Desencanto

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"I might never be your knight in shining armor

I might never be the one you take home to mother

And I might never be the one who brings you flowers

But I can be the one, be the one tonight"

Clínicas de aborto deixavam que um menor de idade tomasse livremente a decisão de abortar ou não uma criança, na sociedade atual. Não era preciso muita coisa, apenas você, um documento de identidade e a passagem por um psicólogo, que buscaria saber se você realmente tinha certeza sobre aquela decisão. Você passava por ele em três sessões, durante uma semana... Ao menos era assim na clínica em que eu escolhi realizar o procedimento.

Se o psicólogo te liberasse, você estava livre para marcar o procedimento quando fosse melhor. A única coisa que eles exigiam era que houvesse uma pessoa – não necessariamente maior de idade – que fosse seu acompanhante no dia. Ele deveria ao menos ser capaz de chamar um táxi e ter certeza de que você não teria nenhuma complicação durante as vinte e quatro horas após o aborto. Esse seria Niall.

Além disso, você também tinha de deixar mais um contato... Um contato para quem eles não necessariamente iriam ligar, mas que deveria ser maior de idade e se responsabilizar por você, caso algo desse errado. Alguém para quem eles só ligariam em caso de extrema necessidade. Os funcionários de lá chamavam esse contato de “a sua pessoa”. Aquele que iria literalmente te acolher não se as coisas estivessem bem, mas se o aborto não desse certo, se você colapsasse de remorso e tivesse uma crise nervosa, se você passasse por algum mal maior... Seria aquele que receberia uma bomba no colo e que teria de lidar com ela como pudesse.

E eu dei o número de Harry Styles, o pai da criança.

Primeiro porque eu tinha dezesseis anos e nessa idade você não conhece muitos adultos de confiança além de seus pais – que estavam me dando um tratamento de silêncio nas últimas duas semanas – e depois que... Se algo realmente desse errado, se algo acontecesse comigo – finalmente – eu acreditava que ele teria o direito de saber.

Niall não tentou me dissuadir de minha decisão, nem uma única vez. Aparentemente, ele havia entendido o tamanho do beco sem saída em que eu havia me metido. Depois de tanto defender a vida daquele ser que eu carregava, ele pareceu compreender que não havia a mínima condição de eu conseguir trazer alguém ao mundo sem nenhum suporte. Eu não possuía o emocional necessário, nem o financeiro, nem nada que poderia fazer aquele bebê ser saudável e feliz.

E apesar de ele nunca ter concordado com a minha decisão de não contar para Harry, um dia antes da data do aborto finalmente chegar, ele me contou o porquê de manter segredo, mesmo podendo ir até ele.

- Eu acho que se você realmente pretende abortar, Lou... É melhor mesmo que não conte para o seu namorado. - O Horan me olhou nos olhos quando disse aquilo e compreendeu, de forma bem correta, que meu silêncio pasmo era sinal de que ele deveria elaborar melhor o que queria dizer com aquilo. - Eu acho que sua casa não vai mais ser um lugar saudável pra você viver depois que fizer esse aborto. Se seus pais ficaram em silêncio – na minha opinião – é porque eles querem que você escolha o que fazer com isso; quer dizer que eles não querem tomar parte nessa decisão e isso pode ser sinal de que vão te culpar se você abortar e se você não abortar também. Eles vão te culpar pela escolha. E se não tem como saber se o Harry vai ou não aceitar essa criança, o ideal é que você tenha para quem recorrer depois que tudo isso acabar. O ideal é que ele te acolha e eu acredito que pelo menos isso ele pretende fazer. Eu acredito de verdade que aquele homem gosta de você.

Antagonismo {l.s}Onde histórias criam vida. Descubra agora