O Último Ichneoumon

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Os dez gigantes repousavam sentados ao lado do tridente que mantinha os alicerces da magia executada por Arafa em outrora, protegê-lo significaria o primeiro passo para a vitória definitiva contra as Aranhas de Gelo. Contudo, os gigantes eram criaturas de carne e osso e como tal possuíam necessidades fisiológicas, que vez ou outra eram maiores que seus oito metros de altura e prosperavam mais notavelmente que o seu líder.

─ Tô com fome – disse um dos gigantes. – Num guento mais, também preciso mijá.

─ Cala a boca e vai logo.

─ Mas o Arafa... – e foi interrompido: ─ O Arafa não tá aqui. E diabos, um a menos não vai fazer falta..

"Sair do circulo seria desobedecer Arafa ou morrer de fome", refletiu o gigante ao ouvir o conselho de seu companheiro. Então se levantou e caminhou em direção ao matagal até ser completamente engolido pelo verde. Os outros gigantes pensavam de outra forma: "saia do circulo para não morrer de fome, mas morrerá de outra forma quando Arafa descobrir a desobediência", porém, estavam tão famintos e necessitados a ponto de invejá-lo por tamanha coragem que permaneceram calados.

O inverno que começou dias atrás logo chegaria ao seu fim em mais alguns dias. As tempestades cessaram desde que as aracnídeas foram aprisionadas... O solo e as rochas já não estavam completamente encobertos pela neve.

No cair da tarde, uma criatura se aproximou audaciosamente do portão da Fortaleza dos Gigantes trazendo entre os dentes uma mão gigantesca. Tinha pelos brancos e espessos que percorriam da longa cauda até a lombar, onde nascia uma pelagem marrom e espetada que decorria até a crina; sua cabeça era triangular e estreita, seu focinho; comprido, e as quatro patas tinham enormes garras em formato de sabre. Era alto e forte como um mamute, mas a sua constituição corporal era semelhante ao de um astuto Leão da Montanha. Curiosamente uma pequena criatura agarrava-se em seu dorso, parcialmente coberta com os pelos esbranquiçados. Seria imperceptível caso seus cabelos longos azulados não a denunciassem.

Os gigantes levantaram-se abruptos, segurando firmemente as armas que outrora repousavam no colo. Permaneceram em circulo, incrédulos, e fitaram aquela elegante e peculiar criatura que se aproximava.

Os Ichneoumons eram cruéis mesmo em épocas de paz: caçavam e torturavam todas as outras criaturas por entretenimento, mas os Deuses Antigos não o puniam por serem os inimigos naturais dos dragões. "Por quê?!" As criaturas indagavam. "Os inimigos dos meus inimigos são meus amigos" respondia-lhes os Deuses Antigos. Até mesmo os Deuses Antigos temiam o fogo ardente dos dragões, mas os Ichneoumons não; cobriam-se de lama e invadiam suas gargantas, devorando-os por dentro. Eram invencíveis... Até o nascimento do dragão Persian, considerado a reencarnação de Maleficus. Nascera com três cabeças que possuíra três tipos de fogo: negro, azul e vermelho. Causou o extermínio dos Ichneoumon em pouco tempo.

Ironicamente, um Ichneoumon, provavelmente o último, estava ali, diante dos gigantes que quando crianças tanto ouviram suas historias de crueldade.

A besta deu mais alguns passos à frente enquanto mastigava a mão gigantesca entre os dentes. O sangue escorria por sobre a boca e jorrava no solo.

─ Croc! Croc! Croc! – ecoava o barulho dos ossos ao serem mastigados.

Um dos gigantes brandiu uma espada e avançou a passos largos, mas ao se aproximar o suficiente para desferir o primeiro golpe, o Ichneoumon pulou velozmente em seu peitoral e o derrubou. Em seguida, o abocanhou no pescoço, deixando um enorme buraco coberto de sangue e artérias à mostra. Quando mais dois gigantes avançaram, a besta saiu de cima do corpo e cavou o solo com suas patas dianteiras e depois o adentrou; sumiu e deixou para trás um fundo buraco-negro sob medida. Os gigantes investigaram cuidadosamente e nada viram além de negrume, mas logo após foram surpreendidos por trás: o Ichneoumon emergiu do solo, mordendo a perna de um dos gigantes e cortando-a como um alicate, e com a pata direita amputou uma das pernas do outro gigante. Os gigantes grunhiram e inevitavelmente desabaram.

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⏰ Last updated: Dec 15, 2017 ⏰

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As Criaturas da Floresta [Revisando]Where stories live. Discover now