Capitulo XX - Ressentimento

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Londres, 31 de Outubro de 2010.

A luz do sol atravessou a janela, incomodando os olhos de Eros enquanto ele se acostumava com a claridade. Virou-se lentamente para o lado com as mãos no rosto. Por um momento, lembrou-se do quanto odiava ser acordado daquela maneira. Sentou-se na cama. Paul estava de pé ao seu lado com uma bandeja em mãos.

- Bom dia, Eros. - disse com um sorriso estampado no rosto. - Fiz waffles pro café da manhã. Não encontrei o fermento, então a massa não cresceu. Mas eu já provei e... - Havia algo de estranho em Paul. Quando estava nervoso com algo, ele gaguejava. Se ele estava falando tão rápido e sem gaguejar, só podia significar uma coisa: Ele estava escondendo algo e sabia que não conseguiria continuar por muito tempo.

- Vamos lá. - Eros encarou-o com firmeza. - Diga. - Paul ficou paralisado. O sorriso em seu rosto se desfez, dando lugar a expressão que acabaria com seu disfarce. - O que você está escondendo de mim?

- Bem, é... Eu. É que... - Eros arqueou uma das sobrancelhas. - Está bem. - Paul respirou fundo. - Julian veio aqui mais cedo.

- O que ele queria? Matar mais alguém? - Eros apanhou um dos waffles feitos por Paul. Bastou apenas uma mordida para ele devolver o pedaço restante para a bandeja. Estava horrível. Eros esforçara-se para não deixar transparecer a expressão de desagrado.

- Ele veio bem cedo, tipo, bem cedo mesmo. - Paul enfiou uma das mãos no bolso de trás da calça jeans e retirou um bilhete. - Ele não queria que ninguém o visse, então veio no meio da madrugada. - Entregou o bilhete à Eros e permaneceu em silencio enquanto o rapaz na cama passava os olhos sob as letras no papel. "Não lhe devo mais nada." dizia a mensagem escrita no bilhete.

- Ele colocou as portas que ele derrubara no lugar? - perguntou Eros com tom de desprezo.

- Na verdade, ele só derrubou uma, a outra, tecnicamente, foi eu. - respondeu Paul sentando-se ao lado de Eros na cama. Após alguns segundos de silencio. Paul arfou. - Sabe, eu nunca tive uma amizade como a entre você e o Julian. - Abaixou a cabeça. - Na verdade, eu nunca tive amigos. - Levantou o olhar para Eros. - Mas acho que em uma amizade deve existir "perdão". - Paul encarava Eros enquanto esperava alguma resposta ou reação.

- Ele tentou matar a Marie e você, e matou a Emily. - disse Eros secamente. - Isso não é algo que se possa ser perdoado, muito menos esquecido facilmente.

- Ele tentou matar a mim e Marie. - continuou Paul. - Mas não conseguiu e quanto a Emily, foi um acidente e... Ela está viva.

- Quando eu tinha a sua idade... - disse Eros levantando-se da cama. - ... Eu também pensava que as pessoas poderiam ser perdoadas. - Paul acompanhava as palavras vindas da boca de Eros com atenção. - Porque no fundo, bem no fundo, eu acreditava que elas eram boas. - Eros parou diante da porta, com a mão na maçaneta. - As pessoas não se importam em fazer as coisas ruins, justamente por esse motivo. Elas sabem que podem ser perdoadas. - Eros girou a maçaneta e virou-se em direção a Paul ainda sentado na cama. - Se você ou Marie tivessem morrido, perdoar o Julian traria vocês de volta?

Paul acompanhou Eros pelo corredor até chegarem à escada em silencio. O rapaz de cabelos loiros paralisou por um instante. Fragmentos de imagens formavam-se em sua mente como um quebra-cabeças. Ele podia ver o seu corpo caído a poucos metros de onde ele estava. Franziu o cenho. Virou-se para a escada e colocou-se a descer os degraus. Ao descer o ultimo degrau, novos fragmentos surgiam, dessa vez, acompanhados por diálogos. "Samantha?" "Esperava por você" "Me diga como" "Esse lugar distorce as coisas ditas na realidade". Paul afastou-se de Eros e parou próximo à estatua do anjo.

- Paul? - Eros começava a juntar as peças que o fariam lembrar do que acontecera enquanto estava desacordado. Ele vira Samantha. Ela estava exatamente no mesmo lugar onde Paul se encontrava naquele momento. "Para que me ajude, você terá que interpretar os enigmas escondidos aqui." - Olhe para frente e me diga o que você vê.

- Um sofá, uma poltrona, janelas e, agora, uma porta. - respondeu sem entender qual era o propósito daquela pergunta. Lembrou-se que não havia porta onde ele encontrara Samantha.

- O porão. - a palavra cintilava na mente de Eros como uma lampada. Caminhou em direção à estatua do anjo. Com apenas um movimento, empurrou a espada que o anjo segurava, que funcionava como uma alavanca para abrir uma porta no assoalho. Paul arregalou os olhos. Nunca imaginara que aquela casa teria uma passagem secreta. Acompanhou Eros pelos degraus que levavam ao comodo, até então, desconhecido para ele. - Paul, volte lá em cima e encontre uma lanterna. - ordenou Eros. - Rápido!

Não demorou muito para que o garoto de cabelos cacheados voltasse ao porão acompanhado de uma lanterna. Eros apanhou-a e usou para iluminar aquele comodo escuro e estreito. Não havia nada de diferente desde a ultima vez que estivera ali com Julian. A sua frente, havia a mesma mesa empoeirada com os livros cobertos de teias de aranha. Ao virar-se para o lado, notou algo que não percebera da primeira vez. A parede com a tinta descascada azul. "Luz azul".

A luz azul se referia a cor da parede, mas não havia mais nada ali naquele lugar que pudesse ajudar Eros a encontrar um forma de trazer Samantha de volta a vida antes que as Massas Negras a fizessem desaparecer para sempre, caindo no esquecimento. "Droga! Outro enigma!" pensou Eros antes de dar um murro contra a parede. Alguma coisa naquele cômodo estaria relacionada ao "esquecimento" de Samantha.

O sentimento de inutilidade tomava conta de Eros. Tudo que ele queria eram respostas e para tê-las, ele teria que trazer Samantha de volta a vida, e tudo o que ele tinha que fazer era encontrar aquele "maldito livro", como ele se referia em sua mente, mas tudo o que encontrara era apenas uma parede fria, uma mesa empoeirada e livros velhos. Incapaz de pensar em outra coisa além da frustração por não ter encontrado a resposta do enigma deixado por Samantha, Eros não percebeu algo no momento em que deu um murro contra a parede. O som. Paul, com seus sentidos recém aguçados conseguiu perceber o som do impacto da mão de Eros contra a parede. Era um som oco. Era uma parede oca. Ele sentia que o que quer que fosse que Eros procurava, estaria atrás daquela parede. Mas se algo que precisava ser tão bem escondido, não deveria ser encontrado, a menos que fosse por uma boa razão. Paul adoraria saber qual era, mesmo que isso significasse ter que não contar para Eros.


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