{Capítulo 4}

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- Poderia ser pior!

Christopher falava no tom de voz mais confortador possível. Procurava não se mexer, pois de nada adiantava assustá-la ou deixa-la nervosa. Passariam as próximas horas juntos, e tê-la ali gritando o tempo todo não parecia uma boa ideia. Assim como não lhe agradava a possibilidade de vê-la irritada e autoritária outra vez.

- Pense nisso como uma aventura. - sugeriu.

- Um cruzeiro é uma aventura. Ficar presa em uma área de piscina, sem eletricidade e sem ar, não é exatamente um motivo pra ficar feliz e me divertir.

- Nós temos ar. Foi uma das melhorias nas quais o hotel investiu, usando parte da renda dos quartos.

- Está dizendo que nunca ninguém morreu em seu hotel?

Na verdade já haviam ocorrido mortes, sim: mas bons gerentes jamais falavam sobre esse tipo de estatística.

- Não de asfixia, devido á falta de ar condicionado. Já tivemos nossa cota de esposas descontentes, e uma ou duas pessoas deprimidas, mas nada causado pelo hotel.

- Isso é bom, ou o alto conceito vocês sofreriam as consequências.

- Não sob a minha supervisão.

Manter um alto conceito e a perfeição era uma das principais metas de Christopher. Os novos donos de Berkley estavam avaliando todos os aspectos do complexo. Reduzir as despesas com pessoal, demitindo funcionários desnecessários, era a primeira etapa. Como gerente do hotel, estava com a cabeça a prêmio. Um passo em falso, e voltaria a servir mesas nos restaurantes da cidade, coisa que fez durante anos.

Não, nada disso... Christopher havia trilhado um caminho, do trailer para suíte luxuosa, em 33 anos de vida. Não se permitiria voltar para a vida de uma refeição por dia e quatro camisas no armário. Estava mais velho, mais esperto. Mas qualquer erro seria inaceitável.

- Não consigo enxergar nem minha própria mão! - Dulce exclamou.

- Tecnicamente, isso não poderia afetar o conceito do hotel.

- É no mínimo estranho que, com tantas conveniências e benefícios, não possamos encontrar uma pessoa em todo o hotel para nos tirar daqui.

Quando Dulce resumia a situação a esses termos, parecia de fato ridícula.

- Culpa da tecnologia. É um novo sistema, ainda estamos trabalhando nas falhas.

- E elas, pelo visto, estão vencendo.

- Por isso que esta ala está fechada.

O fato de ter invadido o salão não parecia incomodá-la. Christopher estava disposto a descobrir a verdade sobre isso. Teria tempo suficiente.

De repente, ouviu um barulho de alguma coisa batendo na água.

- O que foi isso?

- Eu derrubei a toalha.

O que significa que estava com o corpo á mostra. Ótimo... A partir de então, Christopher não conseguia pensar em outra coisa.

- Os geradores estão ligados, devem manter as luzes de emergências nos locais essenciais, como elevadores, cassino, cozinha e alguns outros.

- Detesto ter de dizer isto, Christopher, mas a comida é a última das minhas preocupações.

Os olhos de Christopher tentavam se ajustar á escuridão. Só conseguiu enxergar sombras, mas logo recuperaria o foco. Até lá, não daria um passo, não precisava correr o risco de cair em uma das piscinas.

Encontro Às Escuras (VONDY ADAPTADA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora