Capítulo 47

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— Você... Você me... Poderia repetir?

A voz de Brie farfalhou no ar, como fragmentos de uma fogueira acesa, subindo em tons escarlate para o céu nebuloso do fim de inverno — ou início de primavera.

Sorri, com lágrimas tornando minha visão turva.

— Eu te amo — repeti, com cautela. — Eu te amo — com mais coragem. — Eu te amo — com vigor. — Eu te amo! — escandalosamente.

Me aproximei dela, com repulsa e pressa dividindo meu corpo. Estendi uma mão confusa.

Brie desfez o nó dos braços e sorriu de maneira estranha, com um lado do sorriso mais largo que o outro. Mas não importa a estranheza de um sorriso, continua sendo um sorriso, afinal. E sorrisos são prólogos de acontecimentos estonteantes.

Ela segurou minha mão com uma das suas e tocou meu punho com a outra.

Eu a puxei sem medo — segure-a como a uma flor, minha mente pedia desesperadamente. Eu a segurei como uma rosa, com cuidado, pressionando uma mão na curva de suas costas e a outra afundando nos cabelos logo atrás de sua orelha.

Brie afundou o rosto em meu peito, e, naquele momento, pude me sentir humano e demônio, ao mesmo tempo, de uma única vez, segurando uma pequena faísca muito, muito, muito quente com as palmas das mãos.

Afastando-se até o ponto que conseguia me ver, Brie me encarou como se eu fosse um deus. Seus olhos me olharam ali de baixo, e eu pude ver a espessa massa de desejo manchando sua luz calida. Seus lábios, levemente entreabertos, me diziam tudo o que as palavras não foram capazes de dizer.

Permiti que Brie me puxasse para si, e eu também a puxei, mais e mais e mais, e seus lábios tocaram os meus... Eles deslizaram como seda sobre meus lábios gélidos, e eu senti como se lava rastejasse por todo o meu rosto. Me demorei um pouco, contemplando o leve tremular do corpo de Brie ao roçar o meu, suas mãos ainda perdidas, pressionadas contra meu peito, os olhos fechados... Fechei os meus. Os braços de Brie subiram até meu pescoço e ela brincou com os cabelos eriçados em minha nuca, enquanto sorria entre meus lábios.

Seu corpo pressionou-se contra o meu, até que não houvesse mais espaço entre nós. Lentamente, segui os movimentos lentos que Brie fazia, tentando encaixar nossos lábios como peças de um quebra-cabeças imutável.

Sentindo meus lábios queimarem, afastei nossos corpos famintos e uni nossas testas.

Brie não desviou seu olhar dos meus enquanto eu fazia isso. Sinto como se esses não fossem capazes de morrer, como se esses olhos fossem permanecer ali, iluminando minha escuridão, para sempre.

Nicholas me disse que, um dia, todos sempre se cansam da eternidade. E, um dia, não haverá brilho, não haverá Senhorita Mountain ou Brie, não haverá nem mesmo Ace. No entanto, talvez exista o que sinto por ela. E esse sentimento será como uma... Uma pulsar. Rodopiando, para sempre, no espaço infinito que chamamos de universo.

Abraçando-a novamente, encaixei sua cabeça sob meu queixo, sorrindo como um verdadeiro idiota.

— Você não imagina o quanto fora difícil nunca poder te segurar assim — sussurrei, subindo e descendo as mãos em suas costas, sentindo quando uma fina parte de sua pele fumegante tocou meu pulso. Próximo à mim, ela parece febril. — Eu queria tanto ter sido forte um outro dia...

— Um outro dia? — repetiu, oscilante.

— A primavera — as palavras, tão puras, soaram irregulares e amargas em minha boca. — Ela chegou...

Fechei os olhos.

Ela chegou e isso significa que eu preciso ir. Eu não posso ir. Eu não quero...

Primavera & Chocolate (livro um)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora