1. Desastre na formatura

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16 de dezembro, sábado

Em primeiro lugar, quero deixar bem claro que nunca fui o tipo de garota que se estressasse com futilidades, mas naquele momento, minha vida estava infeliz, e o motivo era banal.

Minha 'infelicidade' começou com aquela chuva no final da tarde, a qual viera no clima certo, mas no dia totalmente errado. Era dia de formatura. Um momento tão bem esperado, mas com a chuva que faria os saltos enormes deslizarem no piso do salão. Por isso não gosto de saltos. Preferia ir de All Star. Ou ficar em casa mesmo, com uma panela de brigadeiro no colo, e todas as temporadas de Friends.

Até aí não tenho do que reclamar. Em casa, tudo corria muito bem, ou pelo menos assim aparentava. Comprei um vestido bonito, o qual dava volume a meu corpo magro (ele não sabia ainda que já havia chegado à puberdade). Eu só precisava fazer algo simples: maquiar-me, para ficar dentro do padrão aceitável, mas rápido para não me atrasar.

Ter que me arrumar – e sozinha -, foi tão incessante e cansativo, que acabei dormindo, jogada em minha cama, de uma forma não muito agradável para meu frágil corpo. Era pra ser apenas um cochilo. O sono da beleza ajuda mais do que toda maquiagem que eu conseguiria passar no meu rosto. Ou talvez, essa desculpa de gente preguiçosa não te convença.

Acordei tão lentamente que o desejo de me jogar mais uma vez na cama era maior. Meu pescoço doía muito. Sentei na beirada, massageando-o com a ponta dos dedos. Olhei para minhas mãos, franzindo o cenho. Eu tinha acabado de pintar as unhas quando peguei no sono. Parte do esmalte estava em minha camiseta do AC/DC, e meu coque se desmanchava sob meu ombro.

Não consegui localizar meu celular, mas pelo menos, o relógio estava na cadeira da escrivaninha, numa bagunça. Duvido que chegue ao salão a tempo. O quarto estava revirado, mas nunca fui o ser mais organizado do mundo.

Já havia passado da hora de ir para o salão onde a festa aconteceria, mas meus avós não estavam em casa. Saíram para um bingo no centro de uma cidade a quilômetros daqui. Sim, eu moro com meus avós! Deixo esse papo de família para depois.

Liguei para minha melhor amiga. Nós combinamos de irmos juntas, mas a beldade antes iria passar na casa do namorado.

O telefone tocou duas vezes antes da voz trêmula de Catarina atender:

- Oi, que... Querida! – ela gaguejava, e ouvi um baque de algo pesado sendo jogado no chão. Ela estava com pressa. Assim como eu também deveria estar.

- Que hora você vem me buscar? – perguntei, bocejando levemente.

- Te buscar? Mas você já não deveria estar no salão? – ela perguntou, e fez uma breve pausa. – Eu estou na casa do João. Vou me atrasar pra chegar.

Consultei novamente meu relógio, dessa vez, o posicionando na maneira correta, para não ver as horas ao contrário, novamente. Os algarismos romanos da tela só me mostravam uma coisa: eu estava bem mais do que atrasada. A cerimônia já havia começado.

Joguei o telefone no gancho, e terminei às pressas de me arrumar. Prendi meu cabelo no alto da cabeça em um coque mal feito. Corri até o quarto de minha avó, que ficava no final do corredor.

O vestido estava na cama. Era azul claro, com uma leve transparência na altura dos seios. Abotoei-o e peguei minha carteira. Não sabia o horário do ônibus, mas ele teria que passar logo. Calcei meu sapato mais confortável.

Saí pela porta da cozinha, que dava acesso ao corredor da garagem. Agarrei o primeiro guarda-chuva que vi, só desejando que as coisas não piorassem. Tranquei o portão atrás de mim. O ponto de ônibus fica exatamente na frente de casa, e o salão da festa faz esquina com a rodoviária. Então, pelos meus cálculos, desde que o ônibus não demore, não vou chegar lá parecendo uma filha de Poseidon que acabou de fazer uma visita ao papai.

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