Ace...?

— O que?

Ela está aqui.

Quem?

A menina...

— Que menina?

A humana...

Brie!

Ergui-me em um pulo, vasculhando os pensamentos, agora, parcialmente revirados de Nicholas. Ele esta mandando-a entrar, afirmando que moro lá. Esta pedindo para ela sentar-se em sua preciosa poltrona burgundy. Ela está à sua frente, as mãos trêmulas, o sorriso carregado de torpor. Suas botas sujas de neve fragmentaram o carpete do Nicholas; ele não gostou. Ela pediu perdão. Ele sorriu. Ela gesticulou para as paredes... Suas mãos subiram até a base do queixo. Seus olhos transmitem curiosidade cozinhando em fogo, excessivamente, alto. Ela chama meu nome. Pede por mim. Nicholas se tornara nervoso, ainda mais nervoso que antes. Ela está contando sobre o ataque... Ele me salvou. Ela disse olhando para o chão. Nicholas sorriu. É, Ace é um ótimo garoto.

Abri a porta.

— Ace... — Brie sussurrou para mim, se erguendo em um pulo, retirando os pequenos flocos brancos grudados em minha jaqueta, a qual ela agora veste com alegria.

— Oi... — minha voz surtiu como um sopro.

— Bom eu... Vou deixá-los a sós.

Não me deixe aqui! — implorei, fuzilado Nick com o olhar.

Controle-se e conserte isso!

Nicholas, por favor...

— Vou preparar um... Chocolate quente?

— Não precisa incomodar-se — Senhorita Mountain sorriu.

— Não há incomodo algum — Gostei da humana. E assim, Nicholas nos deixou sozinhos. Apenas Brie e eu. Seu sangue quente, meus pensamentos assustados, seus olhos cheios de lágrimas não derramadas e dúvidas não questionadas, meu tremular descarado, a humana e eu.

Pensando bem, a sala está completamente lotada.

— Como você fez aquilo? — a voz embargada, cheia de cristais pontudos de gelo, pareceram contar-lhe a garganta.

— Eu... Eu posso explicar!

Não, eu não posso explicar.

— Como? Você... Você voou para cima do lobo e você... Você me salvou — ela avançou, os braços abertos, mas eu me curvei para o lado.

O rosto de Brie esboçou uma feição confusa, mas parou centímetros de mim.

Seus olhos castanhos exibem finos traçados dourados, quase imperceptíveis, no entanto, agora, assim, tão abusivamente próximos dos meus, consigo ver muito mais que só traços dourados. Vejo uma mistura cósmica de uma noite primaveril e um dia gélido de inverno, pintados, juntos, à pinceladas generosas em todo o seu rosto.

— Quem é você, Ace? — tenho a leve impressão de já ter ouvido essa frase sair de seus lábios antes.

— Sou o Ace — falei entre uma confusão de respostas.

— Não, Ace. Você não é Ace. O que você fez... Aquilo não foi humano.

Instintivamente, dei dois curtos passos para trás. Mas Senhorita Mountain está concentrada em me seguir.

— Não?

Ela balançou a cabeça de um lado para o outro, silenciosamente.

— O que você é?

Diz que meus olhos não estão vermelhos!

— Sou um... Um demônio assassino de lobos? — levei a mão à tempora. O cheiro do lobo ainda salta de minhas roupas, eu ainda estou sem um dos tênis.

Brie sorriu, então seus lábios emitiram um estalido:

— Um demônio? — balancei a cabeça afirmativamente. Seus olhos se estreitaram. — Então você é a versão mais falsa de um demônio que eu já conheci. Nem os filmes conseguem criar versão pior.

Me senti mal. Meu estômago se tornou inquieto, meus pensamentos... Quão confusos eles podem ser?

— Demônios não salvam donzelas em perigo — ela disse, e meus estômago e pensamentos transformaram-se em verdadeiras estátuas. — É justamente o contrário; demônios põem donzelas em perigo.

— Ah — Ah? Que resposta ótima, Ace. Parabéns por ser um idiota completo!

— Você não é humano, não é?

— Sou — desviei meus olhos dos dela e varri o chão sob meus pés. — Bem, até onde eu sei, ainda há um humano irregular e austero se remexendo dentro de mim.

Ela sorriu. Seus olhos quase se fecharam por completo, transformando-se em uma linha fina e brilhante. Bochechas salientes se revelaram levemente ruborisadas — talvez de frio. Mas, porque ela fez isso?

— Diga a esse humano aí dentro de você que eu agradeço eternamente por ter me salvado lá atrás. Ah, e que eu queria vê-lo um pouco mais.

Foi minha vez de rir; sinto que não soou tão alegre quanto o sorriso da Brie.

— Ele será avisado, sim.

— Muitíssimo obrigada.

— Disponha...

Houve uma pausa, como se não tivéssemos decorado as próximas falas do roteiro.

— Quando irei te conhecer de verdade, Ace? Quando você me dirá a verdade?

Um silêncio perigoso instalou-se entre nós. Seus olhos encontraram os meus e os encararam com vigor. Não consigo entender o que ela quer como resposta. Ela quer que eu diga que sou um Serial Killer imortal? Que eu mato para saciar minha cede por sangue?

Por que a curiosidade a torna tão agridoce e... Sexy?

Felizmente, Nicholas notou que as coisas não corriam assim tão maravilhosamente bem:

— Alguém quer biscoitos?

Primavera & Chocolate (livro um)Where stories live. Discover now