Capítulo 73

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POVS Christopher

Passar a noite em claro não foi difícil tratando-se do fato de eu ter esperança de que ela reagisse a qualquer momento.

Olhei-me no espelho do retrovisor e vi como eu estava destruído. Estava com marcas fortes de olheiras e então dei partida.

Arturo me chamou na escola, estava acontecendo algo lá e sinceramente, depois do que houve com Dulce, eu não temia mais nada.

Comprei um café no meio do caminho e fui para o meu destino, seja lá qual fosse ele. De toda forma eu não me importava. Dulce não devia ser punida sozinha.

— Arturo? — Chamei-o da porta e ele me encarou.

Notei que com ele estava um senhor de terno preto segurando em suas mãos uma maleta de couro marrom.

— Entra Christopher. — Ele se levantou. — Ann, este é o senhor Stiler.

— Prazer. — Estendi minha mão sem entender muito o motivo.

— Senhor Stiler, esse é o Uckermann que o senhor estava procurando.

— Por que não se senta rapaz?

— O que está acontecendo? — Sentei-me, não por vontade, mas por estar demasiado cansado.

— O senhor é filho de Alexandra Von Uckermann e Victor Casillas Von Uckermann?

— Sim, por quê?

— Com licença senhor Huitron, está aqui a senhorita Von Uckermann, mando entrar? — A secretária perguntou, interrompendo a conversa.

— Claro.

Quando minha irmã entrou, também com cara de quem não estava entendendo nada, Arturo saiu. Segundo ele, era assunto particular nosso e ele não precisava estar presente. De certa forma senti alívio por não ser nada relacionado às fotos, mas por outro lado fiquei curioso. Por que alguém procuraria a minha irmã e a mim?

— Eu era advogado do senhor Von Uckermann.

— E?

— Infelizmente, faz alguns meses que ele não está mais entre nós e graças a um pedido dele, estou aqui.

— O senhor está dizendo que o nosso pai faleceu?

— Ele nunca foi nosso pai. Ele deixou a gente, ele apenas doou o espermatozoide.

— Desculpe meu irmão, ele é um pouco sensível com esse assunto. — As bochechas dela coraram levemente e eu revirei meus olhos. — Enfim, a que devemos a honra de sua presença.

— Bom, como deve ser de conhecimento de ambos, o senhor Victor possuía muitos bens. Pouco antes de ir a óbito, após um trágico acidente, ele me fez prometer que procuraria os dois quando completasse um ano de sua morte.

— Continue. — Cruzei meus braços e fixei meu olhar nele.

— Ele deixou um testamento, cujo a presença dos dois durante a leitura é inevitável.

— Eu não estou interessado em nenhum testamento, nunca precisei e não preciso de dinheiro daquele cara.

— Christopher!

— O que foi? Acha mesmo que duas décadas depois ele pode simplesmente mandar um advogado ler um testamento? Eu nunca quis o dinheiro, eu sempre quis um pai.

— Entendo. Ele deixou uma carta para os dois. — Ele abriu sua pasta marrom e retirou de lá um papel. — Darei um tempo aos dois e quando decidirem algo, podem entrar em contato comigo. Há coisas que precisamos discutir e que provavelmente estarão na carta.

Peguei o papel e dei uma passada de olho. Nem ao menos a carta era escrita a mão. — Deixarei meu cartão com vocês. Aguardarei contato.

Passei em casa para tomar um banho antes de voltar para o hospital. Contei a Arturo o que estava acontecendo e ele disse que tentaria ajudar em algo, mas não prometeu nada.

Enquanto sentia a água quente cair sobre meu corpo eu me recordava das palavras impressas naquela folha de papel.

"Queridos filhos, sei que fui falho com ambos e que nem todo pedido perdão do mundo seria suficiente para apagar o que fiz a vocês.

Não posso dizer que fui completamente apaixonado pela mãe de vocês, mas ela me fez bem durante o pouco tempo que estivemos juntos.

Sophia minha querida, eu sinto tanto tê-la deixado assim. Você era tão pequena e talvez não se lembre. O carinho da Alexandra por você, desde o início foi tão grande que eu me vi incapaz de tirá-la dela para traze-la de volta a uma vida de tanto maltrato. Eu era jovem e não fazia muita ideia de como resolver meus problemas. Eu não podia simplesmente ser dono da minha própria vida quando meus pais sempre foram autoridade em minha vida. Minha esposa sempre gritava com você e você sempre estava doente por culpa disso. Você foi fruto do meu primeiro amor e infelizmente sua mãe desapareceu quando você ainda estava na maternidade e meus pais nunca aceitaram você. Obrigaram-me a me casar com a filha de um sócio importante em sua empresa e a mesma era demasiado caprichosa.

Eu tentei ir embora com você e então conheci Alexandra. Você mal queria sair do lado dela em tão pouco tempo de convívio, então, depois disso veio meu filho.

Eu sei o quanto me odiou durante toda sua vida meu filho e eu sinto muito, muito mesmo por isto, mas, se eu tivesse tentado me aproximar de vocês, vocês sofreriam as consequências.

A sociedade é hipócrita, é mal e só querem se auto beneficiar. Não se importam com os demais.

Quando meus pais souberam da gravidez eles ameaçaram destruir a vida de sua mãe e eu não podia permitir isto então eu me afastei.

Sei que mesmo que eu use todas as palavras, jamais servirá de desculpa para isso. Eu fui fraco, fui covarde e deveria ter enfrentado meus pais para continuar ao lado de vocês.

Eu tive outra filha dois anos depois. Fruto de um casamento forçado e sem amor algum, mas ela também não tinha culpa de nada. Eu a amei desde o princípio e senti por ela o mesmo que senti por vocês dois quando nasceram.

Eu estive lá quando meu garotão nasceu, mesmo que sua mãe jamais soubesse disso. Eu olhava para você no berçário com tanto amor e tanta dor de não poder tocar você, sentir o seu cheiro, ouvir o seu choro.

Eu estive presente em suas apresentações escolares e em suas formaturas. Ah como eu tive orgulho quando os vi formando-se no colegial e anos depois na faculdade. Foi muito difícil não poder sair para dar-lhes um abraço e dizer o quão orgulhoso eu estava de vocês.

Eu gostaria muito que conhecessem a irmã de vocês. Anna é dócil e gentil e sei que acolherá vocês de bom grado. A mãe dela morreu faz alguns anos e eu tratei de fazê-la uma pessoa de bem. Contei a ela sobre vocês e ela me encorajou a escrever essa carta.

Gostaria que soubessem que eu sempre, sempre amei vocês, e sinto muito, muito mesmo.

Com amor, Victor"

As palavras ecoavam em minha cabeça. Eu tinha vontade de gritar e colocar para fora toda a pressão que estava sobre mim neste momento.

Apenas consegui tirar essa carta do meu pensamento quando esbarrei com uma garota no corredor do hospital.

— Desculpa!

Pedi e olhei a garota loira à minha frente. Seus olhos azuis estavam espantados e seu rosto estava pálido. Só quando ela saiu correndo me liguei de quem era. Fiquei na dúvida entre ir atrás dela ou correr até Dulce.

O que Bianca estaria fazendo ali? Pensei que a essa altura ela estivesse a milhas de distância dos Estados Unidos. 

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora