Autismo e talentos

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Como já dissemos no decorrer do livro, as dificuldades que as pessoas com funcionamento autístico apresentam são


muitas, com variados níveis de comprometimento, que vão desde traços até a falta total de interação social. Mas algo de


extraordinário ocorre com algumas pessoas com autismo. Elas podem, ocasionalmente, sentar-se num piano e tocar


melodias magníficas, sem, contudo, terem freqüentado qualquer escola de música; fazer cálculos matemáticos como se


fossem os maiores gênios da humanidade; ou, ainda, começar a ler com 2 ou 3 anos, sem jamais terem ido à escola! O


autismo, ao mesmo tempo em que preocupa, exerce certo fascínio sobre a opinião pública.


Certas características típicas do autismo, como a obsessão por assuntos específicos, a atenção voltada a detalhes, o


hiperfoco e a capacidade de pesquisar um assunto exaustivamente, fazem com que algumas pessoas do espectro autista


sejam magníficas em determinados quesitos. Esse funcionamento mental propicia um hiperfuncionamento em áreas


específicas do cérebro, em detrimento de outras. O nosso cérebro funciona como um conjunto de sistemas integrados,


como se fosse uma orquestra, porém, em determinadas pessoas com autismo, a integração desses sistemas não é


completa. Dessa forma, certas regiões do cérebro podem funcionar sem a interferência de outras, resultando em talentos


e habilidades excepcionais que, normalmente, não vemos nas demais pessoas.


Segundo Darold Treffert, psiquiatra e pesquisador norte-americano, cerca de 10% das pessoas com autismo são


brilhantes em algumas tarefas. De forma geral, essas potencialidades espetaculares estão relacionadas às áreas de


memória, cálculos matemáticos, cálculos de calendários, desenhos, artes plásticas, música, literatura e outras de


conhecimentos gerais. Pessoas com tamanha capacidade também podem ser chamadas de savants (sábios, em francês).


Os savants são poucos no mundo e apresentam "ilhas" de conhecimento em um cérebro com tantas outras "falhas" ou


deficiências.


As pessoas costumam confundir indivíduos portadores de síndrome de Asperger, um quadro mais leve do espectro


autista, com gênios ou savants. Quem tem síndrome de Asperger geralmente apresenta interesses restritos, mas nem


sempre são brilhantes nesses interesses. Já os portadores da síndrome de Savant (os savants) apresentam, de maneira


extraordinária, no mínimo uma habilidade especial. Essas aptidões estão sempre acompanhadas de uma memória


prodigiosa, como se fosse uma memória de computador. Vale ressaltar que, embora a síndrome de Savant possa surgir


em conseqüência do autismo, somente uma minoria dos que têm um funcionamento mental autístico são de fato savants


ou gênios.


Embora não possamos afirmar, grandes personalidades do passado apresentavam características semelhantes ao do


espectro autista, tais como Leonardo da Vinci, Isaac Newton e Albert Einstein. Já no mundo da ficção científica, o

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