Capítulo 38

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- Será que você pode me dizer o que está acontecendo? - Ivalú perguntou assim que saímos da aula.

- Não está acontecendo nada. - Apertei meu livro entre os braços.

- Como nada Dulce? Você acha que eu não vi você chorando à noite? Vi como você olha para o Christopher, e sei que quase nem responde mais as mensagens dele.

- Não está acontecendo nada Iva. - Falei um pouco irritada.

- Vocês brigaram?

- Eu não quero falar sobre isso tá bom? - Apertei meus passo deixando-a para trás. Eu não queria que ninguém soubesse o que estava acontecendo, nem mesmo meus dois melhores amigos. Fiz Christopher prometer que não falaria com ninguém sobre meu problema, porque era apenas meu, e de mais ninguém. Já era o suficiente ver Christopher falar desse assunto, e ter meus amigos e futuramente meu pai falando disso não é algo que eu quero.

Tomei um banho demorado e depois me deitei ouvindo música.

Caí em um sono tão profundo que quando acordei, já era mais de três horas da manhã. O ruim é que eu não conseguiria dormir de novo.

Olhei Ivalú dormindo feito uma pedra, levantei e usando a luz apenas do meu celular para não acordá-la troquei de roupa, peguei um pacote de ruffles, um lata de refrigerante no frigobar, e saí do quarto.

Assim que cheguei na sala de TV no primeiro andar, liguei a TV e me sentei no sofá enquanto comia as batatas e tomava refrigerante.

Sorri sozinha imaginando o sermão que Christopher minha última refeição ter sido o almoço e então me senti mal novamente. Uma vontade imensa de chorar tomou conta de mim e quando menos esperava, meu rosto já estava enxarcado.

As palavras de Ivalú e Rodrigo sobre isso ser apenas de passagem ecoavam em minha cabeça sem que eu pudesse controlá-las. Juntamente com as de Christopher me perguntando como eu me via em alguns anos. Sozinha e sofrendo por um amor jamais superado. Essa seria a resposta ideal.

Era fato que eu teria que ir embora em menos de cinco meses, e que não poderia levá-lo comigo.

Jamais poderia cogitar a possibilidade de voltar ali algum dia. Morar nos estados unidos requer visto de trabalho, no meu caso, trabalho e estudo, pois eu ainda pretendia fazer minha tão sonhada graduação em Arquitetura. E mesmo que conseguisse o dinheiro para o visto, não teria dinheiro para manter a universidade e me sustentar. Sem contar que sem meu pai, eu não iria a lugar algum. O velho morreria só de pensar que eu pudesse viver assim tão longe dele.

As vezes que falo com ele pelo telefone percebo o quão triste ele está, embora tente transparecer felicidade por eu estar realizando um sonho. Sou tudo que ele tem, e ele é tudo pra mim. Seria egoísmo deixá-lo para trás pra ficar com Christopher.

Fiquei tão ocupada pensando em um modo de resolver essa história, pensando em algum ponto em comum que nem notei que o sol já tinha nascido. Olhei no relógio e vendo que faltava apenas uma hora e meia para a aula começar, voltei ao quarto. Ivalú estava no banho, então apenas arrumei minha roupa e fiquei esperando que ela saísse para que eu pudesse entrar.

- Ah! Aí está você. - Ela disse desenrolando uma toalha do cabelo. Não falei nada, e evitando encará-la para que ela não visse meus olhos inchados e vermelhos, entrei no banheiro. Tomei um banho demorado, deixando a água cair em minha cabeça e escorrer por meu corpo e quando saí eu a vi sentada na cama se maquiando.

- Porque não me acordou? Me deixou dormir todo esse tempo?

- Eu até tentei, mas você me xingou dizendo pra te deixar em paz. - Dulce franziu o cenho. - Acho que fez isso ainda dormindo. Que horas você acordou?

- Era mais ou menos três da manhã.

- E onde estava?

