Capítulo Nono

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ARTHUR E SUAS TROPAS permaneceram em Timari por uma semana. Nove dias — segundo o calendário ingariano.

O plano inicial fora deixarem o castelo tão logo tivessem lidado com o exército inimigo e Arthur resgatasse Thalia, certamente. Mas dada a forma inesperada como tudo ocorreu, adiar a partida não foi uma opção, mas uma medida necessária.

O ferimento de Thalia era ainda mais grave do que Arthur temia. Como cavalgar com um exército até Timari consistia em uma jornada com dias de duração, nunca arriscaria tal viagem no estado delicado em que ela se encontrava. No fim, decidiu por apenas deixar o castelo quando a recuperação fosse definitiva. Por suas ordens, o acampamento na clareira foi desmontado e o restante dos homens Lown se juntaram ao grupo principal em Timari.

Thalia foi instalada no quarto de Atwood Sênior, na enorme cama do lorde do castelo, seus cuidados supervisionados por Mestre Sansum. Um homem velho e enrugado, porém de mãos hábeis, o mestre era o principal curador de Castelo Lown e o duque o trouxera, junto de diversos aprendizes, para cuidar dos homens do exército. O velho senhor tratava e medicava a família de Arthur há anos, fosse um simples machucado resultante de uma queda ou uma grave febre. Thalia já fora cuidada por ele em inúmeras ocasiões na infância.

Mestre Sansum agia rapidamente e — pelo menos Arthur nunca presenciou — jamais hesitou diante de qualquer caso apresentado. Ao se inclinar para examinar o ferimento de Thalia, porém, ele engoliu em seco e sacudiu a cabeça de um modo apreensivo e que não passava muita confiança. Arthur não gostou um pouco disso.

Ele deu-lhe uma poção para aliviar a dor. Limpou o ferimento e o fechou, suturando a área, e aplicou uma mistura a base de ervas sobre o machucado para ajudar na cicatrização e evitar que inflamasse.

— Isso é tudo o que posso fazer no momento, senhor.

O duque se sentou, então, ao lado da cama e fez a única coisa que podia: esperar.

Como Arthur se recusava a deixar Thalia por um minuto que fosse, John, como seu braço direito, assumiu o comando do exército e supervisionou os homens nos reparos de emergência feitos na parte derrubada do muro. Apesar de estarem ausentes, havia uma guerra civil acontecendo pelo reino. E serem pegos de surpresa por outro exército nesse momento era a última coisa que queriam.

O castelo estava bem provido. E os empregados que antes serviam aos Atwood — os que sobreviveram, isso era — tendo sido salvos e se sentindo gratos, mostraram-se tão dispostos a cooperar com os homens de Arthur quanto haviam para servir seus antigos senhores.

Aqueles foram os dias mais longos da vida de Arthur, não tinha dúvida disso. Parecia que os minutos não passavam, que o próximo dia não iria chegar. Não possuía sono nem fome. Era triste simplesmente assistir de forma impotente enquanto Thalia agonizava e a força se esvaia pouco a pouco de si.

Bastante fraca, precisava ser alimentada com colher. O ferimento fez com que desenvolvesse uma febre forte. Suando, passava a maior parte do dia inconsciente e, nas pouquíssimas ocasiões as quais se encontrava desperta, não parava de soltar gemidos e murmurar coisas.

— Salve-o. Salve-o. — Sempre as mesmas palavras. Na mesma voz fraca.

Ela falava do garoto, claro.

Descobrir sobre ele fora inesperado.

Quando a empregada anunciou que o bebê nos braços da babá se tratava de seu neto, Arthur ficara paralisado. Não proferira uma única palavra até que a babá olhou para ele timidamente e sorriu. Andando até ele, perguntou se gostaria de segurar o bebê.

O Propósito dos DeusesDonde viven las historias. Descúbrelo ahora