2- That good smell.

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Acordei antes do despertador, talvez a praga que jogaram em mim tenha passado ou é porque eu ainda estava temendo aquele assunto da vaga do carro. 

Ser metralhada com aqueles olhos maravilhosos de Regina não estava nos meus planos hoje ou estava, não sei.

Me levantei e me arrastei até o banheiro e tomei meu banho mais tranquila dessa vez, sai do mesmo com a toalha presa em meu corpo, fui caminhando até o guarda-roupa e passei longos minutos ali até perceber que eu definitivamente não tinha nada além de calça jeans e camiseta. Lamentei por não ser uma patricinha viciada em shopping. Depois de muito procurar, finalmente encontrei um vestido no tom sutil de rosa, com decote em "V", obviamente não foi comprado por mim. Terminei de me preparar, amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo bem alto e coloquei o mesmo salto do dia anterior. Ruby de fato seria a minha salvação para garantir o meu emprego.

—Olha quem vai ter um encontro logo pela manhã.— Granny falava enquanto folheava uma revista no andar onde estava, ela tinha um microfone e a caixa de som era espalhada pelo prédio inteiro, caso ela tivesse que fazer um aviso, com isso ela adorava me espionar para fazer algum comentário.
—Encontro? Não, estou indo trabalhar vovó.— Rindo, parei em frente a escada e esperando para ouvir o que ela iria falar.
—Bom, então com certeza lá tem alguém por lá que você quer impressionar, não é mesmo? — Engoli seco na hora e travei minha respiração por alguns segundos.

Como assim, impressionar? Não, claro que não. Essa vovó estava dia mais cheia de graça.

— Claro que não. — Gaguejei um pouco.
—Isso não importa, pequena menina, o que importa é que você se livrou daquela jaqueta de sempre e das botas. Está muito bonita.— Balancei a cabeça negativamente, sorrindo. 
—Obrigada, vovó. — Desci as escadas na hora, caminhando até a garagem.
—Só não se ache muito.— Consegui ouvir de longe e novamente ri baixinho.

Entrei no carro e sai, fui diretamente para um drive-thru do starbucks e pedi dois cafés com pouco açúcar, canela e ambos com chantilly, esse era o meu predileto também, por mais incrível que pareça. Não sabia se Regina gostava de chantilly, na verdade eu não sabia nada sobre ela, no primeiro dia ela simplesmente não me falou nada, mal conversou comigo, ela simplesmente me dispensou de sua sala na primeira oportunidade que teve e nem me olhou para isso. Se bem que se ela tivesse olhado, existia uma grande chance de eu morrer sem oxigênio naquele lugar. Não entendi muito bem o que aconteceu naquele momento, mas a sensação dos olhos de Regina em minha direção causaram esse desconforto e eu simplesmente não sei o motivo.

—Senhora? — A moça gritou, me fazendo sair do transe e voltar minha atenção a ela.
—Sim?— Respondi.
—É só pegar seu pedido um pouco mais à frente.— Olhei no retrovisor e havia uma fila de carros atrás do meu, alguns deles até buzinaram.
—Me desculpe.— Paguei, retirei o pedido e segui diretamente até a empresa. Como cheguei um pouco adiantada haviam vagas, tratei de deixar o meu carro o mais longe possível do carro de Regina, ainda estava torcendo para que ela não soubesse que todo o caos da vaga era culpa minha. Entrei e dei de cara com Ruby que sorriu e veio em minha direção.
—Olha ela! Que orgulho. — Ela expos seus dentinhos brancos em um sorriso sincero.
—Não conseguiria nada sem você.—Deu um tampinha em meu ombro, se gabando e eu sorri.
—Não seja por isso. Mais tarde ainda vamos no shopping, certo?— Ela disse se afastando para a recepção novamente.
—Claro que sim.— Levando em consideração o brinde da empresa, eu deixaria meu primeiro salário inteiro no shopping.

Entrei no elevador e assim que cheguei no andar correto, caminhei até a minha sala, larguei lá a minha bolsa, meu café e fui até a sala de Regina, ajeitei o café dela em cima de sua mesa e respirei fundo, tinha um ótimo cheiro de maçã e era um pouco doce também, completamente satisfatório e sem dúvidas era seu perfume. Ouvi o elevador fazer um barulho indicando que alguém provavelmente desceria naquele andar, o que me fez correr de volta para minha sala e sentar na cadeira de trabalho, liguei o computador e fingi que estava ali o tempo todo.

