33. O corpo no cofre

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DELEGADO ALMIR - SOLITUDE

Ele andava impassível pelo corredor estreito. Sua paciência estava a um ponto de ser exaurida de uma vez por todas as outras. Belina ainda não havia voltado para Solitude, e pelo que ele ouvira dizerem, ela continuaria longe por um bom tempo ainda.

Almir gostaria de ter de volta em seus braços a amada que fora obrigado a deixar, mas aquela situação estava prestes a acabar. Ele daria um fim naquela situação enrolada na qual eles estiveram impermeados.

- Senhor Almir! - o homem negro e de postura robusta o cumprimentou. - A que devo a honra?

- O de sempre! - Ele respondeu, mantendo sua postura ereta e sem sinais claros de satisfação. Sua fisionomia fechada fazia César nem questionar muito os motivos que levaram o principal delegado da cidade àquele lugar, daquela vez.

- Claro. - em um breve assentimento, César abriu a porta de ferro no final do corredor estreito, permitindo que o outro adentrasse. Não era necessário que lhe desse orientação sobre o que deveria ser feito, sendo que o homem sabia perfeitamente.

Almir entrava no segundo túnel que aquele lugar tinha. Era o lugar de segurança máxima no banco principal de Solitude. E seu imenso cofre submerso no subsolo do local, era apenas a garantia de que ninguém viria a descobrir o que ele estava prestes a fazer.

E quando descobrissem o corpo, ele já estaria longe dali, com a sua amada.

Havia deixado uma ordem com os policiais, para que estes tomassem conta da cidade na sua ausência. Ele entraria de cabeça em uma missão que não haveria volta. Não haveria. Para Almir.

Eles conheciam a história toda...

Almir parou na frente de seu grandioso cofre, e o abriu com a chave que ficava consigo. Ali dentro, conservado em uma imenso refrigerador, estava o corpo.

... e embora achassem uma crueldade sem tamanho da parte de Roberto, caçoar e provocar Almir daquela maneira...

Ele tirou completamente o corpo para fora, revelando a adaga que havia levado no coldre preso à cintura. Ela era compacta, cabendo em praticamente qualquer lugar.

...eles estavam se divertindo com a situação.

Sim, todos os seus comparsas sabiam a verdadeira história sobre o homem que agora, habitava o corpo que era pertencente ao Delegado de Solitude. O verdadeiro Almir havia sido um homem bondoso. Gaúcho de nascença, com um histórico exemplar de casos resolvidos, ele era um exemplo para Solitude.

Embora, sua vida tivesse sido ceifada pelo mesmo anjo da morte, que havia tirado a vida do homem que agora habitava seu corpo. Um espírito que morresse pelas causas naturais - ou acidentes e assassinatos - ia direto para o próximo plano.

A não ser que algum motivo ainda o prendesse à Terra, ele era exaurido dela. E quando uma pessoa cometia suicídio, mesmo que tivesse sido induzido ao ato, sua alma ainda ficaria vagando. Ou para assombrar, ou até perpetuar-se dentro do corpo de outrem.

E, aquele corpo que jazia na sua frente, era o corpo que lhe pertencera antes de ser levado pela morte.

... não estive com mais ninguém desde que Guilherme, meu ex, bom... não estou pronta para falar sobre o ele agora.

Guilherme encarava o próprio corpo. Aquele era o momento ideal de voltar para sua Belina. Eles haviam vivido uma história de amor tão linda, para deixar que a morte os afastasse um do outro.

Era certo que havia pouco tempo ela superara o luto. E que, uma vez mais, via-se imersa naquele estado, por ter perdido tão recentemente a melhor amiga que sempre lhe fora a pessoa que ela mais confiava.

Eu voltarei para você, meu amor! Guilherme pensava, empunhando a adaga na altura de seu peito.

Em um golpe rápido de ser manejado e sem volta, o corpo caiu desfalecido no chão. O poder da adaga era forte o suficiente para fazer o ritual de transição corporal, mas ele precisaria descansar, quando estivesse em seu verdadeiro corpo.

Não poderia se dar ao luxo de aparecer para sua amada com suas forças totalmente exauridas. Ele voltaria para ela, do mesmo modo como a havia deixado.

Seu corpo ainda conservado já esfriava, e era aquecido pelo fervor de sua alma.

Ele havia morrido com um simples tiro no peito que havia dado em si mesmo. Naquele instante, a única coisa que realmente importava era manter o ferimento encoberto.

O caixão que o velara havia sido fechado, para que ninguém visse seu corpo. E tudo aquilo fazia parte dos planos de Angelus Mortis para ele.

Sempre Angelus estava por trás de tudo o que acontecia.

Ele havia sido aquele que apresentou o pacto para Lara. Que induzira na mente dela a vontade de fazer aquele pacto, por causa de Pierre.

Angelus sabia perfeitamente como seduzir suas vítimas. E Lara havia sido uma das que ele conheceu bem cedo.

Afinal, ela era a melhor amiga de sua filha.

***

Nota: Gente, vou responder todos os comentários hoje, ;)

Obrigada por estarem acompanhando, continuem votando e comentando.

Até breve.

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