, como se fosse uma TV pifando. Ele começou a fazer sons estranhos e então a TV de casa começou a dar a louca também. Ele segurou forte em meu braço, me puxou com tudo pra perto, tocando seus lábios nos meus. Foi então que na mesma hora, pude entender o que estava acontecendo. Alguém estava tentando se comunicar com ele, provavelmente era sua mãe. Imagens borradas passaram por minha mente, e pude identificar um ser feminino. "Volte pra casa" foi o que pude entender. O resto eram só grunhidos estranhos. V cortou a nossa conexão.

"Could you be de devil,

Could you be an angel"

-PARA COM ISSO! PELO AMOR DE DEUS! -Eu gritava desesperada, esperando que ele me ouvisse, mas era como se ele estivesse fora de si.

Minha casa estava uma bagunça. Eu estava na sala, encostada na parede, encolhida, tentando sair mas sem ter como escapar daquele local. Ele jogou uma cadeira em mim que por sorte consegui desviar.

-ME ESCUTA! -Eu gritava, mas parecia não fazer efeito algum.

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!- Ele gritava parecendo estar lutando contra a própria mente. Seus olhos estavam brancos e suas veias do corpo todo estavam completamente saltadas. -SAI! -E então ele caiu de joelhos no chão, com as mãos na cabeça, gritando feito louco. Eu tentei me aproximar, mas quando dei impulso para levantar do chão, ele pulou em cima de mim, me deixando imóvel. Segurava meus braços com uma força que prendia até minhas veias. Eu olhava em seus olhos completamente brancos, tentando não vê-lo como um monstro. Eu só podia estar ficando louca por estar ali naquela situação e ainda ter coragem de olhá-lo nos olhos. Eu sabia que o "eu" normal dele ainda estava ali, mas algo o estava impedindo. Como gritar não estava funcionando, decidi tentar me comunicar com ele usando a mente. Fechei meus olhos tentando amparar o medo e comecei a pensar "Volte ao normal por favor". Ele apertava meus pulsos com mais força, mas tentei não deixar aquilo me abalar. Eu não tinha mais o que fazer, e esse era o único jeito. Continuei focada em meus pensamentos, tentando relembrar momentos nossos juntos, quando eu estava o ensinando a ser um humano, quando ele chegou aqui naquela tempestade, até que de repente, ele simplesmente deitou seu corpo no meu, como se tivesse esgotado toda sua energia.

Um Garoto de Outro Mundo [HIATUS]Where stories live. Discover now