2. Um corpo no banheiro

306 31 24
                                    


Fomos para a parte do salão onde a balada acontecia. Devo confessar que o ambiente até pareceu "bonito", os globos de luz brilhando no teto. O salão era pequeno, ou pelo menos, aparentava ser, com o aglomerado de pessoas espremidas que ali se encontravam. Algumas mesas estavam dispostas em círculos, cobertas por toalhas brancas. As cadeiras divergiam entre o estofamento branco e vermelho. Bem no meio uma pista de dança, com os pisos ladrilhados em led.

Tocava uma música eletrônica bem agitada.

- Oh, ali está ele. – consegui ouvir Kátia dizer, apontando com o dedo indicador para alguém que eu não conseguira identificar. - Nat, queremos que conheça um amigo nosso...

Revirei os olhos, fazendo a conta mental. O tal amigo deles seria o sétimo cara que essas duas cabeças duras tentavam arrumar para mim só esse ano. Nunca entendi o porquê delas se preocuparem tanto com minha vida amorosa, mas eu sempre dei um jeito de me livrar de cada um.

- A fila no banheiro estava enorme. - anunciou um rapaz de tom grave que chegara por trás de mim. – Foi mal a demora.

Ah, não! Era ele. Revirei os olhos, ao sentir aquele hálito mentolado em minhas costas. Reconheci, sem precisar virar o pescoço, o timbre daquela voz. Marcos Alberto Lancastre, o irmão de João.

- E essa é nossa segunda surpresa. – Kátia olhou maliciosamente de mim para Marcos.

- Como assim segunda surpresa? - perguntei pasma, sentindo minha pele enrubescer. Minha face parecia querer queimar sob minha pele frágil.

- Nós só achamos que vocês não tiveram a oportunidade de se conhecerem bem. - Davi justificou, falando comigo como se eu fosse um ser de outro mundo.

Essa era a parte mais chata de se ter amigos mais velhos, e que namoram. Não de que isso tenha importância para mim. É só que é muito chato sair com um casal e ficar sozinha. É estar "forever alone" e de "vela". Ou "forever velone", então, eles faziam tudo para arranjarem alguém para mim, assim eu não ficaria sozinha enquanto estava na companhia dos casais.

Talvez Catarina insistisse no Marcos, para ficar tudo em 'família', já que ele é irmão do namorado dela.

Fiquei cabisbaixa por alguns segundos, provavelmente com as bochechas em vermelho fogo.

- Não sabia que agora vocês passaram a comercializar pessoas também. - exclamei sem pestanejar. – Posso fazer devolução desse item? – apontei para Marcos, e dei um riso sarcástico. A feição de Catarina para mim não foi das melhores.

- Carrancuda desse jeito, vai morrer solteira! – João alfinetou.

Prefiro passar a eternidade sozinha à com alguém que tenha parentesco com você, babaca.

- Em algum momento eu disse que estava a procura de um relacionamento?

- Quem foi que falou em relacionamento? – Kátia interferiu, curvando os lábios para a direita. – Nós só não queremos que fique sozinha na sua festa de formatura. Você precisará de uma companhia para dançar. – e retomando o fôlego, continuou. – Agora parem de discussões desnecessárias!

Antes que eu pudesse responder alguma coisa, eles saíram e não me restou escolha, a não ser ficar ali na companhia de Marcos. Não que sua presença não pudesse ser agradável. É que já era muito frustrante para mim, que meus avós não tivessem trocado a formatura da única neta, por um bingo ridículo, enquanto minha amiga me abandonava no meio da pista de dança.

- Então, Natinha... Quer dançar? – perguntou ele, um pouco tímido e ainda pensativo se deveria fazer o convite após a pequena troca de farpas com o irmão dele.

Meninas de SedaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora