— Por que você tem que ser tão dura sempre?

— Porque sou sua amiga e, amigas falam a verdade, por mais dolorosa que seja. Não pense que é fácil para mim te falar esse tipo de coisa, porque não é, mas você precisa acordar. Viola, eu queria que fosse diferente, queria poder dizer o contrário, mas aquele garoto não gosta de você, se gostasse não a trataria dessa forma.Dizer na sua cara que gosta de outra é um pouquinho demais, não acha? Eu, no seu lugar, teria quebrado todos os ossos do corpo dele e passado em um moedor.

Ignorei seu comentário perverso, Lilian sempre teve o hábito de ruminar ideias macabras. Sorte do Mundo ela não estar  verdadeiramente disposta a colocá-las em prática.

— É que tem algo no jeito que ele me olha, eu não sei dizer ao certo o que é, mas os olhos dele ficam sempre brilhantes e...

— Por favor, essa história de novo não. — interrompeu com uma revirada de olhos teatral. — Sabe o que eu acho? Acho que isso é tudo fruto da sua imaginação, você vê o que quer ver. Quando eu era muito pequena, meu pai me mostrou uma imagem bastante curiosa, uma daquelas figuram malucas que os psiquiatras costumam desembuçar aos pacientes e que você encontra aos milhares no Google. Ele me perguntou o que eu via e, fez a mesma pergunta a Jason e Arnie. Eu respondi que via Joana D'arc empunhando uma espada. Jason, com toda convicção, afirmou que era um cavalo trotando. Arnie foi mais longe, disse que se tratava de um coelho. Cada um viu o que queria ver e, estávamos todos errados. No fim, meu pai sorriu para nós e disse: "Quanta imaginação, é apenas tinta. Eu prentendia escrever ao Bob e a caneta estourou sobre o papel." Rigel Santford é só um borrão que você insiste em transformar em algo mais. — concluiu.

— Você não entende. — sibilei num tom macilento. — Eu não sou uma idiota, sei que pareço uma, mas há um grande abismo entre parecer e ser.

Lilian respirou fundo.

— Viola quando um garoto gosta realmente de uma garota ele dá um jeito de demonstrar isso, por mais tímido ou imbecil que seja ele sempre dá um jeito. Donald é a pessoa mais tímida que já conheci e, ainda assim, deu um jeito de demostrar que sente algo por mim quando pediu ao idiota do Dean que me entregasse uma cartinha hoje pela manhã.

— Donald gosta de você? — Meus olhos se arregalarem e minha boca se abriu.

Mas era o Dean quem estava apaixonado por ela, eu tinha quase certeza disso. Ele a cobria de elogios, curtia todas as suas fotos e deixava milhares de emogis fofinhos, e teve aquela vez em que ele escreveu o trecho de uma música da Taylor Swift em seu mural só para agradá-la, o que acabou não dando muito certo, já que ele teve o azar de escolher justamente a única música da Taylor que a Lilian odeia.

— É o que parece.

— Eu fico feliz que Donald demonstre o que sente por você, isso é maravilhoso, mas nem todos os garotos são iguais.

— Acho que preciso ajoelhar e agradecer a Deus por isso. Imagina se todos fossem iguais àquela lagartixa albina, eu optaria pelo celibato, esteja certa. — disse seriamente.

Sentando na cama, me encolhi contra a cabeceira. 

O Oli não se parece em nada com uma lagartixa albina. Sim, ele pode ser branco demais - e, talvez, um pouco magro demais também. Mas é tão bonito quanto um céu de verão, o garoto mais bonito que eu já vi na vida. E eu sei que falando dessa maneira parece que sua aparência é tudo que conta para mim, mas não, o Oli não é só mais um rostinho bonito, ele é especial, de todas as formas que uma pessoa pode ser.

— Ele não é uma lagartixa albina, nem mesmo se parece com uma. -- falei após um tempinho, meio de supetão.

— Ah, se parece sim e, muito. — Lilian tornou entrerisos. — Viola, como sua melhor amiga, vou te dar um conselho precioso. Esqueça aquele garoto antes que acabe se machucando ainda mais.

Viola e Rigel - Opostos 1Where stories live. Discover now