- Olá, Sam. – Pati me cumprimenta e vai largando sua bolsa pesada sobre o balcão.
- Olá, Pati.
- Demorou hoje? – questiona ela.
- Vim de ônibus, meu carro não está nada bem.
- Você e aquela sua lata velha.
A mulher atrás dela me encara, esperando que Pati saísse da frente para que ela pudesse sentar-se.
- Perdão. – diz ela chegando para o lado, eu atendo a mulher e ela continua tagarelando.
- Você nunca pensou em trocar de carro? Ah, sei lá. Comprar um carro popular. Que horas acaba seu expediente? – eu tinha acabado de chegar e ela já estava perguntando a que horas eu sairia. Aquela era a minha amiga sem noção nenhuma, mas ela era a minha melhor amiga.
A senhora pega o copo de bebida e sai, antes lança um olhar pragmático para Pati, eu abro um sorriso profissional e volto a encarar Pati que ainda fala sem parar.
- Pati... Estou tentando trabalhar. – murmurei, mas não me movi.
Ela olhou para mim e depois para Júlio.
- Tudo bem. Agora você só quer trabalhar. Acabei de chegar aqui e já me da às costas. – disse ela num tom melancólico.
O senhor de camisa listrada sentado na ponta esquerda do balcão me olhou e resmungou alguma coisa.
- É que pensei que as pessoas trabalhassem no seu local de trabalho. – ironizo, virei de lado e comecei a organizar os copos.
- Eu sei disso. Mas Júlio dá conta de tudo. E ele faz isso muito bem.
- Você devia estar em casa estudando. Não devia?
- Já estudei. Aliás, já sei tudo. Essa avaliação será moleza. – ela repetia isso todas as noites.
- Penso que deveria dedicar-se mais. O jornal está te dando uma chance de ouro.
No fundo eu sabia que ela não estava dando a mínima para essa oportunidade. O importante era garantir o seu salário e suas roupas de grifes. Ela trabalha no jornal a mais de cinco anos e agora terá a chance de virar repórter. Logo ela que é tão especuladora. Nos últimos anos ela tem me ajudado muito ao escutar todas minhas lamúrias. Confesso que eu não conseguiria fazer o mesmo por ela.
Pati troca um olhar suspeito com Júlio, eu ignorei de vez. Fecha a cara, e depois, olha culpada para o lado da mesa aonde está a pasta com os livros que nunca lê.
A noite estava tão cinzenta como a maioria das noites de inverno, todo mundo parece detestar noites assim, mas eu gosto. Precisava de algo para esquentar meu corpo, então fui até a pequena cozinha e enchi meu copo de vinho, olhei por cima do ombro e vi que ninguém podia ver o que eu estava fazendo, então virei o copo e voltei. Júlio retirava os copos vazios das mesas e eu fui fazer o mesmo. Ele não gostava de fazer este tipo de serviço, eu lhe dizia que podia deixar que eu faria, mas quando eu demorava a recolher ele mesmo fazia.
O bar não é nada moderno, as paredes são cobertas de pedra lascada, a decoração é de gosto duvidoso, fotos de pessoas desde a época sessenta estampavam a parede, até uma foto dos Beatles repousa sobre o mural. Gosto da harmonia que esse lugar me traz, tem cheiro de madeira e flores, mas também cheiro de umidade. Talvez seja o lugar mais procurado pelos turistas. Não que isso importasse. Toca todo tipo de música e algumas delas me trazem lembranças das quais ainda luto para esquecer, de certo modo meus pensamentos sempre acabam nele. Até que meus olhos ficam embargados. Estou prestes a derrubar uma lágrima quando Júlio chega mais perto.
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Como não te Amar
RomanceCOMO NÃO TE AMAR está disponível nas principais livrarias do Brasil. Samantha Hensell sabe de uma coisa: jamais deve deixar seu coração se apaixonar novamente. Há quatro anos, ela não mediu esforços para cuidar de sua mãe, mesmo que com isso tive...