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Você devia ter ido com ele.

Minha mãe me deu xícara com um dedo enfaixado. Ela usava uma touca branca com rendas na bainha, com seu nome bordado bem no topo. Ela e a nossa vizinha abriram uma página na internet e agora faziam bolos confeitados, assim... do dia para noite os pedidos começaram a chegar. Eu agradeci a Deus por isso. Via que minha mãe estava melhor do que eu mesma.

- O quê? – aquela não era minha mãe. Não era ela que dizia aquilo.

- O moço do carro prata. Devia ter embarcado com ele.

Fiquei boquiaberta com aquela sugestão. Como ela podia saber.

- O que fez no dedo? – perguntei tentando ser rápida na resposta que daria.

- Ah, isso. Nada demais. Apenas um corte sem muita importância na espátula da batedeira.

E você. Volta ao trabalho hoje?

- É!

Ela continuou tirando ingredientes do armário enquanto eu enchia a xícara de café.

- Você é jovem. Têm força para enfrentar a vida. Devia ter aceitado o convite dele.

- Mãe... Como sabe?

- Esse pequeno detalhe se conforta, ele veio até aqui e pediu que eu falasse com você.

- O quê? Eu não acredito que ele fez isso.

- Filha, foi um ato desesperado dele. Não se zangue. – eu quase deixo uma lágrima cair.

Minha mãe parecia muito bem informada. Ela balançou a cabeça e aproximou-se da mesa.

- Eu teria feito exatamente o mesmo.

- Então, ele veio aqui mesmo? O que ele disse?

- Querida, ele só queria que você viesse com ele. Acho que perdeu uma grande chance; talvez fosse uma chance. Ele parece ser um grande homem. – parecia querer me ver longe dali. - Eu não me enganaria, nunca. – ela piscou para mim – Agora, trate de correr atrás da sua vida. – ela disse firme. – Quero que viva para você e não mais para nós.

- Mãe...

- Eu vou guardar as geleias que preparei. Alcance-me esses vidros atrás de você.

Naquele dia enquanto ele embarcava rumo a Paris, eu retornava ao trabalho. Com uma imensa tristeza dentro do peito. Se antes eu já me sentia estranha e vazia, agora tudo piorou. Júlio não estava lá. Enquanto seu irmão explica-me sobre o acidente que ocorreu com ele, sinto-me culpada por ter passado sete dias fora. Júlio deixou uma garrafa cair em cima do pé, levou uns dez pontos, tinham dois dias que acontecera, os dois são irmãos, Andreo tirou férias, então, estava dando uma força antes mesmo de acontecer, pois a tal menina havia deixado Júlio na mão.

- Falei para ele que uma hora isso ia acontecer. Ele gira aquela garrafa como se fosse malabarista. – digo.

- Ele deve ter achado que isso foi praga sua. – disse Andreo. - Ele falou de você pra mim, aliás, muitas vezes.

- Não. Ele falou isso? Falou que foi praga minha?

- Não...não foi isso que ele falou. É claro que não! Estou brincando. Brincadeira. Júlio jamais falaria isso aqui, de você. Conhecendo-a agora se entende perfeitamente. – coro as bochechas. Andreo era um rapaz alto, musculoso, devia ter uns vinte anos, no máximo, bem viril, cabelos cacheados e olhos cor de mel. Um típico surfista. Não sei o que ele tinha feito, mas o bar estava lotado de mulheres. A maioria dos rostos eram desconhecidos, alguns eu já tinha visto, outros nunca, e sabia que alguns eu não voltaria a ver nunca mais. Como o de John.

Como não te AmarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora