27| O Grande Fundador

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Um sorriso ameaçou sair do canto da boca dele.

— Alguns. Não é como você imagina. Cada humano tem um chamado maior do universo. Assim é com os anjos humanos, cada um tem sua missão. A minha é seguir missões designadas somente a mim. Alguns tinham a capacidade de ensinar como Marley, considerando que ele era lento demais para guerrear, se é que me entende...

Liz gargalhou.

— ... Ou a de lutar pelos direitos humanos como Chaplin, alguns, como Lutero, lutaram pela falsa doutrina que a igreja católica pregou durante a Idade Média, sobre Newton, bom, dizem que o foi o melhor guerreiro de sua época, isso sem contar os cálculos que revolucionaram a astronomia. — Seu peito inflou após pronunciar tais palavras, recuperando o fôlego para possíveis outras explicações. Rafael não tinha paciência para aquilo, mas gostava quando as pessoas o escutavam com atenção, como Liz naquele momento. — É isso que nos diferencia dos meros mortais. Fazemos a diferença.

Ele inclinou levemente o pescoço, encontrando o olhar dela sobre si. À luz baixa que as luminárias proporcionavam, as íris dela pareciam brilhar como ouro sendo forjado no fogo.

— Alguns, como Einstein e da Vinci, mudam a locomotiva da história. — ele mordeu a lateral do lábio inferior. — Ainda não sabe de nada, Verlack.

Ela olhou para cima rapidamente.

— E o que está esperando para me mostrar tudo?

Rafael esboçou um sorriso malicioso.

— Uma ocasião mais apropriada.

Liz corou como se tivesse mergulhado o rosto em um pote de blush e mordeu os lábios fortemente, percebendo tarde demais o duplo sentido.

Ele saiu do lado dela e andou até o sofá em que antes Liz estava sentada, chamando-a com um aceno de cabeça.

— Senta aí. — ele falou, se acomodando no móvel sem muitas formalidades, com os cotovelos sobre o estofado, apoiando o tronco e as pernas jogadas. — Tenho uma história para lhe contar.

Ela soltou o ar que comprimia e deu meia volta, sentou-se no braço do móvel, de frente para Rafael, e apoiou os cotovelos nos joelhos. Notou que ele estava analisando o livro que havia pego na estante.

Liz entrelaçou as mãos no cachos.

— Rafael — pronunciou e ele levantou a cabeça para fitá-la, tirando uma mecha de cabelo do rosto. — Eu não sei mais quem sou, sabe, é tudo uma grande luta na minha mente. — disse e seus lábios permaneceram entreabertos.

— É questão de controle, a mente é uma fera selvagem, domine-a e verá o quão poderosa é.

Liz o encarou e por um segundo acreditou que se afogara naqueles olhos penetrantes que a olhavam com precisão.

— Você fala como um filósofo renascentista.

Eles trocaram sorrisos e Liz desviou o olhar para as grandes janelas.

— Deve estar uma loucura, não é? — ele perguntou, sem tirar o olhar dela, alguns cachos estavam soltos do coque apressado que ela havia feito. Rafael sentiu um formigamento entre os dedos indicador e polegar, sempre tinha sensações como aquela quando desejava desenhar algo.

Liz afirmou com a cabeça, mas, era um dos momentos em que ela estava dentro de si mesma e só depois de voltar a vida real pode prestar atenção no que ele havia perguntado.

— Quer dizer, não. Está uma luta, mas não uma loucura, não mais. Eu sempre soube que fazia parte de algo mais profundo, como se tivesse algo de mim que eu não conhecia. No fundo, tudo está começando a fazer sentido. Sempre senti que tinha algo que mais ninguém tinha, um propósito importante para viver aqui, talvez... — Talvez fosse uma covarde por tentar fugir de algo que não tem fuga.

As Doze Luas - Filhos do AlvorecerWhere stories live. Discover now