Capítulo 71

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— Onde você estava?

Ivalú perguntou quando entrou na sala junto com Pedro. Não respondi, apenas me encolhi no meu canto tentando não chorar.

Eu tentei, juro que tentei ficar ali, mas foi impossível. No meio da aula juntei minhas coisas e saí. Foi apenas o tempo de chegar no quarto e eu desabar com tudo. Era o fim, não tinha outro jeito. Mesmo que tentasse, eu jamais descobriria o autor das fotos e mesmo que chegasse a descobrir, seria tarde demais. Poderia ser qualquer um ali, mas quem?

Eu mal podia sentir o chão frio do banheiro em baixo de mim. Aconcheguei-me entre a pia e o vaso sanitário e abracei minhas próprias pernas. Meu pensamento estava a mil e eu nem percebi como tempo havia passado. Apenas me dei conta que fiquei bastante tempo ali quando Ivalú chegou no quarto.

— Dulce? Você está aí?

Mas eu não respondi. Eu não queria ver ninguém, falar com ninguém. Não havia condições para isto.

— Alô? — Ouvi-a falar. — Não, sou eu. Ela deixou o celular na cama. Não, só se estiver no banheiro, ainda não fui lá. — Houve uma pausa e então ela continuou. — Já disse que não sei por que ela saiu daquela forma. Alguma coisa deve ter acontecido, talvez estivesse indisposta, não sei. Ela acordou bem, não sei o que houve.

Abaixei a cabeça quando a porta se abriu. - Ann, ela está aqui, vou passar pra ela. — Ela me estendeu meu celular, mas eu sequer me movi. — Amiga, o que você tem? Por que está chorando? — quando percebeu que não teria resposta ela voltou a sair do banheiro enquanto falava com Christopher.

Já era noite quando me forçaram a tomar um calmante, mesmo assim não consegui dormir. Fechar os olhos era o mesmo que rever cada fotografia e cada palavra no bilhete anônimo, o máximo que eu consegui foi parar de chorar.

— Por que não fala comigo amiga? Estou tão preocupada contigo. Fizeram algo com você? Hein? — Ela se abaixou à minha frente.

— Ela não falou nada o dia todo? — Pedro perguntou e ela negou. — E o Christopher não faz ideia do que pode ter sido?

— Já disse que não. O cara me liga de dez em dez minutos para saber notícia dela Pedro, se soubesse de algo já teria tentado resolver.

— E você? Ela não te disse nada?

— Não Pedro, já disse. Ela estava bem quando acordou, seja lá o que aconteceu, foi depois que eu a deixei sozinha. Enfim, é melhor ir parra o seu quarto. Eu vou tomar um banho. Talvez se estiver sozinha e no escuro ela dorme um pouco, parece exausta.

Os olhares que enfrentei durante minha saída dali foram suspeitos por onde eu passava, mas não me importei que todos sussurrassem entre si enquanto me encaravam.

— Onde a senhorita vai desse jeito?

O porteiro perguntou, mas eu segui meu caminho. Caminhei pelas ruas vagas e escurar sem ter a certeza de onde estava indo e a única coisa que tinha em mãos eram as fotografias. Foi mais de meia hora caminhando sem saber onde eu estava.

— Ei.

Alguém segurou meu braço fazendo-me parar os passos.

— Está tudo bem? Está frio, porque está desse jeito aqui? Está sozinha?

Olhei para baixo e então percebi o motivo dos olhares e cochichos. Eu estava apenas com uma blusa que eu havia furtado no guarda-roupas de Christopher e meias.

— Como você se chama? Onde mora? — Ergui meus olhos e vi um homem de meia idade usando farda à minha frente. — Estou te seguindo já faz um tempo e você parece nem ter percebido. — Eu era incapaz de responder, mesmo que quisesse. — Tudo bem, eu vou levar você a um hospital e de lá descobrimos quem você é. Espero que não esteja usando drogas mocinha.

Eu só percebi que estava frio quando ele tirou seu casaco quentinho e colocou sobre meus ombros.

— Não é real, é só um sonho. — Sussurrei para mim mesma durante o trajeto até o hospital.

Eu queria acordar daquilo e não sabia como. Eu queria fazer com que aquelas palavras do bilhete parassem de ecoar em minha cabeça.

"Você tem uma semana, apenas uma semana para se afastar dele e da escola ou todos irão saber sobre vocês. T

Pode jogar as fotos fora, são apenas cópias delas e alguns vídeos também. "

E eu conseguia me visualizar chegando no refeitório e todos falando de mim enquanto recebiam fotos e vídeos íntimos meus com Christopher. Era o meu fim, eu estava arruinada. Logo essas fotos chegariam à diretoria e eu seria expulsa e Christopher perderia o emprego. E tudo por um romance no qual eu deveria ter renegado desde o princípio. Eu sabia dos riscos, isso não deveria ser surpresa alguma, mas estava tudo tão perfeito que cheguei a duvidar que algum dia alguém descobriria sobre nós.

Christopher e eu daríamos um jeito de vivermos juntos para sempre sem prejudicar ninguém, eu tinha certeza disso, mas agora eu tinha que ir embora ou ele seria prejudicado e isso eu não podia permitir. O meu maior problema é o que eu diria ao meu pai. Se ele sonhasse que isso estava acontecendo, ele enfartaria.



POV Christopher

— Como assim ela sumiu? — Pergunto alterado.

— Foram poucos minutos. O porteiro disse que ela saiu apenas com uma camisa e meias Christopher. Disse que ela parecia estar fora de si. — Ela respondeu do outro lado da linha.

Não pensei duas vezes antes de me vestir, pegar um conjunto de moletom meu e ir para o carro. Dulce estava sozinha na rua e quase despida.

— Eu vou atrás dela, qualquer coisa me liga.

Ela não tinha levado o telefone então ligar para ela não adiantaria. Dei voltas e voltas por vários quarteirões próximos à SE e nada de encontrá-la, então só me restava ir à delegacia. Se algo acontecesse a ela seria o estopim para mim. Eu me sentia totalmente responsável por ela.

— Pois não? Em que posso ajudá-lo?

A mulher à minha frente perguntou pacientemente.

— Minha namorada desapareceu. — Disse. Como isso era desesperador.

— Há quanto tempo?

— Eu não sei ao certo. Umas duas ou três horas.

— Senhor, para fazermos uma busca tem que ter 48 horas.

— A senhora não está entendendo. Ela desapareceu. Ela é uma intercambista e o estado em que se encontrava é perigoso.

— De que estado o senhor fala?

— Ela não estava bem. Ficou o dia todo chorando sem falar com ninguém e ninguém sabe o que houve. Eu já a procurei em vários lugares, mas nada dela.

— Eu vou mandar uma viatura averiguar. Pode me dar características de como ela saiu?

— Ela estava apenas com uma camisa e meias.

— Nossa! Nesse frio?

— Eu já disse, ela não estava bem. — Passei a mão pelo rosto. — Ela tem cabelos vermelhos e a pele clara.

— Teria uma foto?

— Sim. — Tirei a carteira do bolso e de lá uma foto dela que eu havia tirado sem que ela visse.

— Mc Garvey, é o Steele no telefone. Parece que encontrou uma garota e a levou para o hospital. Ele quer saber se alguém veio procurar por

— Dulce? — Perguntei curioso e aflito.

— Dulce Maria Saviñon. — O senhor de cabelos grisalhos completou.

Eu senti o sangue desvanecer de meu rosto. Se ele a levou para o hospital era porque algo estava errado.


[REVISÃO] Intercâmbio (Vondy)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora