Capítulo 19 - O lobo

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Já passava da hora do almoço quando Lyriel ficou sabendo do prisioneiro.

Haviam procurado Eladar por toda a manhã. Dufel andara pela cidade de cabo a rabo, buscando qualquer sinal de seu amigo ou informações que pudessem ser úteis. Rekdan e Thomas haviam mobilizado alguns homens e mulheres da milícia para procurar pelas fazendas vizinhas e bosques mais próximos. Em um deles, Driali e Dara acharam algo, ou melhor, alguém. 

– Você está muito nervosa, prima – Lena dizia, correndo o mais rápido possível com suas pernas de anã – Acalme-se, por favor!

Lyriel bem que estava tentando. Até o momento de deixar Clahel com Meav, tinha conseguido manter algum equilíbrio para sossegar sua priminha e inventar uma desculpa qualquer para a falta de El. Mas agora, as lágrimas voltavam a brotar, e tudo o que ela queria era chegar à sede da milícia, mesmo que tivesse de andar debaixo daquela maldita chuva que não parava...

E que deve estar molhando meu mano até os ossos em algum lugar.

– Você ouviu o recado que o mensageiro trouxe, Lena – Lily falou – Encontraram alguém suspeito. Eu preciso ver quem é, preciso falar com essa pessoa, nem que seja a última coisa que eu faça nesta minha vida.

Lena conseguiu sorrir por debaixo do capuz. Lyriel era mesmo dramática, mas o era tão naturalmente que a garota sempre soava sincera. As duas prosseguiram, desviando de poças enlameadas e de alguns poucos pedestres. As ruas continuavam mais calmas por conta do aguaceiro, mas, depois de quase dez minutos, elas toparam com algo que destoava da paisagem preguiçosa que tinham visto até ali. Em frente a um prédio com dois andares, de arquitetura sóbria e poucas janelas, um pequeno grupo de homens e mulheres agitava-se, falando com alguém que as duas ainda não conseguiam enxergar. O grupo era composto por membros da milícia; eles vestiam fardas azuis marcadas pelo símbolo da cidade – duas mãos entrelaçadas. Quando as duas garotas se aproximaram mais, puderam ouvir o motivo da discussão.

– É verdade? – um homem troncudo e de cabelos negros perguntava – Encontraram mesmo um dokalfar?

Ao ouvir a palavra "dokalfar", Lyriel sentiu suas pernas fraquejarem. Teve de ser amparada por Lena.

– Será que vão sacrificar o clérigo em algum ritual? – uma mulher de cabelos já grisalhos levantou a questão – Esses elfos negros são muito esquisitos... eram agentes de Rodrom décadas atrás!

– Pessoal, pela Lua! – era Dufel que falava com a turba de guerreiros – Foi um mal-entendido! Encontraram um forasteiro inconsciente, sim. Não é um dokalfar, é só um homem moreno. Ele pode ter sido atacado pela mesma pessoa ou grupo que levou Eladar, por isso o trouxemos para cá... para investigar, ver o que ele sabe. Mas, é óbvio, se vocês ficarem aqui gritando e empunhando seus forcados de linchamento, não vamos conseguir muita coisa. Dispersem-se, sim? Meu pai pediu para irem trabalhar, por favor... eu acho que....

De repente, o bardo avistou Lily. Ao vê-la pálida e sendo apoiada por Lena, marchou até ela, quase derrubando um ou dois soldados a cotoveladas.

– Com licença! – ele berrou – Satisfeitos, seus idiotas? Vão trabalhar, em nome da Deusa, e respeitem a família do meu amigo antes de sair falando besteiras por aí. Sacrifício! Onde já se viu...

Lyriel tratou de firmar as pernas e dispensou a ajuda que Dufel oferecia com um gesto suave.

– Não, Dufel – ela disse – Estou bem, obrigada. Tome cuidado... vai apanhar da próxima vez que os chamar de idiotas.

– Ora, eles que venham tentar me bater! – ele bufou, aborrecido – Agora, vamos sair desta chuva...

Dufel guiou a elfa e Lena até a entrada da milícia, onde elas estariam protegidas do temporal. Lá dentro tudo parecia estranhamente silencioso.

Sombra e Sol (EM HIATO - autora teve bebê)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora