Dezesseis - Destino

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Um cruel milésimo de segundo.

Uma arma. O puxar de um gatilho. O estampido. A bala girando no ar e atingindo Corey.

A visão de Melissa ficou negra por um instante. Não havia mais nada ao seu redor. A gritaria dos clientes pacatos da confeitaria foi abafada por um zumbido mórbido que fez sua cabeça latejar. Seu único ponto de foco era Corey. E ele parecia tão surpreso e chocado quanto ela. Os olhos arregalados, como se lhe perguntasse "o que está acontecendo?". Talvez ainda não tivesse entendido o que acabara de acontecer. Melissa com certeza ainda estava processando tudo. E só voltou à realidade quando ouviu o grito autoritário do outro lado da cafeteria, provavelmente um policial. O atirador correu, o policial passou logo atrás, então Melissa finalmente tomou noção do que estava acontecendo de verdade.

Corey, ao mesmo tempo, pareceu enfim notar que algo estava errado. Ele cambaleou para o lado e se apoiou na mesa para manter o equilíbrio já precário. Apavorada, Melissa se aproximou, assim como os clientes da confeitaria.

-Precisamos levá-lo ao hospital!

-Graças a Deus é do outro lado da rua!

-Vamos, rápido, ele está sangrando!

Todos falaram ao mesmo tempo, era impossível raciocinar daquela maneira. Melissa tinha plena noção de como agir, só sentia dificuldades de comandar a seu cérebro. Corey não podia entrar naquele hospital, mas precisava ser tratado, precisava ter ideia do ferimento que havia sofrido, talvez fosse fatal... Não havia tempo para inseguranças, precisava agir. E foi o que fez.

-Afaste-se, pessoal, eu sou médica, vou cuidar dele! – Melissa gritou por cima do burburinho descontrolado.

O burburinho cessou e todas as atenções foram dirigidas a ela.

-Eu a ajudo a levá-lo ao hospital! – um homem alto e forte se ofereceu, prestativo e se aproximou de Corey.

Melissa negou prontamente:

-Não, está tudo bem, posso lidar com ele sozinha. – disse, e abriu caminho entre as pessoas.

-Está tudo bem? – perguntou a Corey em um sussurro baixo, tentando passar tranquilidade a ele e às pessoas ao redor.

Não poderiam sair dali como duas pessoas suspeitas, mas como um cara de bem atingido por um tiro inexplicável e uma médica plenamente competente para tratá-lo.

Em pensar que não queriam chamar atenção...

-Acho que sim, mas sinto dor em meu braço...

-Vamos, vou cuidar de você. – disse, então o abraçou pela cintura e o guiou na direção da porta.

O policial que saiu em perseguição do atirador ainda não havia retornado, e Melissa não tinha certeza se era algo bom ou ruim. A curiosidade a respeito do misterioso atirador a estava corroendo por dentro, queria saber o que estava acontecendo ali, qual o sentido de tudo aquilo, mas ao mesmo tempo tinha completa noção do perigo que era ter Corey e um policial no mesmo local.

Cruéis prioridades.

Melissa deu um jeito de apressar o passo quando decidiu que o risco de ter Corey perto de um policial, que poderia ou não reconhecê-lo, não valia a curiosidade de saber mais a respeito do atirador.

-O que foi isso? – Corey perguntou.

Ele segurava o ferimento em seu braço com força, como se tivesse medo de tirar a mão e ele se despedaçar no chão. Talvez não tivesse ideia do quanto a pressão o ajudaria a perder menos sangue.

Lobotomia (Livro II)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora