Capítulo Quarto

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NOS DIAS QUE SE SEGUIRAM, o exército de Arthur passou perto de muitos lugares, de enormes cidades muradas a pequenos vilarejos compostos por cabanas. Das colinas verdes ladeando o Rio Florus, passaram por Anthom, e de lá para Westfield, Lemak, Elgin, Daffold, Rivercross, Richtom, Gelleth e Tempa.

Viram vários campos e fazendas que, assim como aqueles por qual passaram antes, haviam sido invadidos e os habitantes assassinados a sangue frio.

Arthur via pessoalmente aquilo que até então só sabia por notícia: trilhos bloqueados, os trens incapazes de passar; as antigas carroças azuis que viajavam pelo interior entregando correspondências não podiam ser vistas em lugar algum, já que o correio havia sido interrompido em quase todo o reino. E todas as cidades muradas mantinham os portões fechados. As silhuetas de arqueiros podiam ser vistas patrulhando as muralhas, atentos a inimigos.

No oeste, a maioria das cidades e castelos importantes havia sido conquistada por Maud. À medida que progrediam rumo ao leste, porém, Arthur notou a ocupação pelas tropas de Leor. A bandeira com o dragão dourado sobre fundo azul-claro predominava sobre as muralhas da maioria das cidades.

Formavam uma longa coluna, três homens cavalgando lado a lado.

Seguiam principalmente por bosques para evitar outras tropas, utilizando estradas apenas quando era realmente seguro. Tinha batedores adiante, atrás e em ambos os flancos da coluna. Cavalgavam a alguns quilômetros de distância deles, prontos para informar Arthur se vissem algum inimigo. Alguns metros atrás do duque, dois porta-bandeiras carregavam os emblemas da família Lown. Em ambas as bandeiras se via uma pomba cinza carregando uma mensagem presa à pata sobre um fundo azul, representando o céu.

Bandeiras erguidas tinham muitos significados: podiam ser o simples anúncio de um senhor rico e de sua comitiva, ou o de um comissário carregando uma mensagem de seu mestre. Nesse caso, a bandeira estava hasteada para informar que seguiam para a batalha. Que o Duque Arthur Lown viera para salvar a filha.

Já era noite e eles haviam parado para acampar.

Os comandados estavam do lado de fora, reunidos ao redor de fogueiras. Cantavam, contavam piadas e bebiam — o que guerreiros geralmente faziam para fermentar o ânimo quando uma batalha se aproximava. Arthur, no interior da tenda, sentava-se à mesa, lendo.

Um de seus escudeiros perguntou se gostaria de algum assado para o jantar, mas ele fez que não com a cabeça.

— Apenas um pouco de vinho e pão.

— Como quiser, senhor.

Após o rapaz lhe servir, Arthur o dispensou e ficou novamente só.

Alguns minutos haviam passado quando um servo anunciou um visitante e John Starkshield, sua pele cor de café contrastando com a barba grande e alva, se precipitou na entrada da tenda.

— É uma hora ruim?

Arthur sacudiu a cabeça e forçou um sorriso no rosto.

— Nunca é uma hora ruim para ter sua companhia, velho amigo. Sente-se.

John devolveu o sorriso e atravessou o interior da tenda, sentando-se de frente para ele. As velas do candelabro sobre a mesa eram a única fonte de luz ali, uma vez que Arthur não trouxera com o grupo nenhum sacerdote-mago para conferir outro tipo de iluminação. Sob seu brilho amarelado, ele via o braço direito e amigo.

Era um homem alto, de peito vasto e ombros largos. Como o resto do grupo e o próprio Arthur, John Starkshield usava peitoral de aço sobre a cota de malha e as vestimentas de tecido grosso. A espada ficava embainhada na cintura noite e dia, precaução adotada para o caso de serem atacados de surpresa por outro exército.

O Propósito dos DeusesWhere stories live. Discover now