10. Natal em São Paulo

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22 de dezembro, sexta-feira.

Eu não morri! Apesar de todas as circunstâncias, descobri que sou mais forte do que imaginava.

Houve sim um assassinato. Naquela hora, naquele lugar, uma garota que nunca vi na vida, mas cujas madeixas marrons lhe chegavam à cintura. Fora assassinada ali, naquele local e hora, mas ninguém sabia o porquê. Apenas, que quando nossos corpos foram encontrados, acharam que eu estivesse morta também.

Mas não estava. Ainda não!

Meu corpo estava dolorido a cada canto. Minhas pálpebras pesavam quando tentei abrir meus olhos.

- O que... o que... aconteceu? - minha garganta doía, e estava seca pela falta de saliva.

- Você está bem, querida! Mas pode descansar por mais alguns dias se precisar. - uma voz feminina e simpática respondeu, falando mansamente.

- Dias? - retornei, achando estranho o uso daquela palavra.

- Você deu entrada aqui quarta-feira.

- E hoje...?

- É sexta. Você sofreu ferimentos muito sérios. - ela deu uma pigarreada.

- Anna? - perguntei, só agora reconhecendo a voz de minha protetora. Estava acostumada com o timbre ríspido, não quase melodioso como agora.

- Sim, querida. Como está se sentindo? - ela sentou perto de mim na cama, medindo minha pressão.

- Viva. - respondi, engolindo em seco. Poderia ser óbvio, mas não me sinto verdadeiramente viva há um bom tempo. - O que... Aconteceu? - retornei a pergunta, sentindo a saliva de minha boca acabar de vez. Ela me deu um copo de alumínio, cheio de água. Agarrei-o com as duas mãos, ingerindo rapidamente o conteúdo.

- Você foi atacada. - ela respondeu solícita, parecendo medir cada palavra dita para não me deixar assustada. - Teve ferimentos na cabeça, mas graças à ajuda dos seus amigos você foi encontrada a tempo. Agora você está na Enfermeira, do Chambre da escola. E a outra garota, teve seu enterro ontem à tarde. Não sabemos quem era.

- Onde eles... Estavam? - perguntei, me referindo ao desencontro com meus amigos no Covil.

- Pergunte você mesma. - ela falou, apontando para Ellen e Nicole, que me sorriam ao longe.

Elas se aproximaram do leito. Nicole afagou minhas madeixas e deu um sorriso de canto bem meigo. Ellen segurou minha mão.

- Você deu um susto danado na gente. - disse, parecendo se controlar para não chorar.

- Foi a cena... Mais horrível que eu... Já vi. - Nic desatou a chorar, tirando um lenço de sua bolsa. - Você tá... Melhor? Nós ficamos... Preocupadas quando te vimos... Naquele estado.

- Como me encontraram? - perguntei, entregando o copo para Anna.

- Quando passamos pela porta, saímos perto de uma loja de doces. - Ellen começou a explicação. - Bernardo foi o último e percebeu que você não estava com a gente. Tentamos abrir a porta de novo, mas ela emperrou, não sei. Rodamos em volta do brinquedo, e encontramos uma saída de emergência. Entramos por ali mesmo, mas ficou tudo muito escuro. Demoramos um bom tempo para encontrarmos a porta para a sala do Covil. Quando entramos, vimos uma pessoa segurando você, e jogando para o outro lado. E havia o corpo de outra moça. Mas essa já estava no chão, sem vida. Foi tão brutal, você não faz ideia. - Ellen fez uma pausa, limpando uma lágrima que lhe escorria.

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