38. Guilherme... mas como?

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Jornal de Vitória dos Campos – Débora Piot

O caos que bagunça a Região Metropolitana de Solitude. Acaba de chegar à nossa central a trágica notícia de que cerca de 12 pessoas, cometeram suicídio nas últimas duas horas, em outras cidades da região. A onda de suicídios coletivos passou por Vitória dos Campos, Laguna Prado, General Rodrigues e Formosa Serreira.

As informações que chegam ao momento são de que as 12 outras vítimas são de Assis Lobato, Senhora Clara e Delta Vale. Os casos deixam os moradores de todo o país em choque, pensando em se tratar de uma seita.

Seriam esses jovens suicidas algozes de sua própria morte, ou vítimas de algum homicida?

- Muito bem, Débora! Os casos estão chocando o país, e os melhores delegados de toda a região estão sendo colocados no caso. Não deixem de conferir no próximo bloco, o assalto ao banco que... – o âncora do jornal anuncia o comercial, e eu volto a minha atenção ao homem que havia aparecido na minha frente.

- Guilherme... Mas como...? – Ainda estava trêmula pela aparição surpresa de Guilherme diante de mim. Ele foi meu namorado por tanto tempo, e já fazia um bom tempo desde que eu acreditei tê-lo perdido para sempre.

Aquilo não poderia ser real. Tive que apertar seus braços contra a finura de minhas mãos, deslizar as pontas de meus dedos em seu abdômen que permanecia exatamente o mesmo que eu me lembrava.

Era ele. Sem tirar, nem por. Com todos os detalhes que, inevitavelmente, o transformaram no homem perfeito para mim. Minha alma gêmea. Meu melhor amigo. O ombro que sempre precisei nos dias tristes. A alegria que sempre me incendiou a alma.

Era ele. Do jeito que sempre foi, me encarando com aquele olhar baixo e mordida no lábio. Do mesmo jeito como o vi pela primeira vez. Da mesma forma como me despedi dele pela última.

- É uma longa história, meu amor. – a forma como ele pronunciava aquelas palavras, e o toque de seus dedos roçando em minhas madeixas, só me permitiam notar que aquilo era sim muito real.

Ele se encontrava bem diante de meus olhos, tangível e real como bem era. Um homem de feições joviais, que mais parecia um garoto. Cabelos levantados e sempre tão bagunçados, olhos pequenos que me admiravam enigmaticamente, e lábios ressecados.

- Eu quero saber. De tudo. – reajo ao seu toque, tomando suas mãos às minhas. Havíamos nos sentado em uma mesa. Nós quatro. Eu. Meu namorado que havia ressurgido das cinzas. Pierre, que encarava à nós dois com um olhar de desconfiança. E Lara. Claro, ela não poderia deixar de estar ali.

Daquela vez, ela estava contida, embora sussurrasse algumas palavras em minha mente.

- Ele morreu, Bel. Morreu, morreu, morreu. Assim como eu. – soltou uma gargalhada tão estridente, que de forma nefasta, me invadiu a audição toda. Sua risada foi como um ricocheteio rigoroso dentro de minha mente, que me trouxe uma dor de cabeça instantânea.

Eu tentava controlar a mim mesma. Não iria dar atenção para ela. Não naquele momento. Guilherme não saberia como reagir ao que acontecia ali. Ninguém entenderia. Nem mesmo eu entendia.

- Logo você saberá! – Guilherme me respondeu, acariciando nervosamente meus dedos que ainda estavam entrelaçados entre os seus. – Tive sorte em ter lhe encontrado. Há tanto tempo espero por esse momento, minha doce Belina. – seus olhos voltaram-se em direção aos meus.

Seu olhar era tão terno que perfurava minha alma. Suas mãos gélidas ainda estavam envolvidas na minha, mas nem me importei com aquele frio mórbido que elas traziam. Eu gostava de estar com ele.

Não foi suicídio! Onde as histórias ganham vida. Descobre agora