Capitulo XVI - A Fome

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Pouco depois do fim da tarde, Marie voltou para a casa da avó e como já era de se esperar, passou longos minutos ouvindo o sermão da Senhora D'Barthe. Mas como toda avó, após as reclamações sobre comportamento, ela preparou panquecas para a neta. Marie separou algumas em um Tupperware, enrolou em um pano de prato e saiu de casa antes que avó dê-se por falta do pano, do pote e principalmente, de Marie. Ela sabia que com os últimos acontecimentos na casa de Eros, ninguém estaria com cabeça para cozinhar e acabariam gastando dinheiro com algum fast food. Era o minimo que ela poderia fazer por eles.

O relógio marcava oito e meia da noite. Na cozinha, Eros e Paul estavam sentados a mesa. Eros aparentava estar bem melhor em relação há algumas horas atrás. Paul havia tomado banho e estava usando uma camiseta emprestada de Eros que ficara extremamente grande no corpo do garoto de cabelos cacheados.

Marie já havia comido em casa, portanto sentou-se a mesa enquanto os rapazes se serviam. Estavam faltando pessoas a mesa. Pensou Marie. Pelo o que ela sabia, Emily estava sem se alimentar desde que voltara a vida. A única coisa da qual ela se alimentava era do sofrimento de Julian durante as "sessões" de tortura que ela o expunha. Isso a deixava preocupada. Sombras. Era isso que as sombras faziam com aqueles que enganavam a morte. Intensificavam os sentimentos e os pensamentos que a pessoa tinha antes de quase morrer. Emily sempre nutrira uma relação de amor e ódio para com Julian, e o fato dele tê-la matado, transformou esses sentimentos em uma especie de sadismo. Ela estava sentindo prazer em causar dor e sofrimento a Julian.

Em menos de dez minutos, Paul havia devorado mais da metade da travessa e se não fosse por Eros, teria devorado o resto. Quando o assunto era panquecas, as feitas pela avó de Marie, não tinha pra ninguém. Eram únicas e em sua receita havia aquilo que todas pessoas que cozinham com amor chamam de "ingrediente especial" e que nunca revelam para ninguém.

Quando terminaram de comer, Marie se propôs a lavar a louça, mas Paul sentiu-se na obrigação de assumir o trabalho como forma de agradecer a hospitalidade e levantou da cadeira antes dela. Ele levaria um tempo para se acostumar ali, mas sentia que somente aquelas pessoas pareciam entende-lo sem julga-lo, exceto por Emily, pelo fato dela parecer saber algo sobre ele que nem mesmo ele sabia.

Julian permanecia amarrado em uma cadeira, mas dessa vez ele estava preso em um dos quartos da casa e com uma mordaça na boca para abafar os gritos dele. Emily colocou-se de pé de frente para ele. Ele estava com fome. A única coisa que colocara na boca nas ultimas horas era o sangue da mulher dos gatos, com o proposito de cura-lo e reiniciar o processo de tortura, varias e varias vezes. Emily tirou a mordaça da boca de Julian. Ele não gritou, muito menos disse algo. Permanecera em silencio. Estava exausto apesar de estar curado dos ferimentos causados por Emily. Ela deu a volta na cadeira e utilizando a lamina da flecha banhada em sangue seco, cortou a corda que amarrava os pés do caçador. Ele permanecia imóvel. Não tinha a intenção de fugir. Emily esperava alguma reação dele, mas não obteve nada. Cortou as cordas da mão de Julian. Ele a encarava com uma expressão sólida e impenetrável. Ela não conseguia saber o que se passava na mente dele. Talvez estivesse esperando um momento de distração para ataca-la ou simplesmente aprendera a "lição" por tê-la matado.

Emily puxou-o pela gola da camiseta e o arremessou sobre a cama como um boneco de pano. Julian arfou, mas continuava em silencio. Ela caminhou em direção a cama. Subiu no colchão, caminhando de quatro sobre o corpo do caçador, enquanto farejava cada parte dele, desde o sangue seco impregnado nas roupas rasgadas pela lamina da flecha, até os últimos vestígios do perfume misturado ao seu suor. Quando Emily chegou próximo de seu pescoço, ele virou o rosto para o lado. Emily ronronou como um gato enquanto esfregava o nariz no pescoço de Julian. As unhas da garota afundavam nos braços do rapaz. Ele continuava com o rosto virado de lado. Num único movimento, tão rápido que nem mesmo as novas habilidades de Emily seriam capazes de fazer com tal agilidade, Julian escapou de Emily rolando na cama e parando em cima do corpo dela. Com suas mãos prendendo os pulsos dela na cabeceira da cama. Jogou todo o peso de seu corpo sobre o dela.

- Seu jogo doentio acaba agora, Emily! - exclamou ele, respingando gotículas de saliva de sua boca no rosto da garota. - Eu merecia sua vingança, agora eu mereço minha liberdade! - Emily deu um sorriso no canto da boca. Ela estava gostando daquilo. O calor entre seus corpos, a força com que ele pressionava seus pulsos. A respiração ofegante dos dois. Ela o desejava. Toda a raiva que sentira até aquele momento, transformara-se em desejo. - Onde estão minhas coisas? - chacoalhou-a. Ela exibiu os dentes. Ela sentia prazer em vê-lo nervoso. Olhou para o guarda-roupa. Ela havia guardado as coisas de Julian lá dentro. Ele pulou da cama e caminhou a passos firmes em direção as portas do móvel. Lá estava seu arco e o saco de flechas. Colocou-o nas costas. Olhou pela janela e viu o seu escuro e sem nuvens, o que permitia ver a lua crescente começar a se pôr. Quando criança, seu pai lhe ensinara a "ler" as horas de acordo com a posição da lua em suas diferentes fases. Se a lua crescente estava prestes a se pôr, significava que em poucas horas seria meia-noite. Julian queria caçar o lobo que aparecera fora da casa e faze-lo pagar pela morte do homem que estava dentro do celeiro. Era sua intenção desde o inicio, mas Emily retornara a vida e o fizera de prisioneiro, vitima de sua vingança pessoal, com direito à horas seguidas de tortura. Agora que ele conseguira sua liberdade, ele tinha um dever. Por mais que odiasse pensar, os "malditos negócios de família" o chamava.

- Por que tão sério, caçador? - perguntou Emily com um tom de deboche, passando uma das mãos entre as pernas por dentro da calça de couro preta e outra sobre um dos seios, numa tentativa em vão de causar alguma reação em Julian. - Foi divertido enquanto durou. - acrescentou enquanto sentava-se na cama com os braços apoiados nos joelhos dobrados. - Espero que isso não aconteça novamente. - Seus olhos assumiram uma expressão de inocência e ingenuidade. - Eu detestaria fazer tudo isso com você de novo. - Lagrimas formavam-se no canto dos olhos de Emily. Julian não conseguia entender as mudanças de humor da mulher dos gatos. De manhã era uma "juíza", a tarde tornara-se uma sádica e agora uma emotiva que tentava provar o quanto estava arrependida por tudo o que fizera a ele. Não havia tempo para entende-la. Ele tinha coisas mais importantes a fazer. Sem olhar para trás, ele saiu pela porta e ao fecha-la, ouviu o som do choro abafado de Emily no travesseiro. Julian caminhou pelo corredor até ouvir um grito estridente que vinha do lado de fora da casa que o fez parar. O lobo havia voltado.


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