Era Regina, ela novamente estava falando no celular, passou reto e algo me diz que nem ao menos notou a minha presença, o que me incomodou por algum motivo. Usava um vestido preto, totalmente colado no corpo definido que tinha, não evitei de perceber ela por inteiro, cintura deslumbrante, a curvatura perfeita de sua bunda, um decote quadrado que respeitava bastante o tanto que era exposto de seus seios e novamente aqueles óculos sobre o rosto, ele com certeza deixava ela ainda mais bonita do que já era. Porque sem dúvidas, ela era!
O cheiro novamente invadiu meus pulmões sem nenhuma solicitação, ela realmente tinha aquele cheiro maravilhoso em sua pele e isso mexia comigo.

—Tudo bem, faça o que quiser, mas já disse que não vou passar aí essa noite!

Ela estava brigando com um namorado? Ruby não havia me falado da existência de um possível namorado.  Por que ela falaria, não é mesmo? E claramente Regina tem, tão bonita do jeito que é, impossível não ter alguém rendido aos seus pés. Por que estou pensando nisso?

—Senhorita Swan, pode vir até a minha sala?— Aquela voz firme, certa do que queria, havia me tirado do transe. Parei por um instante e sem virar o rosto, pude sentir seu olhar em mim lá de sua sala, respirei fundo e me levantei, ajeitei o vestido e caminhei até sua sala.
—Sente-se.—Ela apontou para a cadeira e eu sentei. —Bom, consegue ver essas duas agendas? São suas. — Olhei para a mesa onde se encontrava duas agendas, uma vermelha e outra bege, peguei as mesmas e repousei em meu colo.
—Na vermelha irá anotar minhas coisas pessoais, o que eu tenho que fazer, o que eu não posso fazer e com quem eu devo ou não falar. Já na bege são coisas profissionais, reuniões, papeladas, entrevistas. Eu respeito a tecnologia, mas me organizo melhor com coisas escritas. Entende?— Ela não me olhava nos olhos enquanto falava, estava de olho em seu computador e eu apenas balancei a cabeça positivamente, pois havia entendido bem.

Levou sua mão para tirar a tampa do café e seu dedo indicador contornava o círculo da boca do copo, meus olhos desceram para assistir aquela cena e simplesmente travaram. A sala novamente começou a ficar sem ar ou eu estava com problemas respiratórios, a presença de Regina estava me afetando de um jeito que não me deixava entender.

—Use a boca, senhorita Swan.— Seu cotovelo estava apoiado sobre a mesa e seu queixo encostado em sua mão, seus óculos estavam um pouco caídos sobre o nariz, me dando total visão de seus olhos que voltaram a me pressionar. Abri a boca para responder, nada saiu, com toda certeza estava parecendo uma completa idiota, mas é que existem tantos contextos para o que foi dito.
—Sim, é claro.— Consegui. Talvez fosse pela autoridade que ela mantém em mim, mas minhas bochechas coraram em um tom de rosa e eu voltei meu olhar para Regina que ria sutilmente, como se ela soubesse o que se passava comigo.
—Pode começar agora, anota na vermelha que tenho um encontro amanhã às 21:00 no Heller's. — Ela não tirava seus olhos de mim em momento algum, apenas movimentava seus lábios perfeitamente desenhados quando passava a língua por eles ao umedecê-los.

Um encontro? Em um dos restaurantes mais caros da cidade? Sério?

Ela apontou a caneta em minha direção para que eu pudesse pegar de sua mão e eu demorei um pouco para raciocinar isso, cruzei minhas pernas e apertei, arrumando o vestido que parecia ter ficado dez vezes mais justo, Regina acompanhava tudo com os olhos na maior cara de pau e eu podia sentir seu olhar me medindo centímetro por centímetro, me fazendo ficar cada vez mais desconfortável. Finalmente levei minha mão até a dela e peguei a caneta o mais rápido que pude, minhas mãos estavam molhadas, mas fiz o possível para escrever tudo corretamente e assim que já estava feito, consegui respirar um pouco melhor, foi o suficiente para sentir o perfume de Regina dominar meus pulmões mais uma vez.

— Pronto? É só isso?— Falei com um pouco de dificuldade, ela novamente voltou seu olhar para o computador com uma expressão mais séria e concordou com a cabeça, então eu tentei sair de lá rápido, mas sem parecer uma louca que estava sendo perseguida. Logo me sentei de volta em minha cadeira e pressionei as duas mãos sobre o rosto que estava totalmente quente.
— Deuses, o que é isso que essa mulher está fazendo comigo?— Sussurrei e tomei meu café de uma só vez, como se ele fosse alguma bebida alcoólica.

Voltei meu foco ao computador, me esforçando ao máximo para não ficar olhando Regina do outro lado a cada segundo que se passava e parecia que estava demorando uma década para passar.

M̶Y̶ ̶M̶Y̶̶S̶T̶E̶R̶Y̶̶.Where stories live. Discover now