- Na sala comunal. - Dei de ombros indo até o guarda roupa pegar minha necesseire. Ivalú terminou de se arrumar e ficou esperando eu me maquiar. Passei uma maquiagem bem forte na intenção de tapar a olheira em meu rosto.

Assim que terminei, descemos para o refeitório, peguei um café reforçado e fui me sentar em silêncio. Ivalú me olhava com cara de espanto ao ver tanta coisa em minha bandeija.

- Dá pra parar de olhar assim?

- Você vai comer tudo isso?

- Estou com fome. Batatas às três horas da manhã não enche ninguém. - Dei de ombros tomando o primeiro gole de suco. Pedro chegou logo depois trazendo sua bandeija de café, com bem menos coisas que a minha. Ele também me olhou espantado, mas eu ignorei.

No final eu havia comido tudo, sem deixar sequer uma migalha de pão para trás e isso me deixou empaturrada. Assim que me levantei e dei a volta na cadeira topei com a garota que dava em cima de Christopher, fazendo o mesmo movimento que eu. Seus olhos desfilaram sobre mim de baixo a cima, e então, erguendo seu nariz, ela seguiu seu caminho.

- Eu vou ao banheiro. - Falei com Ivalú sentindo minha bexiga apertada, como se fosse explodir a qualquer momento.

- Eu te acompanho.

Colocamos a bandeija no compartimento e depois fomos para o banheiro. Assim que entrei no box e fechei a porta, ouvi vozes.

- Ai Bianca, ela é uma estúpida, não liga pra ela.

- Mas o professor come aquela garota com os olhos, ou você acha que não percebi.

- Você acha? Ela é só uma garotinha. Quantos anos ela tem? Quinze?

- A classe dela é de dezoito anos. - A voz dela saiu com repulsa. Então era esse o nome da vadia. Bianca. Me mantive dentro do box em silêncio.

- De qualquer forma você é muito mais bonita. Olhos azuis, cabelos loiros e um corpo de dar inveja em qualquer um. - Ela abafou uma risada. - Ela acha que está linda com aquele cabelo vermelho dela, mas só acha mesmo.

- Pelo menos ela consegue chamar a atenção do professor, mesmo sem querer né! Acha que se eu convidá-lo para ir tomar um sorvete, ele vai? - Senti um nó na garganta. Adoraria ver a cara dela quando Christopher dissesse não. Temi por un instante que Ivalú saísse do outro box, mas ela também se manteve imóvel.

- Sei lá. Coloca uma roupa bem sexy e faça isso quando ele estiver sozinho. Mostra seu decote, duvido que ele vá dizer não. - Agora eu não tinha mais dúvida de que essa tal Bianca era uma vadia. Assim que fui pra abrir a porta Ivalú chutou meu pé por debaixo do compartimento. Ela estava mais interessada em me vigiar que ouvir a conversa das duas.

- Vamos ver. Comprei uma blusa súper decotada no fim de semana, talvÊz eu possa usá-lo no acampamento. Fomos bem espertas ao colocar nosso nome na lista de inscrição da equipe dele. - Arregalei meus olhos. Como assim? Que lista? - E vou adorar passar o fim de semana inteiro ao lado dele, quem sabe não******algo a mais? - As vozes foram se afastando e quando tive a certeza que elas não estavam mais lá dentro abri a porta do box. Ivalú fez o mesmo, encarando através do espelho, uma Dulce de rosto tão vermelho que parecia que iria explodir a qualquer instante.

- Você é maluca? O que ía fazer?

- Eu não sei, mas por pouco eu não saio e desfiguro a cara dessa vadia.

- Dulce, você não entende que se essa garota descobrir que você está com ele, ela dá um fim em você num piscar de olhos? Já é o suficiente ver o Rodrigo por aí de olho em vocês dois, não acha? - Suspirei frustrada. Ivalú tinha razão, mas eu precisava ver logo essa maldita lista que ela havia mencionado.  

[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora