— A primavera? — sua voz, ainda um tanto perdida, soou abafada contra meu peito.

— Vampiros não resistem à primavera.

— Primavera — ela se remexeu em meus braços. — Por que?

Brie parece tão confusa, como se nosso beijo tivesse roubado parte de sua mente.

— O sol, meu anjo. Eu viro churrasco, ao sol.

Ela não achou a mínima graça na minha piada.

— Mas... — Brie se afastou sem soltar meu corpo e me lançou um olhar preocupado e doce. — Será que você não pode morar no meu porão? — um sorrisinho manchou sua preocupação. — Eu fico lá com você o dia todo, posso até caçar para você.

Eu ri um pouco, um sorriso confiante de mais para alguém tão instável.

— Não pode, não é? — deduziu ela. Foi preciso afirmar. — Para onde você vai?

— Eu não sei. O Nicho... Oh, eu deixei o Nicholas sozinho!

Brie gargalhou, eu gargalhei.

Esse é um daqueles momentos quais queria poder congelar e guardar no bolso, ou na carteira, para ver sempre que quisesse sorrir.

Sem aviso prévio, o peso da despedida caiu sobre nossos ombros. Nossos olhos se cruzaram, afundando um no outro.

— Eu não posso ficar por muito tempo ou...

— Não, não continua — ela balançou a cabeça, vigorosamente. — Vou te perder tão cedo.

— Ei, eu vou voltar! — deslizei meus dedos por um dos seus braços, certificando-me de que não estava machucando-a. — No outono.

— Outono? — repetiu ofegante. — Vai me fazer esperar até o outono?

Me senti desmontado, desfeito, queimado e caindo em pedaços diminutos que mancharam a neve, deixando-a com uma grande mancha cinzenta.

— Eu queria tanto ficar, Brie. Você não sabe o quanto.

Ace! — Nicholas gritou em minha mente.

Não, Nick. Agora não — apertei os olhos.

Agora não? Que diabos você pensa que está fazendo? Vamos embora, agora!

Baixei o rosto e Brie me soltou lentamente — pareceu ser uma tarefa um bocado difícil.

— Preciso ir — sussurrei, soou quase inaudível.

— Não — ela tomou meu rosto em suas mãos, me obrigando a cuvar-me um pouco. — Não agora...

Seus lábios retomaram os meus e nos beijamos até que ela perdesse o ar novamente.

— Eu te amo — Brie sussurrou em meus lábios, as palavras entraram em meu corpo como raios descontrolados.

— AARO! — a voz de Nicholas ribombou pelas extremidades. Brie e eu pulamos com o susto. — Large essa humana!

Nicholas se encontrava de pé, três metros à nossa frente. Braços cruzados sobre o peito, sério de mais para o Nicholas que conheço.

— Nick, eu...

— Diga adeus e vamos — seu rosto estava duro como mármore.

— Nicholas! — gritei, implorando para ficar. Só mais um segundo.

— Isso é proibido, você vai machucá-la, ela irá te machucar... — sua cabeça ia e vinha, para um lado e para o outro, em negativa.

— Por favor — Brie choramingou, segurando minha mão.

Os olhos de Nick desceram até nossos dedos entrelaçados, um suspiro escapou entre seus lábios.

— Um. Minuto.

Como um simples sopro, Nicholas sumiu no ar. Brie piscou, voltando-se para mim e deferindo um forte abraço ao meu redor.

— Um dia não será preciso fugir do sol — ela sussurrou. — Ou, talvez, possamos fugir juntos.

Coloquei uma mecha castanha para trás de sua orelha e contemplei aquela sua expressão por tempo suficiente para que o nosso tempo se esgotasse.

Um minuto, e já acabou! — reclamou Nicholas, naquele tom obscuro que eu jamais ouvira cruzar seus lábios antes.

— Preciso ir, realmente preciso — sussurrei, tristemente, afastando minha mão gélida de seu rosto cálido. — Eu te amo — segurei sua mão e deixei algo ali, algo para ela se lembrar de mim de alguma forma.

Sorri, seria essa a expressão que eu queria guardar: a surpresa alegre de uma primavera recém chegada. Não a minha lúgubre partida.

E, parti.

Corri e corri, veloz como um raio pálido, feliz e triste ao mesmo tempo, sentindo um buraco se abrir em meu peito inútil, ouvindo o amor tentar fechar esse mesmo buraco com mãos sedosas. Corri ainda mais rápido, esperando pelo início de um verão taciturno e abandonando o doce cheiro de primavera e chocolate.

Primavera & Chocolate (livro um)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora