39. Ângelo

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Ângelo Colombari

Um homem robusto e de feições fechadas. Sempre sério, e aparentava não se importar com a vida da filha – a única filha que teve a oportunidade de possuir -, mas ele dava importância para ela.

Mais do que ela gostaria de saber.

Ângelo era um homem de negócios, pelo que sua amada Belina sabia, viajando pelo Brasil todo para tratar de seus assuntos comerciais.

Embora ela nunca tenha se perguntado o que seriam aqueles assuntos comerciais, ele também nunca se dera ao trabalho de explicar.

Você não entenderia. Dizia ele. Ainda não está em idade de compreender.

E assim, ele driblava a filha com suas desculpas esfarrapadas. Não precisava fazer tanto esforço. Ela nem se dava ao trabalho de interceptá-lo com aquilo mesmo. Era como se não desse a mínima importância ao que o pai fazia, então ele mantinha em segredo seus negócios.

Belina não estava em idade de descobrir ainda que seu pai distante, de nome Ângelo Colombari, na realidade, era conhecido no purgatório todo como Angelus Mortis.

Aquele que faria o mais firme dentre os homens, tremer. Aquele cujo nome era pronunciado em sussurros entre os mais corajosos, e que tinha o poder em mãos de levar e deixar aqueles que bem entendessem.

Ele se sentia o próprio Deus, mas sem a empatia e o amor. Era apenas um falcífero escolhendo suas vítimas. Ele era apenas o Anjo da Morte enviado à Terra, com a obrigação de levar todas as almas cujo tempo de vida já haviam se extinguido.

Uma tarefa árdua, mas que ele cumpriu com grande afinco durante aqueles anos. Até que o emprego foi ficando maçante. E não era mais um simples trabalho, uma ocupação de tempo: os seus dias eram gastos levando as vidas de outras pessoas.

E já estava farto daquela condição.

Foi então, que ele descobriu que as almas que ceifava, não passavam por triagem nenhuma. Iam instantaneamente para o céu ou o inferno – onde era mais cabível à elas.

Mas, aqueles cuja vida ainda não deveria ter chegado ao fim, mas por alguma razão foi interrompida, essas sim, ficavam no plano material ainda.

Era como se as almas não pudessem ser levadas, pois ainda pertenciam à este mundo, e aqui, ficavam. Sem terem para onde irem. Sem rumo ou direção, apenas ficavam invisíveis aos vivos, mas no meio deles.

E mais: descobriu que aquelas almas poderiam ser úteis, pois estavam desorientadas, apenas esperando ordens de um superior.

Foi então, que Ângelo teve a ideia brilhante que mudaria totalmente os seus dias. Ele iria, aos poucos, fazer com que as pessoas morressem antes do tempo. Ele sempre foi muito persuasivo. Bastava um olhar seu para fazer com que a mais fechada das pessoas se abrisse, e lhe contasse seus segredos.

E ele, obviamente, usaria isso em seu favor: torturaria suas vítimas intimamente em sua psique, e faria com que fossem revelados os segredos mais íntimos que cada um possuía.

Ele usaria esse segredo como ponto de partida: suas vítimas se sentiriam tão culpadas pelo que fizeram, que acabariam por se suicidarem.

Era o plano perfeito. Ele tinha as artimanhas para tornar aquilo real, sendo necessário apenas que tivesse todo o cuidado para que as almas lhe obedecessem, assim que se livrassem de seus corpos.

E aquele, era o plano que ele levaria anos para executar. Afinal, ainda precisava da boa vontade de sua filha, em lhe conceder um neto.

Ela não seria capaz de compreender, ainda, mas ele sabia que um neto seria a cartada final para que o plano funcionasse minimamente de acordo com o planejado.

Não foi suicídio! Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon