As Aranhas de Gelo

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Se a noite era escura e cheia de terrores, os olhos das Crianças eram iluminados e audaciosos. Suas pupilas verticais lhe permitiram uma excelente visão noturna, porém, continuaram vulneráveis ao medo e ao frio e, principalmente, por aquilo que lhe causara.

O que aconteceu minutos atrás já não importava e todas as atenções foram direcionadas às cinzas do fogo apagado. As pequenas criaturinhas fitaram-se com expressões engraçadas e analisaram o ambiente ao redor com muita calma. Seus olhares foram direcionados aos arcos, lanças, espadas e punhais forjados com obsidiana que estavam a alguns metros de distância, em cima de uma rocha situada no inicio da clareira, logo na entrada do bosque. Com exceção de Venetian, todos estavam desarmados, mas a Criança de cabelo vermelho não teria chances sozinha.

Eles precisavam das armas para tentar deter as Aranhas de Gelo, pois as obsidianas foram forjadas com fogo de dragão - que é a criatura mágica mais poderosa da floresta e consequentemente detém uma magia superior às das Aranhas de Gelo. E eram as últimas armas restantes desde que a floresta Tenebris entrou em guerra, pois Dragões e Crianças da Floresta já não eram mais aliados. A fabricação dessas armas foram cessadas há muito tempo e perdê-las significaria uma grande desvantagem para os pequenos, mas lutar contra as Aranhas de Gelo naquele ambiente poderia significar uma morte imediata. Era um dilema e tanto... Mas nem todos escolheram o mesmo destino.

Glas e Viride avançaram desesperados em direção às armas. Pare eles, a sede insaciável pela batalha falou mais alto. Venetian e Melyn pularam de mãos dadas na forte correnteza do rio em suas costas.

Ao perceber que os outros não o seguiram, Venetian refletiu mais uma vez sobro o significado daquela guerra. Teve a certeza de que não era uma guerra por sobrevivência, era uma guerra por sede de sangue, uma guerra sem propósito que ele não estava mais disposto a lutar mesmo que isto significasse enfrentar, novamente, a fúria dos Antigos Deuses. Quando seus devaneios passaram, ele sentiu as correntezas açoitaram seu corpo e arrastá-lo rio abaixo. As duas crianças foram engolidas pelas ondulações e já não podiam ser avistadas. 

Enquanto isso, na clareira, Glas e Viride não conseguiram alcançar as armas a tempo. Eles estavam atirados no chão e um enorme obstáculo separava-os de seus preciosos objetos. Era um obstáculo realmente enorme, quatro vezes maior que eles. Suas oito pernas eram revestidas numa fina camada de gelo mais afiada que um fio de uma navalha. Seus pelos eram brancos como a neve e seus olhos eram vermelhos como o fogo. Embora a criatura fosse assustadora, as duas pequenas Crianças não pareciam temê-la. Levantaram devagar e a encararam com frieza. Recuar não era uma opção para elas.

– Viride... - disse Glas, a Criança de olhos azuis - Eu a distrairei com a minha Magia de Água e você pega as armas.

– Certo! – respondeu Viride, a Criança de olhos verdes.

Viride correu à extrema-direita, ao máximo que pôde, tentando fugir do alcançada Aranha. Glas, por sua vez, executou dois saltos para trás, chegando à margem do rio. Se mais um passo para trás, ele cairia. Ele queria a atenção da aranha, e conseguiu. Ela veio em sua direção com suas enormes patas enquanto seus monstruosos pedipalpos abriam e fechavam-se.

Water Spear! – Esbravejou Glas, levantando os braços. – Uma grande quantidade de água saiu do rio e formou, em cima das palmas de suas mãos, uma enorme lança. Com um movimento rápido, ele a arremessou contra a monstruosa criatura. Entretanto, quando a lança estava prestes a colidir-se, transformou-se em gelo e caiu pesadamente no chão. A aranha continuou marchando marchada em sua direção.

Grass Whipe! – Proferiu, Viride, a Criança de cabelos verdes. – Seus braços ficaram verdes e se esticaram como cipós e, como um chicote, eles foram arremessados em direção às armas. Ele alcançou uma espada e ao contrario de trazê-la para si, realizara um movimento em direção as oito pernas da aranha, atingindo quatro, que foram decepadas. Inevitavelmente a aranha se desequilibrou e Glas, oportunista e valente como é, correu em sua direção e alcançou a lança de gelo e sem pensar duas vezes enfiou-a na garganta da aracnoide. Ela contorceu-se por alguns segundos até dar-se por vencida e desabafar ali mesmo.

– Você demorou, Viride. –  Disse a criança de olhos e cabelos azuis, meio ofegante. – Viride? – Repetiu, procurando a criança de olhos e cabelos verdes. Não há avistava. De repente, um corpo debatendo-se e embalado dentro de várias camas de teia foi jogado aos seus pés e quando levantou a cabeça dezenas de outras Aranhas de Gelo cercavam toda a clareira.

Teias voaram de todos os lados e não demorou até que seu corpo fosse totalmente coberto também. Ambos os corpos, ainda debatendo-se, foram arrastados floresta à dentro pelos aracnoides..

Notas:

* Water Spear (Magia de Água): Lança de água.

* Grass Whipe (Magia de Planta): Chicote de grama.

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As Criaturas da Floresta [Revisando]Where stories live. Discover now