O Queixo Tremulante

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Com certeza roncar era muito engraçado. Ouvir o ronco alheio então, mais engraçado ainda. Era de espantar que Stephen Fry* ainda não tivesse produzido uma série de programas sobre o tema e matado toda a Inglaterra de rir.

Viola Beene era patética.

- O que você está fazendo aqui, afinal de contas?

- Vim ver como estava. Você parecia um daqueles sapos enormes que aparecem durante o inverno nos lagos. - Ela inflou as bochechas, que já eram suficientemente grandes, numa imitação ridícula de um sapo, e desatou a gargalhar.

- Você deve ter achado o máximo me ver assim, não é?

- Só achei engraçado. - Sua risada tinha esvanecido e ela estava torcendo as mãos sobre os joelhos.

- Então você soube que Bridget tinha dado com uma raquete na minha cabeça e veio rir um pouco da minha cara. Muito nobre da sua parte.

- Não vim rir da sua cara. Vim ver se estava bem, apesar de você não merecer de forma alguma. Mas, se quer saber, eu achei muito bem feito. Tenha uma boa noite. - disse, pulando da cadeira. - Eu não vou ficar aqui aturando seu mau -humor quando tenho um mundo de trabalhos me esperando.

- É assim que você chama o papa-insetos? Mundo de trabalhos? Interessante.

- Do que é que você está falando?

- Para de bancar a inocente. - pedi num tom cortante. Já estava de saco cheio.

- Bancar a inocente?

- Devia considerar ingressar na política depois da faculdade, pessoas como você costumam ter bastante êxito nessa área, Beene.

- O que você quer dizer com pessoas como eu?

- Você é naturalmente tão dissimulada ou fez algum tipo de especialização?

Ela arregalou os olhos e juntou as sobrancelhas.

- A pancada na cabeça deve ter afetado seu cérebro seriamente, deveria procurar um neurologista e verificar se os danos reversíveis.

- E você deveria parar de fingir. - retruquei com a voz algumas oitavas acima do normal.

A enfermeira nos encarou, estreitando os olhos sobre o livro, observou por um instante e então voltou a ler.

Excelente. Se Viola Beene quisesse poderia ter me matado e aquela velhota continuaria com a cara enfiada entre as páginas. Eu ia falar com meu pai sobre isso, era evidente que o Madison's precisava de uma enfermeira nova, ele só precisaria fazer uma ligação para o sr. Prescott e a incompetente teria todo tempo do mundo para ler seus romances em casa, se é que ela tinha uma casa. Pessoas como a enfermeira Talbot geralmente se empoleiravam em apertamentos de quinta categoria localizados em bairros imundos onde havia mais ratos que pessoas transitando pelas ruas.

- Fingir? Pode, por favor, me dizer do que é que você está falando?

- Do seu namorico com o Yattes, é disso que eu estou falando.

Ela parou por um instante, levando a mão à boca na tentativa inútil de abafar uma risada.

Eu estava em uma enfermaria, minha cabeça latejava e, como se isso não fosse ruim o suficiente, ainda tinha que aturar as risadinhas da Cara Coruja. O inferno com toda certeza se resumir aquele momento.

- Namorico? Você acha que Donald e eu estamos namorando?

- Eu vi vocês dois na Drums. - respondi com os dentes entrecerrados. - Você parecia uma maldita hiena sorridente.

Viola e Rigel - Opostos 1Where stories live. Discover now