Capítulo 53

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Os dias que se seguiram foram de bastante sol, porém pareciam nublados para mim. As horas avançaram com grande velocidade, contudo eu continuava do mesmo jeito. Tentava refletir, analisar possíveis saídas para a nova situação que eu estava enfrentando.

Minha vida, entretanto, parecia ter dado uma pausa, e eu me limitava apenas a esperar. Tive que aguardar o desenrolar dos últimos acontecimentos para poder decidir qual a direção tomar.

Primeiro, eu não agi, fui apenas guiada. Fernão procurou fazer de tudo para manter-me afastada da imprensa. Inclusive, hospedar-me em um hotel à beira mar do qual o governador era um dos principais sócios. Como patrão, ele poderia autorizar para os seguranças formarem praticamente um cerco a minha volta.

Desse modo, passei três dias isolada dentro de uma suíte num hotel de classe. Em outra ocasião, provavelmente eu já estaria bebendo um champanhe e aproveitando-me daquela situação. Tanto que quando Fernão me falou que iria me colocar naquele hotel, até havia me empolgado.

Ao tentar sair pela primeira vez, porém, fui barrada por um segurança. Mesmo sem declarar, o pai de Henrique tinha me colocado em um cárcere privado de luxo.

Logo após perceber aquela minha situação, ameacei Fernão para que ele me libertasse, ou entraria em contato com a imprensa. Meu ex-sogro retrucou, dizendo-me que ele havia aceitado em fazer acordos comigo por conta das provas que eu possuía contra ele, porém eu deveria seguir as suas regras para concretizarmos a negociação.

Mais uma vez, resolvi colocar-me numa posição passiva, e acabei concordando. Estava, porém, apenas recolhendo-me por hora, para juntar os cacos de meus planos e pensar em uma forma de me livrar daquela complicação.

Fiquei, portanto, obedecendo ao meu ex-sogro-amante, por enquanto. E segui, claro, as orientações dos advogados de Fernão nos depoimentos iniciais a polícia.

Ainda, seria mais vantajoso seguir o que ele dizia. Se ele realmente cumprisse sua parte naquele acordo, em pouco tempo eu ganharia um passaporte falso para a Europa e seria sustentada com uma generosa mesada do meu ex-sogro. Decidi, então, ficar naquele hotel, aguardando.

Logo, não presenciei o enterro de Henrique e Hilda. De qualquer forma, Fernão proibiu-me de ir. Os motivos para ele impedir-me eram vários. O principal era de continuar mantendo-me longe do alcance da imprensa.

Também havia Maria Cecília, que provavelmente faria um escândalo de proporções épicas na frente de todos ao me ver perto do caixão da mãe e do irmão.

De fato, Fernão e eu estávamos nas mãos um do outro. Eu detinha um dossiê completo sobre aquele homem. Já ele usava todo o seu poder para manter no anonimato a ex-namorada do filho.

O tempo, contudo, não ficaria muito a nosso favor. Em um caso tão famoso quanto esse, dificilmente ele me manteria longe das câmeras para sempre. Em breve, alguma foto minha iria vazar.

Eu seria revelada, portanto, como Íris Fernandes, uma moça misteriosa com um relacionamento conturbado com o filho do governador. Também não demoraria para que aqueles que sabem de minha verdadeira identidade me reconhecessem nos veículos de comunicação.

Bastaria alguma fofoca ou uma meia dúzia de telefonemas para ser divulgado aos quatro cantos a verdadeira Pilar Correia da Silva. Depois disso, não tardaria para os chacais da imprensa seguirem os meus rastros, desatando e expondo a trama tecida por mim com tanto esmero nos últimos meses.

Talvez, seguir o plano de Fernão fosse realmente a minha última chance de escapar de tudo aquilo.

Era o início do terceiro dia, e eu permanecia sozinha com meus pensamentos. Estava de frente para uma janela de persianas fechadas. Coloquei meus dedos entre a cortina, abrindo de leve para tentar dar uma espiada na rua.

Lá embaixo no calçadão, vi um pequeno grupo de cinco indivíduos com câmeras profissionais penduradas no pescoço. Pelo visto, nem todo o dinheiro e poder de Fernão, dessa vez, conseguiu mantê-los afastados por muito tempo.

Ouvi um bipe do meu celular. Com aquele pequeno som ecoando pelo quarto, revirei os olhos, imaginando que Cláudio Barros ainda estava tentando falar comigo. Nos últimos dias, inclusive, aquele senhor passou a me telefonar de modo incessante, por motivos óbvios.

Por enquanto, ele prometia não revelar o meu envolvimento direto, pois ainda não era de conhecimento público o rosto da namorada de Henrique. Eu deveria, em troca, fornecer alguma informação que comprometesse Fernão. O apresentador estava, portanto, coagindo-me.

Apesar de ainda querer manter contato com ele para futuras necessidades, procurava evitá-lo naqueles dias. Afinal, por mais que aquele apresentador de programas policiais fosse um aliado em comum contra Fernão, também era um integrante de imprensa louco por audiência.

Logo, Barros poderia estar mentindo para mim, usando-me. Depois que eu fornecesse o que ele queria, poderia muito bem me desmascarar em seu programa de TV, destruindo a minha possibilidade de fuga.

Voltei para cama, onde o meu celular estava largado. Olhei para a tela do telefone, e vi uma notificação de Fernão. Finalmente, chegava a hora. Após esperar por três dias o meu ex-sogro agir, aquele era o momento de iniciarmos as negociações.

De acordo com a mensagem, ele me esperava em uma hora no escritório do hotel. Estaria na presença de seus advogados, para conseguirmos fechar um acordo. Coloquei a mão no peito ao ler que o passaporte e o dinheiro estariam me esperando naquele encontro.

Levantei-me para me preparar, pois Fernão também me avisara que eu viajaria ainda naquele dia. Deveria, portanto, deixar as minhas malas prontas, pois um funcionário do hotel se encarregaria de colocá-las no carro que me levaria de imediato ao aeroporto.

Enquanto abria a porta do guarda-roupas daquele quarto de hotel, sorria. Meu coração estava disparado, fazendo-se ouvir no silêncio daquela suíte.

A ansiedade crescia como um frio em meu estômago, subindo na forma de um entrave em minha garganta. Aquela era uma das raríssimas vezes que sensações como essas me tomavam.

Saí do quarto. Comigo, apenas uma bolsa com meus pertences mais importantes. Apertei o botão do elevador. Sozinha, naquele corredor de hotel, eu apenas esperava. Esperava pelo momento que enfim terminaria aquela história.

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