12 - Canto de Oxum

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- Cansei de cochilar, quero passear. – Camila se aproximou dela com um sorriso lindo e lhe fez um carinho. – Podemos ir na casa de Santos Dummont? Rua Tereza? Palácio de Cristal?!

- Pisa no freio, mocinha, nós vamos a todos esses lugares, mas ainda temos mais um dia pra curtir Petrópolis, não precisamos nos apressar.

- Quero ir no Museu Imperial de noite, Mila.

- De noite é uma coisa, agora nós vamos a um lugar bem especial.

Camila piscou o olho e eu sorri, imaginando que tipo de lugar era esse que ela estava disposta a me mostrar. Sabia que aquela garota tinha muitos segredos, alguns que eu nem sonhava em descobrir, mas me sentia maravilhosa em perceber que Camila, aos poucos, abria as portas da sua vida pra mim.


Depois de vinte minutos de caminhada, com uma Sofia exausta pendurada nas minhas costas, chegamos a um espaço aberto e escutei o som de queda d'água. Camila parecia uma criança ansiosa, correndo um pouco mais na minha frente para chegar logo à água. O que tinha de tão especial em uma cachoeira? Sofia desceu das minhas costas e me deu a mão, tomando cuidado onde pisava. Quando enfim tive a visão, minha respiração parou. Era um lugar lindo, não tinha turistas tomando banho além de nós. Coloquei as mãos na água e a temperatura baixa me deu um leve arrepio.

- Esse lugar é muito bonito.

- É mesmo, nossa mamãe trazia a gente aqui, mas eu não lembro muito. – Sofia colocou a mochilinha em cima de uma pedra e olhou para Camila. – Mila, eu posso entrar na água agora?

- Pode sim, pequena, mas cuidado com as pedras e partes muito fundas.

Camila orientou sem olhar para Sofia, parecia ocupada mexendo em algumas coisas em uma bolsa que fez questão de trazer com todo cuidado. No caminho para a cachoeira, parou na floricultura e comprou várias rosas amarelas, deixando um perfume gostoso dentro do carro. Parecia preocupada que tudo estivesse no seu devido lugar antes de subir nas pedras para ficar atrás da queda d'água. Fiz menção em segui-la, mas Sofia me segurou pelo braço e me puxou para outro lado.

- Ela tem que ir sozinha, Lo, é uma coisa dela mesmo. Depois a Mila vai se encontrar com a gente na água.

- Só fiquei preocupada, ela parecia muito quieta quando foi pra lá.

Comentei com ela enquanto observava Camila tirando a roupa e deixando à mostra o corpo bronzeado em um biquíni amarelo. Quando eu poderia imaginar que estaria em Petrópolis, aproveitando uma cachoeira e tendo como colírio aquela garota de vinte anos que me tirava os pés do chão. Sofia passou correndo por mim vestindo um maiô branco e pulou na água sem me esperar, parecia acostumada com o lugar.

- Anda, Lauren, você vai se sentir muito bem assim que entrar nessa cachoeira.

A pequena mergulhou de novo e sumiu de vista, aparecendo um pouco mais longe da beira. Tirei a camisa e assim que me preparava para tirar o short, meus olhos se concentraram em Camila, que estava sentada atrás da queda d'água; ela tirou da bolsa as rosas e espalhou em volta do próprio corpo. Prendeu uma espécie de máscara de correntes douradas em frente ao rosto até embaixo do nariz e colocou um cordão de contas dourado no pescoço. Não consegui me mover, nem perguntar nada. Não parecia a mesma pessoa, ela estava envolvida por uma áurea diferente e quando abriu a boca para cantar segurando um espelho em frente ao rosto, meu coração acelerou.

- No alto da cachoeira

Tem uma gruta do lado de lá

Tem um banquinho de ouro, mamãe

Onde Oxum vai se sentar

..

Oxum, teu nome eu trago

Águas de MarçoWhere stories live. Discover now