Capítulo 6 - Vozes

313 76 60
                                    


Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Um vento cortante beijava sem temor a pele já gelada da menina, fazendo com que as suas extremidades ficassem cada vez mais rígidas, como se a ponta do nariz pequeno e as mãos descobertas devido à ausência de um confortável par de luvas estivessem congelando lentamente.

E a garota agradeceu para si mesma, em um mero sussurro inaudível, quando Damiel apontou em direção a uma caverna escura e comunicou que dormiriam naquele local até os primeiros indícios do amanhecer. Ela mal estava suportando carregar o próprio irrisório corpo, principalmente porque as suas pernas insistiam em fraquejar, como se estivessem correndo em uma finíssima e infinita corda bamba. Além disso, as pálpebras agiam como verdadeiras traidoras e, sem qualquer relutância, buscavam descansar os olhos a cada andar de Sunsea.

Ela ficara três dias presa em um minúsculo cômodo, tendo que enfrentar os inúmeros questionamentos de homens desconhecidos. Contudo, somente naquele instante, o cansaço tornara-se fortemente presente, e a situação ficava ainda pior quando a jovem percebia que não sabia nada sobre si mesma e nem sobre o planeta Cadent, o qual parecia desejar mais do que tudo a morte dela.

Os pensamentos confusos a intimidavam, obrigando-a a duvidar das poucas lembranças que possuía. Afinal, quem era ela? Tivera uma vida antes de despertar submersa em milhares de gotas do Lago das Flores?

A garota estava lutando internamente com verdadeiros monstros, que teimavam em assombrá-la, porém, apenas mais tarde, ela descobriria que a mais árdua batalha é aquela de conseguir suportar todas as cicatrizes deixadas pela dor e mesmo assim não se transformar também em mais um monstro.

- Ei... - Damiel aproximou-se dela com cautela, chamando-a. - Você está bem? - A preocupação assumia o rosto dele, ao mesmo tempo em que procurava descobrir os mistérios ocultos nas linhas do rosto de Sunsea.

A talvez desconhecida e misteriosa jovem fez apenas um quase imperceptível movimento com a cabeça, assinalando de que sim. Entretanto, nos abismos mais improváveis do coração dela, uma voz em seu interior desejava gritar e dizer que não. Ela não o conhecia, tampouco sabia o porquê de ele estar a ajudando, mas, a questão é que lhe faltava coragem. Coragem para falar que estava muito distante do que poderia se chamar de bem.

- Você tem certeza de que consegue andar? – Ele percebia nitidamente que a menina estava fazendo um esforço descomunal apenas para erguer os pés e formar uma insignificante pegada na neve, entretanto, Rudá já havia carregado ambos por muitas horas e necessitava descansar para recuperar as energias.

Apesar de eles estarem um considerável tempo andando um ao lado do outro, a garota recusava-se a falar. Ela permanecia muda, e, se não fosse o som emitido pelos passos dela claramente cansados, Dam certamente não acreditaria que se encontrava acompanhado.

Dessa vez, a menina não realizou nem ao menos um mísero gesto. Parecia que a vida tornara-se um peso, o qual estava sendo arrastado pelo chão frio, mas que não havia mais sentido de continuar levando-o juntamente consigo. Ela até queria que ele soubesse a sensação de possuir aqueles sentimentos e pensamentos invadindo cada esquina de seu corpo, no entanto, as imagens daqueles três dias no cômodo escuro eram terríveis demais para serem contadas em voz alta.

CadentOnde as histórias ganham vida. Descobre agora