A Caçada

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As rupturas nos galhos e tropicares nos arbustos anunciaram uma frenética perseguição por entre a intensa e taciturna floresta Tenebris. Uma pequena e graciosa criatura saíra de um matagal obstruído e correra por entre os troncos e rochas em um bosque mais amplo, contudo, vez ou outra esbarrara em mais galhos e arbustos espinhosos. Em seu encalço, outra criatura, enorme, que esmagava e varria todos os obstáculos que a dividia entre sua presa. 

Dentre todas as lendas contadas sobre a assustadora e proibida Floresta Tenebris, A Caçada era a mais arcaica e afeiçoada por seus habitantes selvagens. Diferentemente de uma caçada ordinária, não havia uma definição de predador e presa porque Eles não caçavam somente por sobrevivência; caçavam também por triunfos e glórias, ambições e vinganças. Pela guerra. No final, o mais inteligente prevalecia.

De repente a pequena criatura desapareceu dos olhos do gigante. A Criança escondera-se dentro de uma velha arvore próxima, como se tivesse planejado e conhecesse habilmente a floresta, e a conhecia, nenhuma outra criatura da floresta a conhecia tão bem quanto As Crianças da Floresta.

O silêncio prosperou por alguns segundos... Não mais que isso. Mãos gigantes agarraram o tronco no qual a Criança ocultara-se, e com um mínimo esforço a árvore foi arrancado com raízes e tudo que a prendia. Em um movimento circular o gigante arremessou-a em direção ao Oeste que, para a infelicidade do pequeno, era onde um enorme penhasco o aguardava.

O tronco da arvore caiu vagarosamente penhasco à baixo até colidir-se com o solo e espedaçar-se completamente. Entre os pedaços e estilhaços da arvore havia o deplorável corpo da criança de bruços e estagnado, com seus braços e pernas invertidos e uma enorme poça de sangue ao seu redor. A queda não tivera piedade com seus ossos.

O chão estremece como se um relâmpago começara ali mesmo. O gigante aproximava-se.

─ Argh! Tu é fraco igual esquilo. – Enormes mãos agarraram o corpo da criança (ou o que restou dela).

O gigante observou cautelosamente o estado deplorável da criatura que estava em suas mãos; cabelos longos e avermelhados; pele parda e parcialmente esfolada por ferimentos; uma grande orelha e um buraco aonde era a outra - certamente fincada em algum espinho durante a perseguição de outrora. Seus olhos abriram-se lentamente... Olhos grandes de pupilas vermelhas e verticais, semelhantes à de felinos. Em vão, a criaturinha sacudiu-se tentando libertar-se das mãos do gigante.

─ Quieto! – O gigante resmungou. – Esquilos fracos não nos vencem. Hahaha! Somos maiores e mais pesados.

─ Os homens estão chegando. –A criança retrucou friamente.

O gigante o apertou e seus olhos lentamente saíram fora. Depois, o apertou ainda mais forte e a pequena criatura explodiu em sua mão. Ele observou as próprias mãos e deleitou-se com a sensação de sangue mágico que formigava em suas palmas. Contudo, o formigamento espalhou-se pelo restante de seu corpo e a sensação que uma vez era de deleite tornou-se medo.

─ Que isso? ─ Suas mãos e todo o seu corpo começaram a borbulhar e incendiar-se. Seu corpo queimava, mas não havia dor. Ele ajoelhou-se e fintou os céus enquanto era derretido ao nada. Sua vida esvaiu-se e ele desabou.

- Mortem! – Uma graciosa voz ecoou do além.

Os homens estão chegando. Sacrifícios serão necessários.

*Mortem: feitiço proibido criado pelas Crianças da Floresta. Em troca da vida, é selada a existência daquele que esteja manchado com o seu sangue.

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As Criaturas da Floresta [Revisando]Where stories live. Discover now