Capítulo Segundo

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ENQUANTO CONTINUAVAM A cavalgar, Arthur notou que o filho de Grubkly não era o único se sentindo desconfortável com a situação.

Apesar dos outros fazerem um trabalho melhor em omitir a expressão, Arthur percebia do mesmo modo. Os semblantes cabisbaixos e falta de humor denunciavam o temor e a desmotivação. Uma ou duas vezes flagrou alguns dos homens olhando-o fixamente e então, quando encarava de volta, viravam as cabeças depressa.

Eram seiscentos homens ao todo, os que o seguiam. Não contando os servos encarregados de cuidar dos cavalos e das carroças com as provisões. Todos usavam cota de malha e pedaços de armadura por cima; possuíam espadas e escudos e, assim como Arthur, montavam cavalos. Starkshield, Grubkly e os outros... Eram seus melhores homens e os mais confiados por Arthur.

Trouxeram consigo os próprios vassalos, das cidades pequenas governadas; homens que lutaram em guerras anteriormente, muitos com um orgulhoso Sai no começo do nome, a exceção de alguns rapazes — como Paul — acompanhando os pais para ganhar experiência no campo de batalha. De todo modo, Arthur sabia ter consigo bons guerreiros.

Quando tomara aquela difícil decisão de atravessar o reino em meio a uma violenta guerra para chegar ao castelo, ele foi bastante claro ao reunir os vassalos e lhes contar o que pretendia fazer. Arthur garantiu que soubessem que, ao segui-lo, estariam quebrando um juramento, e acarretando para si muitos problemas.

Todos sabiam que, sendo seus subordinados, tinham de se juntar a ele em qualquer serviço que os comandasse, mas Arthur disse que não os obrigaria a tal coisa. Estavam livres para escolher entre vir ou não. A maioria veio, porém — um ato que fez seu coração bater mais forte ao ver quantos homens leais possuía.

Desde a partida de Qallendar, vinham cavalgando da manhã ao anoitecer. Fazendo pausas curtíssimas para o almoço, e apenas paravam ao pôr do sol, uma vez que após isso, seria praticamente impossível continuar pelo escuro em um grupo do tamanho do deles. Estava sendo imprudente: era sem sentido fazer cavalos seguirem o dia inteiro em passo tão acelerado. Mesmo cavalos de guerra podiam quebrar uma pata — sabia muito bem.

Ele mesmo podia sentir o preço de cavalgar por um longo período pesando-lhe nas costas. Em outros tempos, Arthur cavalgaria o dia inteiro e uma boa noite de sono seria o suficiente para restaurá-lo. Agora, com a idade chegando, percebia o enfraquecimento dos ossos. Ao invés de se sentir melhor, acordava no dia seguinte apenas para sentir ainda mais dor e o fato de usar a armadura pesada o dia inteiro não contribuía. Contudo, não se importava se a dor nas costas piorasse ou não. Temia apenas chegar a Timari tarde demais. Então, mantinha o passo.

À medida que a coluna movia, Arthur não pôde evitar pensar no motivo que iniciara aquela jornada em primeiro lugar.

A imagem da manhã gelada, quando partiu de Qallendar, estava vívida na cabeça. Antes de montar o cavalo, a esposa, Joana, lhe tomou ambas as mãos. Segurando-as com força, disse em uma voz tão suplicante que quase lhe afundara o coração:

— Traga-a de volta. Por favor, Arthur. Traga nossa filha para casa em segurança. Por favor.

Ele prometeu fazer.

E de fato o faria. Mais por si do que por Joana, essa era a bem da verdade.

Sua preocupação consistia no que diria a Thalia no momento em que se reencontrassem. Parecia ter passado dezenas de anos desde a discussão e a partida da filha. Porém, apenas um ano transcorrera e o lar dos Lown nunca mais foi o mesmo.

Com Thalia afastada, a felicidade simplesmente desapareceu. Todas as noites, deitava-se com Joana e, após alguns minutos, quando ela, provavelmente, pensava que ele dormia, ele a escutava chorar suavemente ao seu lado.

O Propósito dos Deusesحيث تعيش القصص. اكتشف الآن