Era impossível não se sentir assim. Ele era absolutamente incrível, com seu sorriso maroto de dentes perfeitos, seu cabelo meio bagunçado, seus músculos destacados, suas tatuagens misteriosas... Alto, forte, imponente, daquele tipo de cara que provavelmente sabe fazer uma garota perder a cabeça com um simples beijo. Ele deveria ter o beijo perfeito, ser perfeito na cama... Eu o queria para mim.

Seria uma completa imbecil se não o quisesse para mim.

Mas certamente toda a população feminina de Cambridge o queria também e eu não era páreo para tal concorrência.

Eu era só... Grace, a estranha que mal se lembrava de quem era. A estranha que mal sabia como tinha sido sua vida... Os pais mortos, nenhuma família, uma infância traumática... A estranha que constantemente era chamada por outro nome, por mais que insistisse se chamar Grace.

Quem diabos era Melissa, afinal?

Eu não poderia... Ou melhor, eu não tinha coragem de dizer a alguém que havia algo de muito errado. Tinha medo de que me chamassem de louca e me mandassem para o hospício mais próximo. Medo. Era melhor ficar calada. E tudo isso, na verdade, pareceu um bando de porcaria sem sentido porque Corey Sanders surgiu em minha vida. E eu me contentei em apenas olhá-lo por um tempo.

Foi um choque quando descobri que Corey tinha uma namorada. Ou muitas. Mas tinha uma fixa. Aquela ruiva sem graça que sorria para todo mundo como se tivesse a vida perfeita. Bem, ela tinha o namorado perfeito. E eu simplesmente não suportava o fato de que tinha que respirar o mesmo ar que ela, de que tinha que dividir o mesmo mundo que ela, e, pior, o mesmo homem. Ainda que ele jamais tenha, de fato, me notado até ali. Não notaria, eu descobriria mais tarde.

Eu me esgueirava pelos corredores, sempre que tinha um horário livre, para apenas observá-lo. Era um prazer culpado que eu não poderia evitar. Depois de um tempo, apenas decidi que não queria que ele soubesse da minha existência. A decepção seria ainda maior quando ele me dispensasse. Ele tinha qualquer mulher daquela Universidade aos seus pés, eu não tinha qualquer chance. Seria melhor viver minha paixão platônica, focar em Danny. Ele era tão devoto a mim, me amava tanto, me adorava, eu o havia conquistado... Ele faria qualquer coisa por mim. Qualquer coisa.

Durante alguns meses, fui capaz de conviver com minha decisão, de me contentar com toda a atenção que Danny estava disposto a despender em meu benefício. Mas não foi o bastante. Eu nunca estava saciada. Porque não era Danny quem eu queria me beijando, me abraçando, me tendo em sua cama à noite. Não. Era Corey Sanders.

Eu precisava de Corey Sanders.

Era uma necessidade física, não só emocional. Mas Barber Paay estava em meu caminho. Eu precisava tirá-la do meu caminho. Sem ela, Corey seria meu. Eu era uma pessoa irresistível. Danny não resistira a mim, seu melhor amigo certamente não resistiria também, eu seria capaz de conquistar os dois. Eu só não sabia como fazer... O que fazer...

Ao ponto em que meu amor me deixou... Insana. E eu descobri, em uma noite em que vi Barber Paay beijando um veterano qualquer do curso de Medicina atrás do prédio da biblioteca... Brian Peters, ou algo assim. A questão era que ela não amava Corey. Ela estava com outro... Ela estava traindo Corey... Eu só precisava que ele soubesse disso. Mas não houve jeito. Contei a Danny, Danny contou a ele... Ele não se importou. Ele simplesmente não se importou. Não havia outra saída...

Barber Paay tinha que morrer.

Só assim, somente assim, eu veria Corey livre das garras dela.

Levou um tempo para convencer Danny. Ele era um pouco fraco, afinal, mas o fato de que faria qualquer coisa por mim e para mim jamais pôde ser questionado. Ela está traindo seu melhor amigo, ela o está machucando, você não vê, Danny? Você não vê?, era o que eu dizia. Ele estava tão cego de amor por mim, que simplesmente tomou como verdade absoluta tudo o que eu disse.

Lobotomia (Livro II)Where stories live. Discover now