First consultation

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Nora Brett Narrando

Engoli em seco, olhando profundamente nos olhos do homem, que me encarava como se quisesse comer meus órgãos. Só de estar ali, vendo-o por uma janela, com uma porta e uma grade nos separando, eu sentia arrepios, medo de ter que ficar sozinha com ele.

Afastei-me da porta, um pouco atordoada com minha última visão. Algo dentro de mim dizia que aquilo não daria certo, que era melhor que eu saísse correndo naquele momento mesmo. Mas eu não podia, pois outra parte de mim dizia para ficar e ajudá-lo, como uma esperança para a cura de sua loucura. Então, qual eu deveria seguir?

— Q-qual o problema dele? — gaguejei, encarando os olhos de Cloe.

— Como eu já disse, ninguém sabe. Ele simplesmente enlouqueceu, foi muito de repente, todos ficaram assustados. É uma cidade com menos de dez mil habitantes, todos ficaram sabendo, foi um choque para a cidade.

— Quantos anos ele tem?

— Vinte e quatro, mas chegou com dezesseis. Oito anos e ninguém sabe qual é o problema. Já fizeram todos os exames possíveis, os pais pagaram para tratamento em cidades grandes, porém nada adiantou, então ele voltou para cá.

— Ele toma que tipo de medicamentos?

— Apenas calmantes, assim fica dormindo a maior parte do tempo, pois ele tende a perturbar bastante as pessoas, mesmo estando em um quarto de segurança máxima. O tratamento acaba sendo psicológico, no entanto, todos os que contratamos não aguentaram ficar nem duas semanas. Justin é praticamente um caso perdido, mas eu e seus pais não desistimos. Tem que existir algum motivo para que ele tenha ficado dessa forma.

— Você quer que eu descubra um possível motivo, além de ajudá-lo, certo? — deduzi, então ela concordou. — Cloe, você sabe que eu sou recém-formada, não sei se tenho essa capacidade. A forma como ele me olhou... Não sei, parecia que queria me matar.

— Ele quer matar a todos, inclusive a si próprio — suspirou. — Bem, acho melhor irmos andando, ainda temos que cuidar de toda a papelada da sua contratação. Você vai se sair bem, Nora, tenho certeza disso — ela sorriu para mim, mas não um sorriso de confiança, era mais um de "boa sorte".

Apenas respirei fundo, seguindo-a até sua sala. Alguns pacientes passavam por nós, fazendo um completo misto de emoções, pois uns eram agradáveis, outros te faziam querer sair correndo. Aprender a conviver ali todos os dias seria difícil e perturbador, mas eu faria o possível, afinal, aquela seria minha vida dali em diante.

— Você começa hoje mesmo, mas antes vou lhe explicar exatamente como serão as consultas.

— Tudo bem — respondi, engolindo em seco.

— Você não estará apenas responsável pelo tratamento psicológico de Justin, também fará isso com outros pacientes, mas Justin é o principal. Para os pacientes mais calmos e que não necessitam usar camisa de força, você terá uma sala para tratá-los com mais conforto. Já para aqueles que precisam, nós temos uma sala apropriada, com paredes acolchoadas e máxima proteção, apenas duas cadeiras, uma para você e outra para o paciente.

— Como eu devo falar com esses?

— Da forma que achar melhor. Você receberá a ficha de todos os pacientes que irá tratar, assim saberá as áreas em que eles precisam de ajuda. Justin é um caso especial, pois ninguém sabe muita coisa, apenas sobre o que ele era antes de se tornar o que é hoje. Talvez seja uma boa ideia fazê-lo voltar ao passado.

— Certo — assenti com a cabeça.

— O próximo passo, após terminarmos aqui, será conhecer a clínica. Emma irá te acompanhar pelos dois andares e mostrar todo o necessário, assim como te apresentar a alguns pacientes também, aqueles mais calmos.

Mental DisorderOnde as histórias ganham vida. Descobre agora